Estava uma noite estrelada, a maioria dos animais já dormiam e os noturnos observavam a grande lua de todas as formas. A lua iluminava as folhas das árvores e deixava que os lagos ficassem parecendo divinos para quem os via por cima, principalmente para uma pequena raposa que observava seu reflexo sentada ao redor de um, pensativa. Não estava feliz, porém também não estava tão triste, talvez soubesse lidar com seus sentimentos, ou era o que achava quem a via. Ninguém se atrevia a falar com ela, ou por causa de sua espécie ser carnívora ou por respeito, mas isso realmente era necessário?
— O que faz sozinha à esta hora da noite? — Uma voz assustou o ser alaranjado, uma voz suave que saía dos arbustos no corpo de uma tigrinha branca como a neve, ainda mais iluminada com o brilho lunar.
— Nada. — Respondeu por impulso, sem outra resposta rápida na cabeça.
— Não parece estar fazendo nada.
— Como é estar fazendo nada? — Pareceu estar com uma pequena dúvida, nunca havia pensado nisso.
— Quem faz nada é morto. Morto não fala, morto não anda e morto não respira. Bem, pelo menos eu acho... — Pensou por alguns segundos. — E que eu saiba, você não está morta, não é mesmo?
— Com certeza não.
— Então você não respondeu minha pergunta. — Se sentou ao lado da outra, aguardando desta vez uma resposta "correta".
— Estou pensando...
— Pensando em que? — Não é a toa que dizem que gatos são curiosos.
— Pensando em... Em... Não sei te explicar.
— Então não explique, mostre.
— Você não sabe o quanto eu gostaria de poder mostrar. — Se deitou, voltando seus olhos para o enorme astro no céu.
— Tudo bem. Pode contar para mim.
— É uma longa história.
— Eu tenho a noite inteira.
— Não é algo que eu consiga contar. Eu gostaria mesmo era de poder acordar e acabar logo com esse pesadelo.
— Se a vida fosse assim, qual seria a graça? Seria muito fácil conseguir ser feliz. A felicidade deve ser alcançada, com esforço, com orgulho. — Os olhos da tigresa brilhavam com essas frases que eram criadas para inspirar a nova colega, todas com a razão de quem ainda havia vivido pouco, mas com o coração de quem havia se tornado imortal.
— Eu acho que tropecei no meio do caminho. — Continuava com o espírito negativo, cabisbaixa, mas a felina não desistiria tão fácil.
— Então se levante. — Encararam-se. — E continue a viagem.
— É mais fácil falar do que fazer.
— É só dar um passo de cada vez.
— Mas... — Para sua sorte, foi interrompida.
— Uma estrela cadente! Faça um pedido!
— Estrela o quê?
— Faz um pedido! — Estava de olhos fechados, desejando algo e fazendo que a outra também fizesse.
— Pronto. Que tipo de estrela é essa? — Era algo novo para a alaranjada, não tinha o costume de fazer isso.
— Dizem que quando uma estrela jovem decide se aventurar, ela deixa o local onde viveu e cruza o céu estrelado sem destino definido, apenas onde seu coração a levar. É raro. — A tigresa se sentia bem de contar a história que lhe contavam, e em acreditar que tudo isso era real.
— É incrível. — Finalmente sorriu, começando a se abrir. — Mas qual o motivo de pedir para ela?
— Isso eu já não sei... O que você pediu?
— Eu... Eu pedi... — Os olhos da Raposa lacremejavam. — Eu queria encontrar minha família. — Agora estava explicado, explicado tanta tristeza, tanta negatividade e timidez.
— Você se perdeu? — A outra assentiu em meio a lagrimas e soluços. — Não chora, por favor.
— Desculpa. — Tentava secar as lágrimas com a pata, mas não adiantava.
— Não precisa se desculpar. Sabe o que eu pedi?
— O quê?
— Que nós duas virassemos amigas. — Encararam-se novamente, sorrindo e até mesmo rindo, talvez já fossem e não sabiam. — Nós vamos encontrar sua família, eu prometo.
— Não precisa se preocupar comigo.
— Já me preocupei. — Se levantou. — Vem comigo. — Saiu andando.
— Para onde vamos? — Andava atrás da listrada.
— Para minha casa, você precisa descansar. Amanhã começamos a fazer a busca.
— Mas e a sua família? — Elas pararam enquanto a Tigresa pensava no que dizer.
— Eu sou como as estrelas, não tenho destino, sou diferente do padrão. Passo pouco tempo com eles por causa de sempre estar em movimento, mas sei que eles sempre estarão lá, contando as luas para me ver.
— Nossa. — Não sabia o que dizer, afinal não tinha mesmo o que dizer.
— Bem, chegamos. — Estavam rodeadas de árvores, não havia nada de especial.
— Tem certeza?
— Claro. — Entrou em uma cortina de folhas que era bem camuflada, talvez fosse por isso que deixava com que o local ficasse com um "ar" de especial.
— Ual. — Entrou em seguida, surpreendida pela segurança. A cortina dava em um túnel de pedras, porém a surpresa estava além do túnel.
— Bem vinda a minha humilde casa.
— Humilde?! — Estava de boca aberta, após o túnel, um local aberto com céu aberto se revelava ao olhar recém avermelhado.
Havia uma cachoeira que formava uma pequena piscina natural rodeada por mais pedras, assim como o local em si. O chão era coberto por uma grama macia, provavelmente por causa da alta umidade que ali rodava. Algumas árvores cresciam ali, tanto grossas quanto finas. Resumindo, parecia um pequeno paraíso.
— Eu morri? — A Raposinha se perguntou, mesmo achando que isso não havia acontecido, porém nunca havia visto algo parecido.
— Ainda não. — Riu. — O que achou?
— É perfeito! Agora entendi o porque de você ficar mais... Por aqui... — Percebeu que estava sendo um pouco insensível dizendo isso. — Desculpa.
— Tudo bem, não precisa se desculpar. É verdade mesmo. — Sorriu.
— Hakuna Matata! — Disseram simultaneamente, rindo em seguida. — Boa noite. — Novamente disseram juntas, deitando na grama fofa e dormindo em segundos.Algum tempo depois, após muitas e muitas buscas, finalmente encontraram a tão falada família da Raposa, porém nesse tempo ela descobriu que seu destino era viver como uma estrela, assim como a Tigrinha vivia, juntas.
Hoje elas observam aquela lua e se lembram do "incidente" que fez com que elas se conhecessem. O pedido da Tigresa havia sido realizado, agora elas eram amigas, ou melhor, não apenas amigas, elas eram irmãs, mesmo não sendo de sangue, mas de alma, eram estrelas se aventurando pelo país das maravilhas, e quando a Raposa precisar de ajuda, sua nova irmã estará lá, e fará de tudo por ela, assim como a alaranjada faria o mesmo, pois é isso que irmãs fazem, cuidam uma da outra, até os seus últimos dias de vida.
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Sisters
Short StoryEm uma noite de lua cheia, o que aconteceria se uma raposa e uma tigresa se encontrassem no momento em que uma estrela se libertava de sua origem e cruzasse o céu estrelado sem destino algum, assim como os dois animais, que estavam sozinhas, ou pelo...