O ESTRANHO JHONE

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Jhone era alto, magro, branco e gostava de filmes. Era seu primeiro dia naquela
escola grande e cheia. Ele tinha segredos, parecia um objeto misterioso, incógnito,
indecifrável, não queria estar ali. Tudo mudaria num instante! Sei jeito esquisito ficou
mais esquisito ainda quando avistou Laura - uma moça linda e inteligente. Laura era
animada, um pouco apegada à loucura, conhecida por quase todos ali. Era um amor
bloqueado pelo proibido. O rapaz viu-se bem longe de consegui-la. Ele: calado,
misterioso e secreto. Ela: bonita, sorridente, inteligente e conhecida.
Para Jhone a escola agora era um jardim com uma orquídea perfeita! Era manhã.
- Oi! - Era Laura - Aluno novo?
- É... o... Oi!
- Novo aqui?
- Si.. Sim. É... Meu nome é Jhone.
Laura estava há uns 2 metros dele. O rapazola estava trêmulo e sem jeito. Havia
várias pessoas no pátio comprido e sem fim.
- Meu nome é Laura. Você parece ser.. É...
- É! Sim! Eu gosto de livros! Aliás, amo literatura! Estou lendo a obra “Amada
Amélia"...
Ele foi interrompido por ela. Uma frase banal! Tudo mudaria num instante! Tudo
se tornaria mais desconfortável. Laura foi até Jhone e disse, sem jeito: - Moço,
desculpe-me, mas estou falando com o cara que está atrás de você. Perdão.

----- * -----

O VIZINHO ESTRANHO

Laura era inteligente, não tinha medo de quase nada: nem da chuva, nem das
tempestades, nem do escuro. Seu quarto era iluminado apenas por um antigo abajour herdado de sua avó, a qual era carinhosamente chamada de Yassanã pelos netos mais
próximos. Diziam que o jeito destemido de Laura era sangue da avó.
Não era um quarto qualquer. Pela janela do quarto dava para ver a janela do quarto
da casa ao lado – a janela do vizinho. Esse sujeito novo ali quase não saía de casa. Laura
nunca tinha, sequer, o cumprimentado. Aquilo a incomodava. Sempre, desde o colegial,
saía fantasiada de coruja para pedir doces aos vizinhos; “Era uma aberração! Mas era
legal!”, dizia ela. Mas este era diferente. Este vizinho era tão sólido como pedra. Nunca
o avistava perfeitamente, via somente seu vulto passando pela janela de vidraça suja do
quarto. Todos os dias ela o via caminhar pelo quarto de um lado para o outro,
embaraçosamente, sem ver direito seu rosto, sua pele, seus cabelos... Sabia apenas que
ele era alto, magro e estranho.
Era quarta-feira, noite fria. Laura lia “Amada Amélia”, uma trama pouco
conhecida. Foi, então, interrompida por um barulho alto vindo do quarto do vizinho:
“Crash!”.
- Já disse que não! Vamos deixar tudo como está! Vamos nos mudar daqui. São Paulo,
Goiânia... sei lá!
Era um diálogo entre o vizinho e uma mulher alta, magra e branca como neve que
despertava curiosidade aos ouvidos e olhos de Laura.
- Você quer que sejamos pegos, Ariela?! Ora! Eu já esqueci tudo aquilo e quero que
você esqueça também! – Dizia o vizinho coçando a cabeça.
- Não... Entenda! Ora bolas! É só um planinho simples. Ninguém vai precisar saber. -
Laura ficou trêmula, mas decidiu ficar calada diante daquilo. Afinal, tudo poderia ser
uma mera brincadeira.
Seria um risco desvendar aquilo, um mistério sem nexo. Pensava ela: “A vítima é desconhecida por mim, então, se não sou eu, não devo me meter onde não sou
chamada”. Ela pensava... Pensava... E isso ia corroendo sua cabeça. No outro dia, Laura
nem se lembrava mais do que tinha visto e ouvido. Estava no último capítulo do livro e
só queria saber dele. Ouviu de repente, batidas em sua porta – era o tal vizinho. Branco
(branco mesmo!), alto como vara, meio magro. Embora quisesse apenas um café, foi o suficiente para deixar Laura quase molhada (me refiro a xixi mesmo!). Ela não parecia
ser corajosa como antes. Tremia por dentro e segurava tudo aquilo.
Estavam na cozinha. “É só eu me virar, pegar o café pra ele e pronto!”, pensava
ela. De costas para o rapaz, ao pegar o café, sentiu uma mão gelada em seu ombro nu. -
Moço... O que foi? – Perguntou-o, quase derrubando tudo no chão.
Não houve resposta em palavras. Laura sentiu uma forte pancada na cabeça! Um
café, um golpe!
Minutos depois... A neta preferida de Yassanã agora abria os olhos e via seu quarto
de longe, pela janela do quarto do vizinho. Mexer-se era impossível! Não era paralisia,
nem infarto, nem algum outro problema, eram cordas bem apertadas.

O ESTRANHO JHONEOnde histórias criam vida. Descubra agora