♦ 01 ♦

514 62 28
                                    

As casas decoradas, os enfeites brilhantes e reluzentes, árvores de natal, estrelas cadentes, papai Noel, biscoitos e casas de gengibre, ceia, presentes e "amor". É isso o que chamam de natal.

As pessoas brigam durante todo o ano, mas quando é natal tudo fica bem de uma hora para a outra. Não existe ódio e nem discórdia, todos dizem que se amam e se abraçam felizes durante a queima de fogos. Todos sorriem e dizem estar felizes. Quanta mentira!

As pessoas são hipócritas a esse ponto. Criam um feriado para serem falsas. Não só um, há vários desse tipo: ano novo, Páscoa... Todos que não retratam o verdadeiro sentido e sim a falsidade. Será que há mesmo, pelo menos, uma família que seja feliz de verdade durante o natal? Será que não há uma família em que o pai não seja alcoólatra e bata em sua esposa e filhos, uma mãe que não abandone seu bebê ou que maltrate seus pequenos? Adolescentes que são "rebeldes" e se trancam no quarto para não ter contato com o ninho de cobras que é sua família? Será que há alguém que seja mesmo feliz no natal?

O rapaz de cabelos verdes se perguntava isso durante o almoço em família, um dia antes da data tão importante. Tinha que aguentar seu tio fazendo piadas sem graça sobre seu cabelo e dizendo que só precisava dos piscas-piscas e da estrela para ser uma árvore de natal por completo, tinha que aguentar suas tias perguntando sobre as namoradinhas, a tagarela de sua mãe dizendo o quanto seu filho era um garoto bom, sendo que ela passou o ano inteiro reclamando de como ele era preguiçoso e irresponsável. Muito, muito clichê. E para piorar, o garoto tinha que passar por isso calado, caso contrário todos iriam chamá-lo de desonra, vergonha e rebelde da família. Recebia um olhar furioso de sua mãe toda vez que bufava ou suspirava enquanto seu tio e sua tias não paravam de encher seus ouvidos de besteiras, e por mais que quisesse ignorar, não conseguia.

Queria dar uma daquelas respostas maravilhosamente grossas para seu tio e mandar suas tias calarem a boca e dizer que gostava de homens e não de mulheres e que se estivessem incomodados que fossem se foder. Ah, como a língua dele coçava para dizer isso. Seria até cômico.

Seus primos pequenos faziam birra para não comer enquanto o adolescente, mais novo que Yoongi, mexia no celular e recebia broncas de sua mãe que no final de cada reclamação dava um sorriso sem graça dizendo a famosa expressão.

— Adolescentes... — Riu sem graça voltando a comer.

Yoongi mal tinha tocado em sua comida, queria jogá-la na cara de seu tio que debochava, agora, da pele pálida do garoto dizendo que poderia ser confundido com um fantasma. Não soube contar quantas vezes revirou os olhos escondido de sua mãe, fazendo seu primo adolescente rir e mandar um inaudível "entendo..."  para o esverdeado que ria baixo. Mas para piorar tudo, de fato, é que teve que aguentar isso durante três dias e teria que aturar por mais alguns, até o ano novo. Estava ferrado, fodido e qualquer outro adjetivo.
Só queria estar em seu estúdio improvisado no porão fazendo seus rap's e escolhendo uma de suas fotografias para revelar e colar em seu mural com as melhores. Mas não, tinha que tolerar toda aquela falação junto com o choro e os berros de seus primos pequenos por não querer comer mais. Não que a comida estivesse ruim, suas avós e tias cozinhavam bem, pelo menos, mas sabe como criança são; fazem escândalo por coisas simples.

"Não tenho escapatória, mas uma hora acaba..." — Mantinha esse pensamento ativo para animá-lo e não mandar o foda-se em sua família e saísse correndo pelas ruas como se tivesse saído de uma prisão, ou até mesmo manicômio, pois ali só tinha loucos.

— Querido, você ainda não comeu nada! — Uma de suas várias tias o chamou a atenção apontando para seu prato intacto.

Olhou para sua mãe que tinha seu olhar assustador como quem dizia para se comportar ou iria pagar caro. Apenas suspirou e levantou seu olhar sonolento para senhora à sua diagonal que tentava ajeitar o babador em seu filho.

Merry Christmas  ♦YoonMin ♦ Onde histórias criam vida. Descubra agora