Capítulo único

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— Bom dia, meu príncipe! — Ao escutar a voz, continuei de olhos fechados. Estava completamente escondido por debaixo da coberta. — Eu sei que você está acordado, Stiles!
Ouvi a risada da mamãe e mordi a boca para prender meu próprio riso, lutando para ficar parado. Meus pés balançavam por vontade própria, estragando o disfarce. Queria parecer que ainda estava dormindo!
— Já vi que vou ter que castigar o príncipe logo no aniversário dele.
— Não! Não! — Berrei, ficando sentado em um pulo. — Já acordei!
— Tarde demais, aceite sua punição!
Ela começou a fazer cosquinha em mim, as mãos cutucando minhas costelas, fazendo com eu pulasse na cama e gritasse cada vez mais alto, esperneando e gargalhando ao ponto da barriga doer.
— Agora parece bem acordado, mocinho!
Concordei com cabeça, sem fôlego. Ela ria tanto quanto eu quando finalmente parou a cosquinha. Segurou meu rosto e me deu diversos beijos. Tentei me afastar, reclamei, porém ela não se importou com isso e continuou beijando minhas bochechas e testa.
— Eu não sei quem é mais criança. — A voz divertida do meu pai fez com que mamãe largasse meu rosto e olhasse para trás.
Papai estava parado na porta do meu quarto. Ele dava um sorriso gigantesco.
— Você sabe que não viveria sem mim. — Mamãe falou mostrando a língua para ele.
Como acontecia toda hora, meu pai se ajoelhou ao lado dela e a beijou. Fiz careta, me debrucei na cama e empurrei o peito dos dois com força. Odiava que eles se beijassem na minha frente!
Eles não se afastaram de jeito nenhum. Voltei a sentar na cama, cruzei os braços, fiz bico e encarei o teto para não ter que ver o beijo demorado. Esperei que eles acabassem.
— Não fica com ciúmes, Stiles. — Foi a primeira coisa que minha mãe falou ao se desgrudar de papai.
— Agora não vem falar comigo! — Respondi virando o rosto para a parede. Eles riram de mim.
— Se ficar irritado, como vamos dar o seu presente? Vai ser uma pena se eu tiver que devolver para a loja porque meu filho não quer falar comigo... — Contra a minha vontade, olhei para meu pai que falava com um sorriso provocador.
— Pode me dar e ir embora. — Disse erguendo as mãos na sua direção.
Meu pai revirou os olhos, ainda sorrindo e saiu do quarto por alguns instantes. Voltou logo em seguida com um embrulho grande e azul, minha cor preferida. Mamãe me encarava com expectativa.
— Me dá! — Exigi saindo da cama e tentando andar até meu pai. Mamãe ficou a minha frente e colocou a mão no meu peito.
— Antes vai ter que me mostrar a janelinha.
— Não, mãe. — Murmurei envergonhado, sentindo o rosto corar.
— Vamos, Stiles, mostra a janelinha e deixa eu tirar uma foto.
Primeiro fiz uma carranca, mas encarei a câmera que minha mãe segurava e dei um sorriso forçado, mostrando a falta do dente da frente. Eu odiava quando eles caiam e minha mãe achava a coisa mais fofa do mundo, enquanto eu só queria esconder de todos.
— Agora meu presente!
**
Suspirei com a lembrança do último aniversário com ela sã, Cláudia Stilinski, minha mãe.
Aquele dia foi inesquecível, meu aniversário de nove anos. O presente que ganhei foi um enorme boneco do Batman. Por mais que isso fizesse muito tempo, nunca tive coragem de jogar fora, por isso o boneco ficava guardado no fundo do armário e agora, estava nas minhas mãos.
Analisei os estragos que fiz no brinquedo durante os anos que usei. Eu corria com aquele boneco, gritando que era o Batman e deixava cair no chão milhares de vezes.
Naquele aniversário, meus pais fizeram uma festa para mim. Foram todos meus amigos da escola e pude comer todo tipo de besteira. Além de que Scott dormiu na minha casa e passamos boa parte da noite entretidos com o videogame.
Foi o último aniversário que eu comemorei. No ano seguinte, minha mãe começou a adoecer e acabei fazendo dez anos no quarto de hospital, ao lado dela. Quando fiz onze, ela já não lembrava que eu era seu filho e morreu na minha frente.
Eu estava sozinho no hospital, tentando fazê-la lembrar que era minha mãe. Ela achava que eu queria machucá-la, que queria matá-la e então, enquanto brigava comigo, seu coração parou.
