Posso dizer que, depois de encontrar Antonella, meu falso auto controle ruiu. Precisaram de dois funcionários, um de cada lado, para me arrastar até a sala das marcas.
- Você vai ver só! - gritei, chutando o ar com meus pés pendentes. Os homens me seguravam alguns centímetros acima do chão.
- Sim. Com toda a certeza. - respondeu Antonella, sem deixar de lado o sorriso.
- Pare com isso, Alessa! - falou Meena, horrorizada. Ela aparecera bem no momento em que tentei esganar minha ex-madrasta - você sabe que Datha vai ficar furiosa com este comportamento!
Dei de ombros.
- Eu não ligo. - falei pausadamente - desde que eu possa matá-la!
Soquei um dos homens no braço, mas ele sequer se mexeu. Atravessamos um par de cortinas vermelhas, e fui jogada em uma cadeira reclinável com amarras. Os homens me esmagaram contra o assento, puxando as tiras de couro ao redor de meu tronco, pulsos e tornozelos. Puseram até um pedaço de pano em minha boca, que quase me fez vomitar pelo cheiro de álcool, cujo qual não consegui cuspir. Em seguida, Antonella e Meena entraram na sala branca, sentando-se uma de cada lado meu.
- Hmf-ham-hum!!! - tentei murmurar um pedido de ajuda para Meena, arregalando os olhos, mas o som abafado ficou ininteligível.
- Calma. - Meena disse, dando um tapinha de conforto em meu rosto. Sua expressão era cheia de pena, e os olhos azuis normalmente frios demonstravam remorso - vai... acabar logo.
"Acabar logo", ela disse. Não "não vai doer". Ah, Deus...
Um homem enorme, vestindo um capuz totalmente preto, entrou, sendo seu rosto recoberto pela sombra. Estremeci e me encolhi, tentando me afastar o máximo que as amarras permitiam daquele carrasco medieval. O homem sentou-se pesadamente em um banco de madeira que havia por ali, e arrastou-se sobre os azulejos brancos até estar muito próximo de mim. Percebi que eu estava suando de pavor, principalmente nas palmas fechadas, e que meus olhos não se desarregalavam.
O carrasco apontou um dedo nodoso em minha direção, balançando-o e virando-se para Antonella.
- O que você acha, Meena? - a mulher perguntou - onde pode ser?
- Acho que... - Meena engoliu em seco - na mão.
- Não. Aí seria muito visível. Acho que... - Antonella se virou de volta para o carrasco - no ombro.
Sem emitir um som, o homem recurvou-se sobre mim, abaixou bruscamente a alça fina de meu vestido, puxou uma faca da capa e também um isqueiro. Acendeu o isqueiro e pôs a lâmina sobre a chama, a luz tremulante me deixando em mais pânico ainda. Foi neste momento, que entendi como tudo ia acontecer.
Me debati, gritando:
- Ahn-te-iah! - queria dizer "anestesia".
Não adiantou. O homem apagou o fogo, balançou a faca, e simplesmente enfiou-a na carne de meu ombro, misturando o ato de cortar com o de queimar.
Juro que consegui ouvir meus gritos ecoarem pelo poço.
▶ Por: Ônix ◀
Não estava certo. Nada estava sendo como de costume. E eu não me referia somente a programação da Sociedade.
Sentia meu coração apertar, e continuar andando em círculos era tudo o que conseguia fazer.
- Isso não pode estar acontecendo. Todos de uma vez, Rubi. Todos os gritos e medicamentos de uma vez. Como vamos dar conta?! - falei, indignado.
- Calma, Ônix. Se você continuar assim, não vai adiantar nada. - Rubi respondeu, a voz baixa como sempre - e... não sei. Não sei como vamos conseguir cuidar de todos os feridos, principalmente sabendo da grande quantidade de novatos ultimamente.
Esfreguei as têmporas com força, sentindo uma dor de cabeça incômoda chegar.
- Normalmente... - Rubi começou, querendo desviar o foco de minha angústia - eu estaria rindo agora.
Parei.
- Por quê?
Ela sorriu de canto, levantando uma sobrancelha.
- Por causa da sua preocupação com a Alessa. São poucas as vezes em que fica desse jeito. - sua voz era carregada de humor.
Enrubeci, algo difícil de disfarçar na palidez de minhas bochechas, mesmo com tanto treino para disfarçar emoções.
- O que você quer dizer com isso? - minha carranca de mau-humor de repente é substituída por uma cara de preocupação, afinal, não preciso (e não tenho como) esconder nada de minha irmã - mas... você acha que ela está bem?
O sorriso de Rubi some, e ela toma uma expressão séria (que me lembra muito a mamãe). Ela se levanta e pega minha mão, apertando forte.
- Ela vai conseguir, Ônix. Não vai ser ela que terão de recolher e enterrar depois. Eu confio na Alessa. - seus olhos verdes, com traços de vermelho, transmitiam certeza absoluta.
Suspirei, duramente. Minha mente não parava de retornar para a imagem da bambola morta no chão, cuja qual me tivera como seu acompanhante, e que tivera uma artéria atingida pela faca em brasa. A lagoa de sangue fora difícil de limpar dos azulejos brancos, trabalho visível toda a vez em que passávamos na frente da sala.
- Tudo bem. Eu também confio nela. - respondi, por fim, tentando convencer a mim mesmo.
Então, Rubi sorriu novamente. Algo que durou apenas meio segundo, pois o poço, grande e propenso à ecos, começou a recitar algo sinistro: os gritos aterrorizados... de Alessa.
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☆Oi gente!!! Peço um bilhão de desculpas pela demora, mas é que meu celular deu problema, e é ele o instrumento que uso para escrever. Sei que este capítulo é pequeno, mas espero que tenham gostado (também da partezinha do Ônix!!! Prometo que irão haver mais assim).
Bjsss, logo, logo eu volto com mais, pra compensar o tempo perdido!!!!
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Porcelana - A Sociedade Secreta (Completo)
Viễn tưởng☆Sociedade Porcelana - Livro 1☆ "Pareciam bonecos em uma estante. Seus rostos, tão lindos, não tinham emoção alguma. Suas peles, tão brancas e sem marcas, pareciam porcelana. Seus olhos, tão multicoloridos, pareciam pingos de cor em uma tela vazia...