"Já entregou o relatório, Tae?" Perguntou Hoseok, se aproximando de mim. Apenas ele sabia onde meu esconderijo ficava. Não que ele fosse secreto, qualquer um poderia ir lá, mas passava despercebido. Eu, que estava em transe observando-o, apenas balbuciei um não como resposta. "Eles vão perceber..." suspirou, se sentando ao meu lado e observando o que me chamava tanta atenção "Você está se tornando muito desleixado. Eu não posso te encobrir para sempre." Desviei meu olhar para encará-lo "Hobi, você não deveria se preocupar tanto, depois de todo esse tempo prestando serviços eles não se importariam..." mas ele tinha razão, desde que eu o descobri, me dediquei totalmente a observa-lo, deixando de lado minhas tarefas.
Eu me preocupava as vezes. Não era o certo, aquela não era a minha área. Eu tentei transferência, em vão, como esperado. Hobi era um bom amigo, fazia algumas tarefas por mim, mas isso não o poupava de fazer sermões a respeito de minha situação.
"De qualquer modo, como ele está?" Eu sempre adorei essa pergunta. Jin sempre era um poço de alegrias. Felizmente, era raro o ver triste. Mas agora era diferente, e isso doía.
"Ele adoeceu" respondi brevemente.
"Ah..." Hobi me fitou preocupado, ele sabia como meu humor dependia dele "É grave?"
"Tem piorado... eu tenho considerado cuidar dele..." falei com receio a última parte, me virando para ver a sua reação. Como esperado, ele arregalou os olhos espantado.
"Você não pode, Taehyung. Se meter em assunto dos outros significa ser expulso. Não faça isso com sigo mesmo!"
Olhei para ele com tristeza, eu já havia me decidido. Pelo meu olhar ele percebeu isso. Seus olhos encharcaram, porém ele não derramou lágrimas, apenas assentiu, respeitando minha decisão. Me destruía vê-lo assim. Eramos como irmãos, sempre se preocupando e ajudando um ao outro. Esse seria o pior sacrifício, mas não conseguiria viver com Jin sofrendo. Hobi confirmou que ficaria bem, que eu ficaria bem, que Jin ficaria bem. O momento não durou. Ao contrário de mim, ele ainda tinha tarefas as quais se dedicar. E eu fiquei ali, olhando para aquele ser humano tão frágil, sorrir, apesar de seu estado, me dando motivação.Depois daquilo eu fui cuidadoso, dedicando cada fibra do meu ser entre me esforçar no trabalho e encobrir meus cuidados sobre Jin. A doença era grave, mas retardá-la não foi difícil.
Não demorou até me descobrirem. Pedi para Hoseok não intervir, o que o fez despencar em lágrimas. Eu não podia chorar, pois precisava ser forte com o que vinha pela frente. Dizem que dói... cair. Mas eu não vou negar, para mim, a sensação foi boa. O vento me abraçando enquanto as nuvens se afastavam. Minha visão embaçou, senti uma pontada nas costas. Minhas asas... eu havia esquecido desse detalhe. Meus sentidos estavam dopados, como se eu recém recebera uma anestesia. Ouve um baque surto. Abri os olhos, piscando-os repeditamente tentado me acostumar com a claridade. Reconheci o local, era um bosque num bairro vizinho ao de Jin, havia decorado o mapa de sua cidade com o tempo. Me levantei, sem pensar em nada a não ser o achar e me assegurar de que estava bem.
Ao caminho de sua casa passei por uma banca, olhei de lado para os jornais e revistas ali expostos, paralisando. Faziam semanas desde meu julgamento. Então veio a mim o pensamento que Jin ficará aquele tempo todo sem cuidados de ninguém, refém de cuidados humanos pouco efetivos.Eu corri, corri como nunca havia corrido antes. O tempo estava nublado e frio, o que dificultou minha respiração e queimou meus músculos. Aquilo era novo, mas me atormentou, muitas coisas acontecendo ao mesmo tempo. Eu não sabia como lidar, não havia nada naquele mundo a qual eu poderia me assegurar, não naquele momento.
Não demorou tanto quanto esperava até chegar a sua casa. Toquei a campainha e esperei, batendo o pé com ansiedade. Um jovem com cabelos castanhos claros abriu a porta, quem reconheci como Namjoon, um amigo do colégio.
"Oi, o Jin está?" Pergutei atropelando minhas palavras. Porém ele entendeu e franziu a testa.
"Quem é você?" Ele perguntou desconfiado. Revirei os olhos, ele estava me atrasando.
"Taehyung, conheci Jin em um café. Ele está em casa? Está bem?" Falei, ainda afobado. Não queria perder tempo. Queria vê-lo.