Naquela noite, os enfermeiros precisaram amarrar minha mãe na cama para que ela não me atacasse. Eu estava sozinho porque meu pai teve em uma emergência na delegacia e me deixou com ela no hospital.
Aquele já estava sendo meu pior aniversário, eu já chorava muito e então, em instantes eu a perdi para sempre. Em um momento, eu olhava para minha mãe. Ela presa na maca, magra, o rosto abatido e então, no momento seguinte, os aparelhos ligados ao seu corpo começaram a apitar.
Vários enfermeiros entraram no quarto e me expulsaram de lá. Eu fiquei sozinho no corredor hospitalar, em um banco de espera, assustado e sem entender o que estava acontecendo. Melissa me encontrou ali, me abraçou muito forte e mandou que alguém ligasse para meu pai.
Desde daquele dia eu parei de comemorar meu aniversário. Não falo para ninguém qual é a data e passo sempre o dia sozinho com meu pai em casa ou no máximo, com Scott.
Não consigo mais pensar que estou fazendo mais um ano de vida. O único pensamento que me invade é que estou a mais um ano, sem minha mãe.
Eu não choro, não fico lamentando e nem vou visitá-la no cemitério. Porém, não consigo ficar feliz, não consigo criar ânimo para fazer alguma coisa. Simplesmente tenho vontade de ficar na cama o dia todo e não olhar para ninguém.
Hoje é meu aniversário de dezoito anos. Como em todos os anos, estou sentado na cama, olhando distraidamente para o boneco do Batman, sem coragem de ir comer alguma coisa.
Meu pai sempre insiste em fazer um café da manhã especial e eu sou obrigado a sorrir e passar pelo momento de constrangimento. Ele fica tentando esconder a saudade no olhar e eu finjo estar mais animado.
— Levanta a bunda magra dessa cama, Stilinski!
Estremeci de susto e arregalei os olhos ao reconhecer imediatamente aquela voz. Virei a cabeça na direção da porta e vi a garota entrando sem nenhuma cerimônia, como se não precisasse bater antes de entrar.
— Lydia? — O nome dela escapou da minha boca. Sentia meus lábios entreabertos de confusão.
Ela parou na frente da minha cama. A expressão irritada e impaciente me fez engolir em seco. Será que eu fiz alguma coisa errada e não consigo lembrar?
— Por que você ainda está sentado?
— O quê?
— Eu já mandei você levantar! — A voz autoritária me fez, novamente, engolir em seco.
Confuso, sem entender o motivo dela estar ali, levantei. Assim que fiquei de pé, a expressão impaciente dela se transformou. Um sorriso malicioso e satisfeito dominou a boca e os olhos verdes, intimidades, me analisaram.
Olhei para meu próprio corpo e percebi que ainda estava vestindo somente com uma boxer preta. Maldita hora que decidi não me vestir logo depois do banho!
Senti meu rosto esquentar de vergonha, porém sabia que seria pior demonstrar minha timidez. Lydia com certeza, aproveitaria a oportunidade para fazer eu ficar com mais vergonha se percebesse meu constrangimento.
— Como você entrou aqui?
— Seu pai me deixou entrar. — E aqueles olhos continuavam focados no meu corpo.
— Por que você veio? — Tentando distraí-la, para que parasse de me encarar, soltei outra pergunta.
— Porque é seu aniversário.
— Como você sabe?
Aquela afirmação me pegou desprevenido. Fiquei por alguns segundos a encarando com desconfiança e confusão. Lydia nunca tinha nem perguntado quando eu fazia aniversário. Nunca precisei esconder aquela data dela, porque ela jamais teve interesse em saber.
Quando percebi a dificuldade que ela teve para desviar os olhos do meu tronco, peguei um travesseiro da minha cama e coloquei na frente da cueca. Com o braço livre, abracei meu abdômen em uma tentativa de me esconder.
— Achou mesmo que ia conseguir esconder isso de mim?
A pergunta soou com duplo sentido para mim. Precisei de alguns segundos para ter a certeza de que ela não falava de esconder meu corpo, mas sim do meu aniversário.
Tive vontade de tirá-la do quarto para poder me vestir. No entanto, mesmo com as bochechas em chamas, sabia que era melhor enfrentar a timidez do que enfrentar Lydia Martin. Se eu falasse qualquer coisa, seria um homem morto.
— Achei?
Ela soltou um pequeno riso e revirou os olhos. Observei a saia curta que ela usava e como a blusa destacava o formato dos seios. Ver a beleza do seu corpo, fez com que eu ajeitasse melhor o travesseiro. Era vergonhoso estar exposto diante de alguém tão linda como ela.
