Capítulo 4

376 58 18
                                    

    Preparada certamente não era a palavra que me definia no momento, na realidade acho que essa palavra nunca entrou no meu vocabulário, se tem uma coisa que eu sou é despreparada, prova disso foi ter caído de paraquedas nessa clínica sem ter ideia do que fazer, ou cantar Pitty  quando deveria ser Rita Lee no show de talentos da escola, ou até mesmo não levar lanche em uma excussão porque achou que iam distribuir. É eu sei, sou um caso perdido!

   Recebi alta do quarto hospitalar -chamei assim já que se tratava de um simples quarto na mansão século passado que servia de hospital em emergências- e apesar de dar graças a Deus por sair dali eu ia sentir falta de ficar sozinha por mais de uma hora. Minha garganta tinha melhorado bastante mas a Dra.  Cris preferiu deixar o colar cervical por mais um tempo, segundo ela eu tinha uma grande capacidade de piorar situações já ruins e ninguém queria me ver ali novamente, só não discordei porque ela tinha razão, fazer o que né. Em compensação com a minha alta hospitalar eu voltava oficialmente a minhas atividades normais as quais não fazia ideia do que eram -eu deveria ter lido o panfleto que recebi naquela maldita consulta- pra minha sorte -ou azar, depende do ponto de vista no caso o meu- a Dra. Cris teve a gentileza de imprimir uma tabela bem organizada com todas as atividades das quais eu deveria fazer parte, e olha que não eram poucas. 

   Depois de falhar no meu plano febre quarenta graus, Silvinha me obrigou a seguir minha tabela do castigo -iria passar a chamá-la assim de agora em diante- e minha primeira atividade era terapia em grupo e ocorreria no salão das flores, de primeira imaginei que fosse algum lugar na casa mas descobri que as dependências da Nova Geração eram maiores do que  eu imaginava, isso incluía um jardim na lateral onde ficava localizada a estufa, mais conhecida como salão das flores. Coloque uma roupa descente dessa vez para não parecer uma maluca, aproveitei para tentar arrumar o cabelo o que não deu muito certo, e só depois de checar se eu parecia uma pessoa normal, mesmo com essa coisa branca na garganta, eu sai pra minha terapia.  

   Se eu dissesse que foi fácil encontrar o salão das flores estaria mentindo, eu devo ter dado umas cinco voltas no prédio e não achava o bendito lugar, eu achava tudo menos o que queria. No caminho encontrei uma garota em cima de um banco avisando para o príncipe que ia jogar seus cabelos, ela devia achar que era a Rapunzel ou coisa do tipo, mais a frente achei um pirata navegando em seu barco/caixa de papelão e depois o Zeca pagodinho cantando deixa a vida me levar ao som de uma latinha de Marrom Glacê, conclusão, talvez eu não precisasse me esforçar tanto para parecer normal. No fim eu estava de frente as portas de vidro da antiga estufa em meio a roseiras e mato, com dez minutos de atraso o que pra mim não era nenhuma surpresa. Forcei a porta na tentativa de entrar em silencio mas ela não abriu, tentei de novo e nada, na terceira vez além de uma bomba estourar ali dentro eu fui de encontro ao chão. Parabéns Alexia, você já começou bem a tarefa de não chamar atenção! 

_Hã, bom dia!? -falei me levantando e batendo as mãos na saia para tirar a poeira. Minhas bochechas tão vermelhas como um tomate

    O lugar era mediano, pequeno se comparado ao salão de jantar e gigante se comparado ao meu quarto, era todo de vidro com algumas janelas e várias flores e plantas ao redor e espalhadas pelo local. Em uma das laterais uma trepadeira bem verdinha ocupava um espaço bem grande do vidro, se espalhando por todo o local e produzindo sombra no centro onde as pessoas estavam. Cerca de dez pares de olhos estavam em mim, a Dra. Cris preocupada, duas garotas que pareciam gêmeas cochichando entre si, o maluco que gritou sobre um pássaro assassino no jantar do primeiro dia tentando espantar algo, uma outra garota que parecia nem saber o que estava  acontecendo, LG discutindo outra vez com Arthur, Benjamin rindo da minha cara e Valentina surpresa e preocupada também. Espera um momento, Valentina estava ali? 

_Tá tudo bem Alexia? -ela disse se levantando e vindo em minha direção, dei um passo pra trás assustada. Depois de você quase me matar? Ah sim, está tudo ótimo, não poderia estar melhor- você está com medo de mim -concluiu 

Minha geração problemaOnde histórias criam vida. Descubra agora