Contos do Magiverso

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I

Do Que as Lendas São Feitas

Capítulo 1 - Grande Destino

Zadhian Vorx venerava o Astroporto de Puerto Mujeres. Órfão, sem lar, com pouquíssimas perspectivas em sua vida além de sobreviver para tornar-se outro Rato do Porto, Zad ainda não tinha destruída em seu peito a esperança de um dia encontrar seu Grande Destino (era assim que ele o imaginava, com maiúsculas e tudo). Quando o encontrasse, e tinha certeza que seria ali, saltaria sobre ele com todas as suas forças, e lutaria sem tréguas até conquistá-lo ou morrer na tentativa.

Mas para Zad, como para todos os outros jovens que partilhavam suas desventuras em busca do pão diário ou de umas poucas moedas para um eventual prazer mais refinado, "Rato do Porto" parecia ser o destino inevitável. Assim eram chamados todos os que faziam parte da grande massa de trabalhadores não qualificados que vagueavam pelo Astroporto, aceitando todo tipo de trabalho degradante que surgisse (quando surgisse) ou então lançando mão de qualquer expediente de legalidade questionável (criminoso) para tão somente assistir ainda outro raiar do dia.

Ou não.

Subiu em uma pilha de caixas enormes de plastiwood, prestes a serem embarcadas em um dos mega-cargueiros, para observar melhor a chegada de um impressionante galeão imperial baixando dos céus em uma doca próxima, orientada pelo raio de ancoragem. As velas cósmicas, mesmo recolhidas e presas contra o mastreamento reforçado, indicavam que aquela era uma nave construída para ter força e velocidade. A quantidade de canhoneiras em seu costado mostravam ferocidade, como presas afiadas de um possante predador celestial, e o cintilar do casco de teratitânio colapsado que exibia com orgulho convidava qualquer adversário atrevido o suficiente a atacá-la e fazer o seu pior. Zad nunca havia visto nave tão bela, tão terrível e tão impressionante quanto aquela. A fim de gravar para sempre na mente o nome que podia ler agora inscrito em seu costado, o repetiu em voz alta com reverência:

— "Imponente"!

— EI! Sai daí, moleque! - gritou um operador de estiva-droide, vendo-o sobre a carga que devia transportar. Os berros do operador acabariam atraindo algum dos seguranças do Astroporto, então Zad despencou correndo pelo outro lado da carga e zarpou dali, segurando um volume sob a camisa folgada.

Mas no geral aquele tinha sido um bom dia. Zad encontrou logo cedo uma bolsa de moedas mal vigiada e, antes que alguém pudesse dar conta, apanhou-a e desapareceu das vistas. Ainda ouviu alguns gritos esparsos bem depois de ter fugido do local, mas sua velocidade e agilidade já o haviam levado longe demais para que uma perseguição pudesse ser feita. Assim pensava ele.

Sem diminuir o ritmo, entrou por uma viela entulhada de lixo até a grade que fechava os fundos de um depósito de sucata, onde sabia haver uma pequena abertura oculta que dava passagem justa e exata a seu corpo mirrado. Com 14 anos mas pequeno para a idade graças a uma alimentação incerta e pouco variada, Zad porém começava a sentir-se alongando e encorpando, e imaginava ainda por quanto tempo seria capaz de usar aquela passagem em particular, ou outras similares, sem ficar entalado e vulnerável. Certificando-se que não estava sendo seguido nem vigiado, enfiou-se penosamente pela abertura, saiu do outro lado e esgueirou-se pelas montanhas de tralhas até entrar em seu esconderijo favorito, o vão entre dois prédios velhos cujos acessos estavam bloqueados por pilhas de cacarecos inúteis, através dos quais ainda conseguia se espremer para passar.

Quando viu-se em segurança, avaliou seu espólio. Era uma luxuosa bolsa negra com acabamento cintilante que a fazia parecer um pedaço da própria noite cortado e moldado para conter o que um ricaço chamaria de "trocados". Dentro dela, umas boas duas dúzias de moedas douradas, umas tantas argolas platinadas cravejadas de brilhantes estelares e uma pequena placa de um estranho metal verde com inscrições negras.

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⏰ Última atualização: Jan 22, 2014 ⏰

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