*MÚSICA: METAMORFOSE AMBULANTE, RAUL SEIXAS*
Já era hora. E já era tempo.
O lindo sol se punha de um amarelo e laranja forte, que se equivaliam e se misturavam numa dança de cores sobre os flocos de nuvens. E no horizonte, atrás das montanhas verdes, os tentáculos e resquícios de raios de um novo amanhã refletidos no rio doce e sinuoso. Aquele sol trazia a sensação do antigo junto da mudança que estava por vir.
Para muitos na cidade, ali seu último dia, vagueavam nas ruas de lápides e paralelepípedos aproveitando os últimos momentos. Mas, já se escutava o som dos galopes dos cavalos batendo e riscando as pedras frias da calçada, emitindo os sons das carroças e suas rodas de madeira sobre o chão. Isso para os mais ricos. Outros, mais pobres, descalços e pela falta de tudo passavam frio. Numa caminhada de destino incerto seus próprios pés sentiam as ranhuras que guardavam cada acontecimento da cidade.
Era necessário evacuar as velhas casas naquele fatídico dia, era necessário fazer o que se pudesse para que, ao fim, tudo se transcorresse da melhor maneira.
Uma nova e incerta jornada estava por começar desde os grandes tremores e os sopros dos vulcões que abalavam o vilarejo, tornando hostil a vivência na amada e ladrilhada vila. De fato, a natureza se opusera ao homem.
De obrigatório, a saída era inevitável e o sentimento de uma imensa saudade seguia e perpetuava a cada passo que os deixava mais distante de cada lar, de cada pessoa e de cada morador.
Na verdade, o sol que já fraco e tremulante deixava escapar a luz da lua minguante. As casas muitas vandalizadas pela força dos abalos da natureza pungente. O próprio rio que lá banhava parecia voraz e observando o que, também, estaria prestes a acontecer.
Muitos deixaram suas coisas pra traz, mas continuariam unidos no novo caminho que seguiriam para fora dos rodeados muros que fortaleciam e protegiam-nos das guerras e dos soldados das vilas rivais. E que, apesar disso tudo, não resistiram às forças mais naturais possíveis.
E "era tempo de união", pensaram meninas e meninos e os homens e as mulheres. Não era tempo de mais discussão, não era jaz a hora da morte. Na jornada incerta, o novo renasce e os pergaminhos, como tudo que há de existir, um dia se desfazem.
Não tinham escolha porque aquelas carroças já estalavam agora sobre o barro e pedras avulsas das ruas. Não tinham escolha aqueles menos aventurados que caminhavam lentamente para o renascimento de uma nova era.
Todos se fortaleciam conforme um laço de afinidade e de união surgia.
Da árvore mais alta a mais baixa era possível ver-se a comoção no olhar e o medo resquicioso do recomeçar. O choro profundo de um abandono profano e triste, inacreditável.
Mesmo os mais ricos e mesmo os mais pobres sabiam, contudo, no fundo daqueles corações acelerados, uns mais chorosos e uns mais vívidos, que quando chegassem ao destino distante e incerto daquela longa jornada, que já havia se iniciado na construção da cidade e das muralhas que a fortaleciam, as lembranças seriam mais fortes e mais imutáveis que tudo aquilo que um dia os fez seguirem caminho.
Sabiam também no fundo daqueles corações, conforme tomassem rumos diferentes, que os laços entre eles feitos e criados sobre as ruas de pedras desniveladas da feudal cidade jamais seriam esquecidos. Assim como, o tempo gasto junto de cada um daqueles peitos amigos seriam compartilhados com os corações das novas cidades que iriam construir e os novos corações que de qualquer modo, um dia, dali em diante, viriam a se unir.
No fundo do que é mais profundo, as mudanças sempre virão, e no fim do choro e sofrimento, mesmo que pelo abandono do que se tornou passado, elas vêm para melhor. E que apesar da distância de tais coraçõezinhos, a lembrança de cada momento sempre irá de ficar.
Um dos cidadãos, que caminhava agora sobre a grama fria dos campos de aveia, olhou para seu pulso e teve certeza que como num tique-taque pulsante dos relógios de corda o tempo passa, o futuro vem e a mudança surge. Alguns imploram para que o tempo passe mais devagar, enquanto outros lutam para que tudo mude.
Às vezes somos obrigados, às vezes devemos, às vezes queremos ou às vezes temos de seguir em frente. E você, vem comigo?

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Constante Mudança
Short StoryAs mudanças são constantes. É difícil acompanhá-las e ainda mais difícil impedi-las. Aqui, para você, um conto que expressa: "as mudanças sempre veem e sempre virão". *CAPÍTULO SOLO* Por: Gabriel Ganzo.