Férias sem fim

Todos tinham esperado pelas férias de fim de ano.

As crianças brincavam na piscina enquanto os adultos bebiam e conversavam sobre assuntos triviais na varanda da casa de praia.

Uma brincadeira animou a tardinha: corrida em volta da piscina e, após uma das crianças gritar, todas as outras pulavam na água. Era perigoso correr ali, os adultos advertiram, mas nenhuma das crianças estava preocupada quando todos quiseram participar.

- Começar! - uma menina gritou, e então todas as outras crianças iniciaram a correria em volta da piscina.

Muitas risadas se seguiram por alguns minutos quando, de repente, a mesma menina gritou:

-Já!

E todas as crianças pularam na piscina quase simultaneamente. Um menino ruivo demorou um pouco mais para cair na água, então foi decidido que ele estaria fora da brincadeira. Saiu chateado pela escada da piscina, quase chorando, e foi se queixar com a mãe.

Depois de a ordem ter sido restabelecida, a menina que tinha gritado da primeira vez passou o posto para um menino magro e de cabelo encaracolado. Ele daria as ordens, mas de um dos cantos da piscina, sentado na borda. Fez suspense:

-Preparaaaaar! Um, dois, dois e meio, três!

As crianças soltavam gargalhadas e corriam em volta da piscina. As bordas, molhadas pela primeira rodada da brincadeira, estavam escorregadias em certos pontos.

O menino gritou:

- Todo mundo pra piscinaaaa!

As crianças se jogaram, mas nem todos foram rápidos o bastante. O menino mais velho seria o próximo a sair da brincadeira.

Quando voltaram à superfície para buscar ar, perceberam que a menina mais baixa não estava entre eles. O primeiro pensamento foi de que ela, de alguma maneira, tinha se afogado. As crianças olharam para o fundo da piscina e não a encontraram. Procuraram os adultos, na esperança de que ela estivesse com eles. Não estava.

O desespero tomou conta de todos. A menina teria saído? A noite estava para chegar e deixou a situação mais apavorante. Os homens saíram à procura da menina, enquanto as mulheres acalmavam as crianças.

O menino magro de cabelo encaracolado percebeu uma luz na piscina. Chegou mais perto e viu a menina desaparecida no fundo da piscina com os olhos sem cor e boca aberta. O menino gritou, gritou tanto até perder a voz. Uma das mulheres foi ver o que estava acontecendo, chamou pela menina, pulou na água e trouxe para a superfície o corpo frio da criança.

O menino saiu do estado de choque e viu as mulheres protegendo as outras crianças da terrível cena.

A menina viu seu próprio corpo ser carregado pela mulher e, no mesmo instante, entendeu o que tinha acontecido. Escorregara na borda da piscina. Ouviu a voz de uma menina de mesma idade. A garota, loira de olhos castanhos, desconhecida, falou:

- Desde que eu estou deste lado, eu espero meninas que estão para fazer a passagem da mesma maneira que eu fiz. Meninos são chatos, não gostaria de brincar com algum deles pela eternidade.

A recém-chegada estava sem voz. Viu o restante dos adultos aparecer e ouviu os gritos e o choro de todos no local. Uma menina negra, também desconhecida, disse:

- Sempre vamos a piscinas diferentes e em todas as férias conhecemos novas meninas. Sabe o que é mais legal? - ela pula e, depois de algum tempo, emerge - Nós não precisamos nos preocupar com a hora de sair daqui.

A garota, mesmo ouvindo o que a nova amiga tinha falado, se recusava a aceitar sua nova condição. Lembrou-se de sua mãe, seus tios e irmão. Deu dois passos para trás, mas, antes que conseguisse se afastar, uma menina com boias nos braços a empurrou.

Durante a queda, finalmente se deu conta de que não se despediria das pessoas que amava. Caiu na água de costas, e o menino magro de cabelo encaracolado pensou ter visto um movimento diferente na água da piscina.

A menina não precisava mais de ar. Estava, de uma hora para outra, muito contente com as meninas em volta da piscina. Era melhor que qualquer sonho: estava de férias a infância inteira, brincando com suas amigas.

FIM