Capítulo 1

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Quando você está sentada na sacada do seu quarto com os fones de ouvidos no último volume, acho que é meio inevitável não viajar em pensamentos. Desde que me entendo por gente a música sempre foi meu ponto de escape e onde eu descontava tudo e hoje eu posso ver um ponto positivo em meio ao que os outros vêem só por rebeldia.

Eu me considero o tipo de garota que seria perfeita por esnobar os outros e colocá-los pra baixo, mas eu simplesmente não consigo ser assim. Eu não consigo me ver desprezando as pessoas por coisas que não são culpa delas e diminuindo a auto-estima alheia por prazer próprio e muita das vezes sou julgada por isso, afinal é o que todos esperariam de mim por ter nascido em uma família rica e ser rodeada de pessoas axatamente assim.

Mas eu sei como é ser machucada.

Eu não deveria reclamar da vida por nenhum momento, afinal não se tem do que reclamar, mas parece que o ser humano tem a estranha necessidade de arrumar problemas e reclamar do mundo e eu não fujo à regra.

Minha mãe ficou muito doente quando me deu a luz e não demorou muitos dias até vir à falecer e por mais que eu tenha sentido falta de ter uma mãe verdadeira a minha vida toda, não deveria reclamar, mas às vezes é inevitável.

Papai se casou com Mirella quando eu tinha seis anos e desde então eu tenho uma pessoa a quem posso chamar de mãe. Naquela época eu ainda acreditava que todas as madrastas fossem más por conta de todas as história da Disney, mas não demorou muito tempo até que eu percebesse que tudo era fruto da imaginação fértil de uma criança.

Mirella não era nenhuma cobra e estava com o meu pai porque realmente o amava e isso foi suficiente pra que ela ganhasse a minha confiança. Desde então me acompanhou em festinhas da escola, nas aulas de ballet, ensinava o dever de casa entre outras "coisas de mãe" e  digo com toda certeza que ela está fazendo um ótimo trabalho. Sem falar nas aulinhas de paquera que ela ama me ensinar.

— No que está pensando, mocinha? — pergunta Vera depois de me cutucar e me fazer arrancar os fones.

Acho que o meu quarto é o único em que ela entra sem pedir permissão e eu amo isso.

— Nada em especial. São só bobagens. — digo com um sorriso.

— Seu olhar estava distante. Tenho certeza que estava pensando em algo de importante sim. Está apaixonada, menina?

— Não! — digo rindo — Por que uma garota não pode estar longe pensando em qualquer coisa que não seja um garoto? É regra? — pergunto fingindo indignação, ainda com um sorriso no rosto.

— Não, mas é bem comum isso acontecer e é a primeira coisa que nós, velhotes, esperamos. Sem falar que você é muito bonita e ainda não sei como ainda não apareceu com um namoradinho.

— Exatamente por esse motivo. Não quero que seja apenas um namoradinho descartável como as filhas dos amigos do meu pai têm. Quando eu anunciar alguém quero que seja alguém que eu me importe de verdade e não só mais um pra entrar na lista. — digo olhando o sol se pôr além dos limites do condomínio.

— Sua mãe teria muito orgulho de você, menina. Na pessoa que se tornou.

— Você conheceu bem ela, não foi? — a olho — Não sei de como ela era.

— Você é ela todinha. Tanto na beleza quanto na personalidade. Apesar de que na personalidade você tenha puxado ser cabeça dura igual os seu pai. — ela diz me dando um tapinha na cabeça e me fazendo rir.

— É, tenho que concordar.

O sorriso se mantém no meu rosto por alguns minutos antes de sumirem completamente e eu apoio minha cabeça no ombro de Vera, que agora está sentada ao meu lado. Nós ficamos assim por um bom tempo, enquanto falamos sobre assuntos alheios e sem importância, mas esses momentos têm extrema importância pra mim.

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