Sorte ou Revés

Cartolas e agulhas à mão

Cores, panos e frutas enfeitavam as ruas de pedra da movimentada vila. Diversas pessoas cantavam e dançavam animadamente. Até crianças corriam pelas ruas da cidade. Nami simplesmente não conseguia acreditar na rapidez com que paisagem havia se transformado.

-Tente se meter em perigo. -Law dissera em tom grave. Ele não conseguia deixar de pensar que qualquer pessoa poderia ser uma peça pregada pela ilha, uma armadilha esperando algum deslize e que aquilo tudo não passava de uma miragem ou uma alucinação causada por um gás tóxico ou planta venenosa.

-Eu sei me cuidar. -Nami retrucou, lançando um olhar feroz a ele. Não era tão fraca quanto ele pensava.

-Não disse que não sabe. -Mas ele nem se dignou a olha-la, continuava concentrado na multidão e no círculo que acabara de criar. Ela subitamente parou de caminhar, cruzou os braços e o encarou com uma sobrancelha arqueada. -Não espere um pedido de desculpas, Nami-ya. Já te vi lutando. Quando seu bando é ameaçado você se esconde atrás da primeira pessoa que vê. Nariz-ya consegue ser mais corajoso que você. -Ele não fazia ideia de como aquelas palavras machucavam, das memórias que despertavam. Isso despertou uma raiva que ela não sentia há muito tempo.

Um estalo alto ecoou pelo ar. Bepo tentou se posicionar entre os dois, mas já era tarde. A mão da navegadora atingiu em cheio o rosto de Law, que pela primeira vez olhou diretamente para ela. A navegadora tentou conter a vermelhidão de seu rosto e o tremor em suas mãos, mas não conseguia esconder os olhos marejados, lágrimas de pura raiva se formando. Sua antipatia pelo cirurgião apenas crescia a cada segundo que permanecia com ele.

-Luffy confia em você. É em consideração ao meu capitão que vou seguir como se fosse ele, mas não espere mais nada de mim. -Ela encarava Law com sangue nos olhos. Cada palavra era pronunciada lentamente, revelando cada gota de raiva acumulada até o momento. -Vou contar os segundos para me livrar de você e vou agradecer muito quando não precisar mais conviver com você. Não é tão bom quanto pensa. -Ela cuspiu essas últimas palavras deixando claro o desprezo que sentia por ele.

-Se fosse você, tomaria mais cuidado com o que digo. -Law sorriu maliciosamente, como se estivesse vendo a ruiva pela primeira vez. Seus olhos haviam deixado o tom amarelo para um negro profundo, quase animal. Ela não passava de um pequeno ratinho irado com um leão. Ele passou por Bepo, segurou o pescoço dela, jogando-a contra a parede de uma casa. A expressão de medo e pavor de Nami o divertia de uma forma fora do comum. Era assim que deveria ser, as pessoas deveriam temê-lo, afinal ele era um monstro. -Você deveria aprender a ter medo do escuro. -Ele apertou ainda mais seu pescoço. -Já tenho um navegador, não preciso de você. Você seria apenas um peso extra se não fosse minha garantia de aliança com o Chapéu de Palha-ya. Ele tem um coração grande demais, acolhe qualquer um em seu grupo, essa é sua maior fraqueza. Você. -Nami sentiu um frio em seu coração que foi se espalhando. E assim que se deu conta, seu coração flutuava em uma caixa transparente. -Será mais fácil cuidar de você assim. -Assim que ele a soltou, ela caiu de joelhos buscando por ar enquanto tentava massagear o pescoço para aliviar a dor.

Ela nunca quis eletrocutar alguém tanto quanto nesse exato momento. Já pensava em mil maneiras de tortura-lo e as colocaria em prática na primeira oportunidade que tivesse. Dentro ou fora daquela maldita ilha. Ela montou seu Clima-Tact, mas assim que se deu conta, ele já havia se perdido em meio à multidão deixando-a sozinha apenas com Bepo.

-Desculpe. -Bepo falou cabisbaixo. -O capitão não é assim. Ele costumava ser mais aberto a novos membros, costumava ser mais gentil. Mas desde que lutamos contra Kid...

-O que...? -Ela lembrava de quando se encontraram com Law a caminho de Dressrosa, ele realmente parecia mais calmo, menos odiável e quase amigável.