— Pelo amor de Deus, Stiles! Não é a primeira vez que vejo um homem de cueca! — Achei que meus olhos fossem saltar do rosto quando ela puxou o travesseiro que me escondia. — Nada mal.
Ela pronunciou aquela frase olhando fixamente para minha boxer. Acompanhei o olhar dela e percebi, horrorizado, que por eu ainda estar molhado do banho, a cueca úmida marcava perfeitamente o formato do meu membro flácido.

Dizer que fiquei completamente corado e sem jeito, é eufemismo. Meu rosto queimou tanto de vergonha que tive vontade de cavar um buraco e me esconder para sempre nele. O pior de tudo? Lydia soltou uma risadinha sexy e continuou encarando o volume na minha cueca.
— Coloca uma roupa, garoto! — Ela disse por fim.
— Eu vou para algum lugar?
Àquela altura, minhas mãos estavam espalmadas sobre a cueca, tentando me proteger do olhar dela. Lydia não tentava esconder o sorriso provocador por perceber meu desconforto.
— Nós vamos.
Concordei com a cabeça, sem tentar falar mais nada. Desviar o olhar de seu rosto foi quase impossível. O batom vermelho que ela usava era extremamente sexy e fazia com que eu fantasiasse estar repleto de marcas daquela cor sobre meu rosto, meu corpo.
Ainda constrangido, peguei a primeira roupa que achei na pilha de peças limpas que estavam jogadas no chão. Vesti primeiro o jeans desbotado para Lydia parar de ver minha cueca e logo em seguida, me atrapalhei com a blusa e meu velho casaco.
Só relaxei quando fiquei completamente coberto, protegido dos olhos verdes. Virei novamente na direção de Lydia e vi que ela sorria, segurando um porta-retratos em suas pequenas e lindas mãos.
— Você era tão fofo. — Ela olhou para mim e mostrou a foto que ficava ao lado da minha cômoda.
Era a foto que minha mãe me obrigou a tirar quando fiz nove anos. Meu rosto permanecia o mesmo, com a diferença da falta do dente da frente e o cabelo que na época, era tão comprido que cobria meus olhos. Eu estava com um sorriso enorme e forçado, deixando meus olhos bem exprimidos.
— Eu odeio essa foto, só deixo aí porque era onde minha mãe colocava quando arrumava o quarto.
— Ela tinha razão de colocar, você está uma gracinha. E ah! Antes que eu esqueça... —Lydia parou de falar e começou a mexer na bolsa que usava.  —Feliz aniversário, Stiles.
Ela ergueu uma um embrulho dourado e colocou em minhas mãos. Encarei o presente, sem ter nenhuma reação e antes pudesse abrir a embalagem, Lydia beijou minha bochecha.
O beijo estalado me pegou desprevenido. Apesar do tempo que já estávamos próximos um do outro, nunca deixaria de me surpreender com o fato de que viramos somos melhores amigos.
Depois que Lydia descobriu o mundo sobrenatural, fomos nos aproximando aos poucos e cada vez nos tornamos mais amigos, mais íntimos. Principalmente depois de todo sufoco da Eichen House, em que ajudei a resgatá-la, algo mudou na nossa relação.
Apesar de eu continuar apaixonado por ela, aquela amizade já era muito mais do que eu imaginava que poderia ter. Só de estar perto daqueles olhos verdes, só de conviver com Lydia e de alguma forma, poder ajudá-la e cuidar dela, já era maravilhoso.
Abri a embalagem com cuidado e virei o conteúdo na mão. Não acreditei quando o nome “Star Wars” pareceu saltar das duas caixas coloridas que caíram do embrulho. Abri desesperado e me deparei dois action figures, um do Darth Vader e outro do Yoda.
Ri sem acreditar e corri até minha prateleira, onde toda minha coleção de Star Wars ficava exibida. Aqueles eram os dois bonecos que faltavam!
Percebi tarde demais que dei um gritinho afetado quando coloquei os novos personagens arrumados com perfeição, ao lado dos outros. Aquela prateleira sempre foi o único lugar arrumado do meu quarto.
Lydia ria, os olhos brilhando de satisfação. Apesar de estar envergonhado pelo gritinho, não pude resistir, fui até Lydia e abracei com força. A levantei do chão, apertando os braços ao redor de sua cintura e deixei um beijo nos cabelos ruivos.
— Meu. Deus. Eu. Amo. Você. Lydia. — Falei pausadamente, maravilhado com o presente.
— Eu também amo você, Stiles. — Ela disse séria, segura, o rosto escondido na minha clavícula.
A coloquei de volta ao chão, mas não rompi o abraço. Afastei um pouco a cabeça para encarar seu rosto perfeito, mantendo os braços fixos, firmes em volta do corpo de curvas.
Os olhos verdes, sinceros e transparentes me encararam sem nenhuma hesitação. Achei que morreria com aquele olhar.
Ficamos um longo tempo abraçados, no entanto, nunca parecia ter passado minutos o suficiente. Meu coração estava disparado pelo contato prolongado, porém disparou ainda mais quando Lydia se afastou de mim, colocando as mãos em meu peito.
A expressão doce em seu rosto mudou drasticamente. Ela cruzou os braços sobre o peito, fez um bico tentador nos lábios e me encarou com aquela expressão mandona. Ela ficava ridiculamente sexy daquele jeito!
— Agora temos um aniversário para comemorar, mocinho.
Deus! Até a fala debochada dela era sexy.
— Lydia, eu não gosto do meu aniversário. — Proferi as palavras com dificuldade, soltando o ar pela boca.
— Eu sei que você não gosta. — A expressão mandona se derreteu diante dos meus olhos. Seu rosto voltou a ser doce. — E sei o motivo.
— E-eu...
Não consegui dizer nenhuma palavra coerente. Olhei para o chão, desconfortável e engoli em seco. Estava feliz pelo presente, feliz por estar com Lydia, porém lembrar do motivo de odiar meu aniversário me deixou desconcertado.
— Você tem que parar com isso, Stiles! Seu aniversário tem que ser comemorado. — A encarei com dificuldade. Sua beleza podia cegar meus olhos a qualquer instante. — Sua mãe não ia querer isso para você!
— Eu penso que faz mais um ano que estou sem ela. Não consigo...
— Isso foi antes de você me conhecer. — Estreitei os olhos em sua direção. — A partir de agora, todos os seus aniversários vão ser comemorados de alguma forma!
— A gente se conhece desde a terceira série, Lydia. — Lembrei em um sussurro acusador.
— Tecnicamente, você me conhece desde a terceira série, eu nem sabia que da sua existência.
— Obrigado. — Murmurei revirando os olhos. — Era tudo que eu queria ouvir.
As mãos pequenas, gordinhas, alcançaram meu rosto. Seus dedos curtos envolveram minhas bochechas, um polegar sobre meu queixo, fazendo minha cabeça ficar erguida.
— Eu era estúpida demais para enxergar o garoto maravilhoso que estava bem ao meu lado. Agora que eu o conheço e o amo, prometo que vou estar ao seu lado em todos os seus aniversários. Não precisa mais enfrentar isso sozinho, eu sempre vou estar com você.
Arfei. Pisquei os olhos um par de vezes. Tive vontade de contar os dedos das mãos para me certificar de que não era apenas um sonho, no entanto, não tive forças para desviar os olhos de seu rosto.
Tinha a sensação de que se parasse de encará-la, ela iria evaporar. O momento acabaria.
Os olhos verdes, intensos e radiantes, sugaram minha coragem. Não podia falar, não podia reagir. Só conseguia respirar com dificuldade. Minhas mãos tremiam e eu não queria que ela percebesse. 
— Então vamos para sua lata velha que eu vou tornar seu dia especial!
— Não chama meu Jeep de lata velha. — Mesmo fraco, mesmo trêmulo, soltei a reclamação que a fez rir.
— Vamos logo, Stilinski!
Suas mãos quentes e macias abandonaram meu rosto. Antes que eu pudesse me lamentar internamente, ela segurou minha mão e permitiu que nossos dedos se entrelaçassem.
— Eu... preciso levar alguma coisa? — Perguntei incerto, já cedendo ao fato de que faria o que a ruiva planejou para mim. — Não sei para onde nós vamos.
— Minha casa. — Esclareceu me arrastando para fora do quarto, sua mão apertava a minha com força. — Não precisa levar nada, eu tenho camisinha no meu quarto!
Corei com a provocação e Lydia soltou uma risada descontraída. Não tive tempo de reagir pois ela continuou me puxando até o andar de baixo. Quando passamos pela sala, notei que meu pai não estava lá.
— Cadê meu pai?
— Não sei. — Ela respondeu balançando os ombros e me surpreendendo ao pegar uma chave de sua bolsa e abrir a porta para sair da minha casa.
— Você disse que foi ele que deixou você entrar.
— E foi! — A encarei sem entender, sentia o rosto ainda quente por causa da última provocação. — Ontem ele me deu uma cópia da chave.
Franzi o rosto enquanto ela continuava a me puxar para fora de casa. Entramos no carro e eu automaticamente comecei a dirigir, em total piloto automático, sem prestar muita atenção.