"Não... ele piorou e teve que ir para o hospital. Não está na melhor das condições, mas ele é forte, irá aguentar..." disse, mergulhando em seus próprios pensamentos e preocupações "Você pode ir o visitar, caso queira. Ele não gosta das paredes brancas entediantes do hospital." Ele acrescentou ao ver minha expressão preocupada, sorrindo de leve. Eu agradeci e voltei a correr. A cidade era pequena e havia somente um hospital.
Levou alguns minutos até chegar lá. A recepcionista me passou uma fixa de dados que precisavam ser preenchidos, o que me deixou altamente impaciente - Não podia me dar o luxo de demorar.- Andei em passos apressados por aquele labirinto de corredores idênticos, logo achei seu quarto. Dei batidas leves, avisando minha entrada. Jin dormia em sua cama. Ele usava suas próprias roupas ao invés das do hospital. Seu moletom rosa claro combinava perfeitamente com ele e sua expressão calma e acolhedora. Me aproximei, puxando uma cadeira para sentar junto a sua cama. Encontrei sua fixa médica, lendo-a. Ele de fato havia piorado. Encostei em seu pulso. Nada aconteceu. Droga, como não percebi isso? Não tinha mais meus poderes.Logo meus pensamentos foram afastados quando percebi o jovem a minha frente me observando com olhos calmos e um leve sorriso.
"...Tae...?" Ele murmurou fracamente. Não pude me conter, um largo sorriso se abriu em meu rosto. Ele sabia quem eu era. Já tinha ouvido os boatos entre anjos e humanos criarem conexões, mas eram apenas boatos. Afirmei com, acenando com a cabeça. Ele se remexeu na cama, tentando se sentar mas sem sucesso. Ele começou a falar sobre tudo, como se eu fosse um velho amigo. Eu conseguia me manter no assunto com a informação que tinha.Ele melhorou com o tempo, todos já estavam criando expectativas para seu retorno. Eu o visitava todo dia, com livros, desenhos - Quê curiosamente ele chamava de anime.- e comidas diferentes para alegra-lo. Havia conseguido um emprego e a mãe de Jin me acolherá em sua casa, ela não aceitava minha ajuda com os cuidados da casa, dizia que apenas cuidando de seu filho já estava bom, que eu era uma bênção. Eu ria disso, devido meu passado. Estava tudo dando certo. Nós seriamos felizes quando isso passasse.
Era uma tarde de primavera e as flores do jardim do hospital desabrochavam. Era uma tarde normal. Uma tarde linda e calma. Uma tarde como outras, entrei em seu quarto mas não havia ninguém ali. Ele não estava cem por cento recuperado, não deveria sair.
Parei uma enfermeira que passava por ali e a perguntei a respeito. A resposta foi como um soco forte em meu estômago. Me escorei contra a parede, até recuperar os sentidos e então corri. Corri da mesma forma que havia corrido no dia que cheguei neste lugar. Mas não corri com um objetivo, corri sem rumo, com as lágrimas formando riscos em meu rosto. Não podia ficar onde tudo me lembrava dele. Peguei um trem para outra cidade, o dinheiro que eu tinha em meu casaco me ajudaria a sobreviver por um tempo. Mas valeria a pena?O mundo é um lugar injusto. Onde se tem de tudo, podendo perder tudo a qualquer instante. Jin era puro, com seu moletom rosa e sorriso sincero. Tinha uma vida boa. Mas o destino quis assim. Lá no céu nos ensinam que Deus faz as coisas por um motivo, um motivo válido e que devemos aceitar suas escolhas. Se obedecermos, seremos compensados. Se formos movidos por razões puras, seremos compensados. O amor é o sentimento mais puro que há e por ele, eu perdi o céu. Por ele eu perdi tudo o que tinha, principalmente quem causou tal sentimento.
Agora, aqui, sem rumo, encostado na janela fria do trem, eu encaro meu reflexo, devastado. Jin foi a razão do meu viver, minha motivação. Ele foi o motivo das minhas ações, minhas puras ações, que deveriam me compensar, me tiraram tudo. Amor corrompe, cega. Acabei por me esfaquear com a faca de ambição venenosa, mas, para as ganâncias insustentáveis, a faca ficou sem corte... eu sei de tudo, esse amor é um outro nome para o mal. Tão ruim... mas tão doce.Ainda não é o fim.
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Angel Down: Prólogo kth + ksj
FantasyDe todas as coisas possíveis na minha vida, isso foi inesperado. No céu eu tinha um cargo bom, cujo o qual eu exercia com perfeição. Não havia do que reclamar, mesmo que a vida fosse monotona e previsível, era boa. Já eram séculos nisso e nada mudav...