Vamos Fazer História - Yuri!!! on Ice

Capítulo Único

  Observava, silenciosamente, Yuuri ensaiar. Seus braços abriam e fechavam como as asas dos pássaros, suas pernas moviam em perfeita sincronia. Ele parece estar exigindo muito de si ultimamente, eu o olhava ensaiar e depois o elogiava ou repreendia por algum erro, mas nunca perguntei-lhe a verdadeira motivação de sua exigência. Me perguntava constantemente se era alguma pessoa. A sensação que sentia toda vez que pensava nisso doía como um aperto em meu peito. Desviei o olhar dele por uns segundos e encarei o chão. Eu parecia perdido em meio aos meus pensamentos hoje e sempre a única coisa que pensava era em Yuuri. Talvez nossa amizade ande diminuindo ultimamente. Sempre depois dos elogios que lhe dou, ele agradece e diz que precisa fazer algo importante e não aparece até o fim da tarde. Talvez seja mesmo uma pessoa em que está mexendo com ele, talvez esteja tentando impressioná-la. Senti algo preso em minha garganta e coloquei a mão sobre o peito, tentando não deixar as lágrimas cair. Voltei o olhar para a pista de gelo e o vi caminhando até mim.

— P-Parabéns, Yuuri... sua patinação anda melhorando bastante – disse meio cabisbaixo.

— Ah, obrigado, Victor! – Ele diz empolgado. – Hm, você parece não se sentir bem, qualquer coisa pode ir ao médico, Victor, não se preocupe muito comigo – ele põe a mão em meu ombro – bom, vou indo. Te encontro mais tarde!

   Vejo ele sair correndo alegremente. Parece que, literalmente, a minha parte alegre se foi junto à ele. Sentei-me no chão e pus a cabeça entre meus joelhos. Agora já não aguentava e deixei as lágrimas descerem pelo meu rosto. Será que ele não enxerga? Será que eu não fiz direito? Esforcei-me demais por ele. Me tornei seu treinador, me tornei apenas dele. Fiz uma promessa igualmente a Yurio mas meu coração não batia na mesma intensidade que bate por Yuuri.

  Levantei a cabeça e vi Makkachin entrar correndo em minha direção. Ele começou a lamber meu rosto como sempre fazia, dei um sorriso meio triste e afaguei sua cabeça. Ele agia diferente do habitual, era como se pedisse para segui-lo, já que sempre se virava para a saída e fazia menção de sair mas permanecia no mesmo lugar me olhando e latindo. Me levantei e fui calmamente atrás dele.

  Ele me levou para frente de uma lanchonete, olhei através da vidraça e vi Yuuri. Fui logo abrindo um sorriso mas o desfiz na mesma hora em que vi uma garota ao seu lado. Eles conversam tão alegres. Eu tinha razão, o motivo de seu esforço era uma pessoa. Saí correndo dali e minhas lágrimas novamente lavavam meu rosto. Agora estava tudo mais claro para mim e vendo aquela cena os meus sentimentos por Yuuri ficaram mais claros, estava perdidamente apaixonado por ele. O que mais doía era ver que não era correspondido. No momento em que vi aquele vídeo dele na internet, algo vinha crescendo em mim. Quando vim até sua casa empolgadíssimo para me tornar seu treinador e vi um brilho único em seu olhar, era tão caloroso, tão amável. O esforço que ele fazia naquele tempo era pra mim e isso me deixou ainda mais fascinado por ele. Pensando nisso, criei a respectiva coragem de dizer-lhe meus sentimentos, talvez um pouco desta angústia saia de meu coração, assim se certamente a garota fosse uma namorada, já descartava a hipótese de ter uma chance ao seu lado. Mas um pequeno medo me rondava, temia perder sua amizade, jamais iria querer que Yuuri desistisse de mim como seu treinador. Suspirei tentando manter-me firme e voltei àquele lugar.

  Antes que pudesse chegar mais perto, o vi saindo junto à garota. Ela não era de fato estranha para mim, ela era familiar, demais até. Tratei de me esconder em algum canto dali. Os dois estavam próximos um do outro, a garota estava de costas para mim e não pude ver seu rosto ainda, isso estava me deixando tenso. Vi Yuuri lhe entregar algo e ela deu uns pulinhos, em seguida depositou um beijo em sua bochecha. Então, antes de ir embora, pude ver que era a Mila, franzi o cenho e continuei a olhá-los. Yuuri ainda estava parado no meio da calçada sorrindo feito um bobo e segurando algo em mãos. Cemicerrei os olhos tentando ver o que era, completamente em vão. Agora ele começara a andar, vinha chegando mais perto de mim e aquela vontade de me declarar crescia a cada passo.