— Há quanto tempo você planejou isso?
— Alguns dias.
Ergui uma sobrancelha em questionamento. Conhecia Lydia bem o suficiente para notar com facilidade quando mentia. Ela suspirou e me surpreendeu a puxar uma das minhas mãos do volante.
— Há uns dois meses.
— Tanto tempo por minha causa?
O choque transpareceu mais do que eu gostaria. Quando percebi, meus olhos já estavam arregalados. Lydia continuou em silêncio por vários minutos e começou a brincar com meus dedos, fazendo um carinho em minha mão.
Aquele gesto delicado foi o suficiente para me dar arrepios. Precisei me esforçar para continuar concentrado na estrada. Apertei com força a única mão que estava no volante e fiquei agradecido pela casa de Lydia ser perto da minha.
— Eu queria ter certeza de que você ia aproveitar seu aniversário e foi difícil convencer todo mundo de que ninguém mais ficaria com você.
— Como assim? — Quando perguntei, já estava estacionando o carro em frente à casa dela. — Pensei que você fosse me obrigar a ir para uma festa ou algo assim.
Assim que minha outra mão ficou desocupada, Lydia a puxou como fez minutos antes. Novamente, entrelaçou nossos dedos, deixando nossas duas mãos unidas, conectadas.
Com certa dificuldade, virei o corpo em sua direção e deixei o ar escapar pela boca. Ela conseguia estar sempre linda e a cada dia que eu a via, parecia ficar mais perfeita, mais encantadora.
Seus olhos, sua boca, sua pele, seu cheiro. A textura de suas mãos, a fragrância do seu hálito, o tom do ruivo perfeito. Tudo nela, cada detalhe, a fazia ser perfeita.
Ao meu ver, não existia e nunca existirá nada mais lindo do que Lydia Martin. Ela parecia roubar beleza do mundo, juntar todas as perfeições presentes na Terra e usar somente para si.
— Eu sei que você ia odiar uma festa, Stiles. — Sorri timidamente com aquela afirmação. Ela me mostrava cada vez mais o quanto me conhecia. — Mas isso não impede de nós dois comemorarmos.
— Vou ficar sozinho com você?
A conclusão que se formou em minha cabeça, saiu como uma pergunta patética. Ela soltou uma pequena risada e concordou. Eu abri o maior sorriso do dia, sem acreditar de que teria o dia todo na presença dela.
— Já vou avisando que a casa toda está cheia de balões de festa e que vou tirar fotos suas!
Fiz uma pequena careta, porém concordei rindo com ela. Nossas mãos continuavam juntas. O calor de seu corpo invadia o meu. Eu estava quente, alegre e mal podia lembrar o motivo de estar triste quando acordei.
— Então no final das contas é uma festa. — Murmurei, me aproximando automaticamente de seu rosto. — Uma festa particular.
— Sim e em vez de bolo eu comprei dois cupcakes azuis!
— Minha cor predileta. — Comentei sem conseguir parar de sorri.
— O melhor disso tudo é que minha mãe só volta da viagem amanhã, então temos a casa só para nós!
E mais uma vez, o tom sugestivo em sua voz me fez ficar constrangido. Percebendo como estávamos próximos um do outro, me afastei alguns centímetros.
Não sabia o motivo dela me provocar com aquelas brincadeiras. No entanto, ainda assim, sorri, pois ela sorria e olhos verdes brilhavam incondicionalmente. Era impossível não retribuir a satisfação que emanava dela.
— Se planejou com tanta antecedência, deve ter pensado em coisas divertidas para gente fazer.
Percebi tarde demais que minha frase soou cheia de más intenções. Lydia pareceu gostar do duplo significado, pois soltou uma risadinha e largou uma de minhas mãos para tocar em meu rosto.
— Já que você é o aniversariante, vai ganhar toda a diversão que quiser. — Ela se arrastou no banco até se aproximar de mim. — Pode pedir qualquer coisa.
Naqueles breves instantes que antecederam um dos momentos mais felizes da minha vida eu não pude respirar, nem pensar. Era impossível raciocinar e o melhor de tudo: era impossível lembrar o porquê nunca gostei do meu aniversário.
No momento em que os lábios de Lydia tocaram os meus, eu tive certeza de que era o melhor aniversário da minha vida. Quando nossas línguas se encontraram, quando minhas mãos se perderam em seu cabelo, tive certeza de que não veria mais meu aniversário da mesma forma.
E no final do dia, os cupacakes que ela encomendou foram totalmente esquecidos em cima da cômoda. Mas as camisinhas, que ela realmente tinha no quarto, foram muito bem utilizadas.




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