Capítulo 1

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– Bom dia querida – Liz, a enfermeira, entra em meu quarto.

– Bom dia Liz – falo baixo sentindo meus olhos pesados. Sentei-me – Mandou me darem a dose mais cedo?

– Mandei sim, quero que você passe o dia de hoje renovada, depois de amanhã é natal e esse ano vai ser diferente – sorriu em expectativa depois de sentar-se aos pés da cama.

– Não sei se vai adiantar e não precisa mais me esconder, eu ouvi Carl falar que a quimioterapia não está mais fazendo efeito – olhei em seus olhos e vi seu sorriso desaparecer aos poucos.

– Eu acredito em você Clair – colocou sua mão sobre a minha – Acredito na sua força nós vamos conseguir, eu sei dis...

– Você vem falando isso há quatorze anos desde que eu me lembre... – tirei minha mão vagarosamente de seu toque e baixei os olhos para o chão.

Ela suspirou cansada e abaixou a cabeça, talvez tivesse percebido que nada do que falasse adiantaria para mim. Olhamos-nos novamente.

– Você irá passar o natal comigo esse ano, eu amo você e quero o seu bem. Sei que vai gostar de ir – levantou-se beijou minha testa e saiu.

Passo as mãos por minhas roupas novas, tentando desamassar marcas que não existem. Liz as deu-me para que meu dia fosse diferente dos outros, afinal ela me levará para sua casa e, como me disse, me fará viver a magia que é o natal.

Minha escala de animação está em zero por cento...

– Está pronta querida? – a mesma interrompeu meus pensamentos enquanto pegava algumas bolsas que estavam sobre uma cadeira na recepção vazia do hospital.

– Sim – respondi com um sorriso fraco e me prontifiquei em ajudá-la com toda aquela bagagem.

– Não. Sabe que não pode pegar peso – soltei as alças das mochilas que eu estava pronta para pegar.

– Havia me esquecido disso – ela termina de acomodar todas em seu corpo e segura minha mão, levando-me com ela.

Caminhamos pelo pequeno corredor que dá acesso ao elevador. Suspiro, um tanto cansada pelo meu esforço "repentino" de hoje, nas últimas semanas eu tenho permanecido mais na cama, e tenho reparado que meu corpo está cada vez mais frágil. Cada vez mais vulnerável.

Entramos no elevador e ela aperta o botão que nos levará ao térreo.

Desde meus primeiros meses de vida minha casa vem sendo aquele hospital. Liz sempre diz que eu sou como uma filha para ela e garanto que o seu sentimento é recíproco, eu a amo como a mãe que nunca tive. Como ela mesma me disse, eu fui deixada no hospital por meus pais, não sei o que aconteceu e nem o motivo para eles terem feito isso, talvez tenha sido o diagnóstico que receberam da minha doença, mas desde então, Liz vem cuidando de mim como prometeu, como sempre disse que cuidaria.

Reparo no presente maravilhoso que Liz acaba de me dar. E na equipe de médicos que veio me dar os parabéns junto com um bolo delicioso.

– É maravilhoso tia, eu amei – a abraço forte, o mais forte que posso – Obrigada.

– Você merece minha princesa – seu sorriso me faz abrir um, e mais que depressa eu as coloco em meus pés.

São pantufas vermelhas, as que eu tanto falava e comentava sobre serem as mais confortáveis e que eu amaria ganhar um par. O meu pedido foi atendido e não podia ser de um jeito e num dia melhor.

Meu aniversário.

– Clair, eu quero dizer que todos esses anos eu sempre estive aqui para cuidar de você, e nesta nova fase que está entrando eu vou continuar aqui, te ajudando, cuidando de você, e do seu lado para o que você precisar. Sei que Deus sempre me deu forças para lutar todos os dias e peço que Ele te dê também, não só força, mas esperança e amor. Eu te amo Clair, nunca se esqueça disso – apesar de ser muito nova, eu já compartilhava do mesmo sentimento que ela, meu rosto estava banhado a lágrimas sinceras.

Uma Última chanceOnde histórias criam vida. Descubra agora