Decisões e Descuidos

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Fui para casa perdida em pensamentos. Minha prima percebeu que eu não estava bem, mas eu tentei parecer bem ao máximo. No caminho de casa eu só pensava em ir para casa, para minha cama, tomar um remédio para dor de cabeça e ficar deitada. Eu estava muito cansada, apesar de ter dormido tanto. E ainda tinha Valentyn. Não entendi o porquê do beijo que ele me deu. Mas, o que ele fez foi errado. Doeu demais. Os lábios dele são iguais aos de Dilan. Não vejo Valentyn como algo mais do que um amigo. Eu o vejo como um irmão. E o beijo dele me lembrou dos momentos que passei com Dilan antes dele...

-Erika. – ouvi me chamarem.

Nem tinha percebido que já havia chegado ao condomínio. Eu realmente estava no piloto automático.

-Você está bem? – perguntou a professora Alice.

-Ah. Boa Noite. Eu estou bem e você minha amiga? – perguntei com um sorriso no rosto.

-Eu é que estou bem. Por que choras?

-Eu não estou chorando. – eu nem percebi que lágrimas caiam – Vai sair?

-Vou no supermercado e depois na locadora pegar uns filmes para assistirmos juntas. Vai me esperar na sua casa ou na minha?

-Na minha mesmo. – respondi.

-Ok. Não cometa nenhuma loucura. – ela me olhou com cautela.

-Não sou desse tipo. Você sabe.

Nos despedimos e entrei em casa. Fui para meu quarto, troquei de roupa e desci para a sala. Felipe estava lá.

-Você me levou para meu quarto ontem não foi? – perguntei.

-Foi. De nada.

-Engraçadinho. Como entrou aqui?

-Você deixa a porta destrancada, sabe.

-Ah. Entendi.

-Posso te fazer algumas perguntas?

-Pode. E seja breve. Estou morrendo de dor de cabeça.

-Onde estão seus pais? Não vi ninguém vindo para cá.

-Viajando. Meus irmãos mais novos estão na minha vó porque é mais perto do colégio deles. Minha irmã mais velha tá na casa das amigas e meu irmão mais velho está na casa dele. Os dois vem ficar comigo amanhã.

-Então você está só.

-Não. Estou com você. – revirei os olhos – E, tem muita gente cuidando de mim. Minhas tias moram aqui perto, meus amigos e professores também. Não estou só e sempre tenho algo para fazer, por isso é difícil alguém vir. Eu é que vou até eles.

-Isso é perigoso. Podem pegar você. – ele olhou para mim e eu dei de ombros – Mais uma pergunta: Você tem alguma doença?

-Por que pergunta isso? – olhei para ele sem entender.

-Ontem, quando Valentyn ligou, você não estava bem. Parecia que você estava com uma falta de ar enorme ou tivesse tomado algum remédio para dormir, não sei... é como se você estivesse dopada.

Ah. Então não foi só eu que me senti uma drogada! Eu estava realmente parecendo uma drogada. Que vergonha!

-Quando minha mãe estava grávida de mim... ela ficou doente. Muito doente. Eu nasci de oito meses porque meu coração era fraco. Eu tinha tudo para ter morrido. Mas, depois de passar quase meu primeiro ano de vida inteiro, internada, recebi alta. Milagrosamente eu estava bem. O médico avisou para minha mãe que jamais eu poderia ter emoções fortes, pois eu poderia morrer. Quando nasci, tive meu primeiro infarto. Aos quatro anos, meu tio que eu adorava brincar, morreu. Eu tive dois infartos ao mesmo tempo. Os médicos disseram que eu era um milagre. Como uma criança sobreviveu a três infartos? Só pode ser uma guerreira. Meus pais, muito apegados a religião, diziam que foi Deus que me manteve viva. E, acredito que essa seja a única explicação. Por muito tempo, meus pais hesitaram em me deixar só ou ter alguma forte emoção. Mas, hoje eles estão mais calmos.

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