⠀ ㅤ capítulo dois.

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Com toda a certeza, aquela foi uma das piores noites da minha vida. Em todos os meus treze anos de vida, eu nunca fui do tipo que sonhava muito. E todas as vezes em que realmente sonhei, os sonhos estavam mais para pesadelos; coisas como criaturas estranhas me perseguindo, pessoas que eu não conhecia falando coisas que não entendia ou ameaçando me machucar e... bem, um cara que deduzi ser o meu pai também resolvia aparecer por vezes. A fisionomia dele condizia e muito com o que mamãe contava: um sujeito alto e com o porte físico avantajado, de olhos azuis elétricos, cabelos escuros e uma barba grisalha e bem aparada, e que sempre aparecia usando um terno de risca de giz cinza. Então assumi que aquela era a idealização que eu tinha dele. Algo em que eu pudesse me agarrar se precisasse.

A questão era que eu nunca lidei muito bem com os pesadelos que eu tinha, o que me levava a ter crises que demoravam a passar e às vezes sintomas ainda piores, como enjoo, vômito e muito raramente convulsões. Então, não foi muito legal perceber o que estava acontecendo assim que consegui me colocar para dormir.

[...]

O ar estava espesso e carregado, do tipo que é difícil de respirar e que faz o seu nariz coçar. No entanto, não tive muito tempo para pensar sobre isso, ou em qualquer outra coisa, já que naquele instante uma figura entrou no local. Enquanto a pessoa atravessava o cômodo, eu parei para observar o local e constatei que eu definitivamente não sabia onde eu estava. Ignorei essa conclusão por hora e voltei minha atenção para a tal pessoa, que só então notei não estar sozinha. Instintivamente, me escondi atrás de um pilar de mármore branco muito velho e desgastado, e observei-os de longe. A figura que havia entrado anteriormente parou praticamente na outra ponta do salão em frente a um altar de pedra, estando afastado por poucos metros de uma sombra que se elevava no altar e eu só conseguia me perguntar o que raios estava acontecendo ali.

— Não temos muito tempo. Eles estão muito perto de descobrir sobre o plano e o que significa o desaparecimento de tantos semideuses. — quem eu percebi ser um garoto, disse num tom firme, porém claramente preocupado, e a sua postura tensa denunciava o quão importante era aquela conversa.

— Quieto, semideus. É tudo questão de quanto tempo eles vão demorar para perceber o que há de errado e se conseguem preparar um ataque eficiente em tão pouco tempo. De nada adianta uma investida mal planejada contra o que estamos preparando. — dessa vez, não consegui decifrar o que era, só tinha sensação de a conhecia e de que pertencia a alguém antigo, tão velho quanto aquelas vigas de mármore. — Não há riscos. O fato de que Gaia está acordando justo agora é um sinal de que nosso plano tem tudo para funcionar. Apenas siga as ordens que lhe foram dadas, semideus, e você terá o mundo aos seus pés.

Uma risada fria soou pelo lugar e eu senti um arrepio de medo em minha coluna.

— Sinto muito, o senhor tem razão. — o garoto pareceu pensar bem antes de falar qualquer coisa e eu me questionei o porquê.

— Muito bem. Agora vá, tenho mais o que fazer.

— Sim, senhor.

— Ah, antes que vá, sobre a semideusa que falou... — de repente, a voz parou subitamente de falar e o silêncio perpassou por poucos segundos antes de ele alegar o que seria a minha deixa para ir embora dali: — Tem alguém aqui.

Eu não sabia o que fazer, tive apenas o instinto de prender a respiração e me encostar contra o pilar, esperando que algum milagre acontecesse e eu saísse de lá viva. O garoto logo apareceu na minha frente, a poucos centímetros do meu rosto. E foi assim que percebi uma coisa: ele não conseguia me ver. Minha cabeça nesse momento se encontrava mais confusa do que qualquer coisa, contudo, fiz esforço para não fazer movimentos bruscos, como se ele pudesse farejar minha localização se eu me mexesse. Não fazia ideia do que poderia acontecer se me encontrassem e essa incerteza me fazia tremer de medo.

a tempestade de ouro ━ hdoOnde histórias criam vida. Descubra agora