Cap. 21: Marcas De Ferro

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Leo passara o dia inteiro conversando comigo. Em todos os intervalos entre as aulas, ele dava um jeito que outro de aparecer. E eu não estava reclamando disso, muito pelo contrário: estava adorando ter companhia.

Na hora do recreio, nos sentamos no chão do pátio, para conversar.

- E então, Ale - ele já tomara liberdade para me chamar assim - quando você vai admitir que tem um caso com aquele garoto lindo?

Arregalei os olhos. Cobri sua boca imediatamente, olhando em volta, à procura de Meena.

- Nunca mais repita isso. Você não sabe as consequências que teria caso alguém escutasse. - murmurei, horrorizada.

Leo tirou minhas mãos de sua boca, me encarando com espanto.

- Nossa, garota! - exclamou, arqueando uma sobrancelha - o que teria de mais? Até parece que você mora em uma prisão.

Arregalei mais os olhos.

- Não, não é nada disso... - falei, rindo forçadamente - é que... eu moro com uma tia... e ela... não gosta de desobediência.

- Ah, é? - me encarou - então qual é o nome dela?

- Datha. - a mentira saiu com facilidade, como sempre.

Leo pareceu um pouco desconfiado a princípio, mas depois sorriu.

- Então o seu problema é uma tia coruja. - começou a dar risada.

Sorri amarelo, assentindo.

- É quase isso. - e mais uma vez, eu mentira com perfeição.

×××

Esperar na última aula, era uma tarefa entediante. Já que todos, menos eu, tinham 4 cursos, meu último período era livre, então eu costumava voltar para a Sociedade. Mas, naquele dia, Rubi havia me pedido para esperá-la, e era isso o que eu estava fazendo, zanzando pelos corredores na entrada do ginásio. Era lá onde aconteciam as aulas de dança, e uma enorme janela de vidro garantia uma visão privilegiada do lado de dentro.

Vendo Rubi dançar, a única coisa que você não pensaria era que ela possuia um coração frágil. Ela se movia com uma graça fantástica, rodopiando ao som da música clássica. Observei suas sapatilhas brancas deslizando sobre o assoalho brilhante, como que flutuando. No dia em que eu conseguir fazer isso, vão declarar um milagre. Porque, sim, mesmo sendo ótima na coordenação motora para nadar, eu parecia um poste na hora de dançar.

De repente, enquanto me distraía, a música parou, e os alunos da dança foram saindo em grupos.

- Nossa, Rubi! Você arrasou! - uma garota falou, e Rubi apareceu logo atrás.

- Obrigada! - ela respondeu, sorrindo. As sapatilhas estavam ajeitadas dentro de uma caixa de plástico transparente, que carregava debaixo do braço.

- Tem certeza de que não quer sair conosco hoje? - uma loira de olhos azuis implorou, fazendo beicinho.

Rubi ficou vermelha, afastando-se mais depressa.

- Tenho. Meus pais não vão deixar. - mentiu, naturalmente.

As outras pareceram tristes, mas não insistiram. Rubi se aproximou de mim, retomando o sorriso.

- Oi. - falei, meio constrangida por ter xeretado suas conversas.

- Oiii. - o "i" da palavra foi prolongado, e ela riu - você me esperou mesmo!

Cerrei os olhos, confusa.

- Mas não era pra fazer isso?

- Sim! Mas você foi a primeira a me esperar de verdade. Obrigada! - falou.

Porcelana - A Sociedade Secreta (Completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora