Segunda-feira

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Segunda-feira

Curvado, com uma expressão de dor, sentado em uma cadeira, a mão esquerda no peito e a direita em uma pena de escrever, foi assim que nasci, ou fui esculpido. Depois me mudei para a Av. Paulista, em baixo do Masp. Na verdade mudaram-me! Queria descrever melhor o Museu de Arte de São Paulo, mas tudo o que consigo ver daqui é um semáforo para pedestres e mais adiante algumas árvores. Além de carros e mais carros que passam incessantemente pela avenida.

Eu chamo-me Dom Gonçalves de Moraes e sou um escritor renomado, ao menos foi o que a Eduarda me disse. Bem, na verdade ela disse para Joana. Elas são turistas. Como eu sei? Simples, elas possuem um sotaque diferente dos moradores daqui. Ah, e ficaram tirando fotos ao meu lado.

Foi chocante o modo que descobri a minha morte. A Eduarda disse à Joana:

— Ele morreu em 1989, aos 82 anos, de um infarto fulminante enquanto escrevia as páginas finais de seu último romance.

— Nunca ouvi falar dele — disse Joana à Eduarda enquanto pousava sorridente abraçando-me para tirar uma foto.

Como assim, gente? Falar da minha morte na minha frente? Esses turistas não tem um pingo de consideração pelos mortos. São desprovidos de sentimentos, desalmados.

Depois o coração de pedra aqui sou eu.

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