Crianças Bizarras!

As consequências - Delmiro

Tudo naquele lugar era diferente e novo. Eu estava completamente curioso e confuso sobre o que estava acontecendo. Onde estávamos parecia um grande hotel, mas eu sabia que aquela ilha deveria abrigar grandes mistérios, que iam além da minha imaginação. No quarto com a Nina, havíamos discutido várias possíveis teorias do que eles faziam na ilha. Ela era cheia de ideias incríveis sobre a evolução humana e como nós desenvolvemos essas habilidades. Além de linda, era brilhante. Como eu não poderia estar me apaixonando? Eu sabia que era pouco tempo, mas como eu podia evitar? Ela brilhava mais que mil estrelas.

Assim que terminei de comer e arrumei os talheres no prato, vi Gabi, Rizia, Caio, Fellipe e Lorde entrarem no refeitório. Gabi estava abraçada ao Caio que parecia extremamente infeliz. Rízia secava as lágrimas, quando Mags se levantou da mesa e correu para abraçá-la. Fiquei olhando sem dizer nada, sabia que tinha chegado a hora de enterrar o Vitor e o José.

-Quero que todos venham comigo. Vamos a uma praia aqui perto. Encontramos o José, com uma ajuda das minhas visões e do Caio.

Ela disse as últimas palavras apertando mais o abraço deles. Todos se entre olhavam, com expressões tristes, porém em silêncio.

-Vocês podem nos seguir. Os cor... seus amigos já estão no local.

Fellipe tomou a frente, um pouco atrapalhado nas palavras e foi em direção aos elevadores. Segui ele em silêncio assim como todos. Sempre caminhando ao lado da Nina. Aquele momento iria ser muito difícil para mim e para todos. O Vitor era novo, mas o José tinha chegado logo depois de mim, eu sempre me divertia com seus dramas e sua mania de fazer tudo virar pedra. Ele vivia interrompendo as aulas ou as conversas para pedir que alguém contasse uma história. Aquele pensamento me fez sorrir, mas logo me contive em respeito ao momento.

Descemos de elevador até o térreo, passamos pelo saguão de entrada e o frio da noite balançou meu cabelo. A Mags segurava a mão do Murilo, enquanto a Rízia a abraçava pelos ombros. A Nina encolheu-se ao meu lado e eu sorri para ela. Saímos do hotel, ele era o único prédio ou construção em quilômetros. Não havia ruas asfaltadas apenas trilhas de areia. 

Estávamos muito perto da praia e fomos caminhando em silêncio até ela. Tentei puxar pela memória tudo que eu sabia sobre o arquipélago e as coisas que conversei com Nina mais cedo. Galápagos era um conjunto de ilhas preservadas, famosas pelos estudos de Darwin sobre a evolução das espécies. Tinha algumas ilhas principais e várias ilhotas. A Nina me contou que apenas quatro delas eram habitadas, mas tinham pouquíssimas pessoas morando nelas. Claramente estávamos em uma das ilhotas desertas e sem habitantes, mas de alguma forma havia um hotel gigante. Será que ele era encoberto por algum poder?

Na parte onde estávamos havia poucas árvores e muita grama, dava para ver alguns cactos e uma floresta ao longe. Aquele hotel gigante parecia cada vez mais surreal. Por que ninguém falava sobre ele no jornal?  Será possível um hotel cheio de pessoas com poderes passar despercebido assim nos noticiários? Aqueles pensamentos só me encheram ainda mais de interrogações. A Nina olhava de um lado para o outro parecendo super curiosa, assim como o Murilo e o Richard. Ana e Gabs não estavam a vista e Ruan parecia encarar as costas do Lorde bastante chateado. 

Andei calmamente pela trilha de areia até chegarmos na praia. UAU. Foi tudo que consegui pensar. A areia era de um branco quase brilhante e a água de um azul tão azul, que não conseguiria descrever de outra forma. Estava praticamente sem folego, até identificar duas urnas de prata na areia, uma ao lado da outra e próximas ao mar. Suspirei sentindo tristeza abafar toda curiosidade. Coloquei uma mão no ombro da Nina.

Aos poucos fomos parando em um grande circulo em volta das urnas. Ventava bastante, mas o clima era fresco. O sol brilhava sobre minha testa e quase me arrependi de ter vindo de preto. Quase. Ana e Gabriel voltaram a aparecer e se posicionar no círculo.