Querido amor,

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Querido amor,

sou eu, a Clara, você se lembra de mim? Acho que não, afinal, foram poucas ás vezes em que você apareceu por aqui. Confesso que nunca fui muito de acreditar na sua existência, acreditava em paixão, tesão, mas em amor, não. Para mim você não passava de um mito, um relato fantástico desejado em demasiado. Ainda assim, eu ouvi falar de você a minha vida inteira e nunca pude deixar de imaginar como seria se você aparecesse na minha vida.

Os anos se passaram, e cheguei aos meus quinze sem nunca ter te encontrado, de fato. É claro que meu coração já havia batido mais forte por alguém e borboletas enxeridas invadido o meu estômago, mas no fundo, eu sabia que aquilo não era amor. Não poderia ser. Porque amor não acaba. Amor é infinito. Mesmo que o conceito de infinito seja algo extremamente relativo. Amor é aquela coisinha que transcende as barreiras do Tempo e até da vida. Que Dona Morte não fique chateada comigo, mas nem ela, em toda a sua soberania é capaz de destruir você. Mas isso, eu só fui entender depois de muito Tempo.

Eu me lembro direitinho do dia em que te conheci, foi lindo. Intenso. Libertador. Eu estava me arrumando para sair e, como sempre, podia sentir a crise de ansiedade se aproximando. Elas estavam cada vez mais frequentes, a ponto de se tornarem as minhas melhores amigas. Me perseguiam aonde quer que eu fosse, com quem eu estivesse. Mas é claro que eu não contei pra ninguém, não podia, porque contar significava ter que dar explicações e eu não me sentia pronta o suficiente para tocar naquele assunto com ninguém. Podia ouvir as vozes na minha cabeça sussurrando as mesmas palavras feias de sempre, mas o pior de tudo, era que todas elas, eram verdadeiras. Não eram só coisa da minha cabeça. Os comentários eram reais. Os apelidos, também. Me olhar no espelho era torturante, mas ainda assim, era como eu gastava as minhas horas. Sentada, em pé. Sem roupa, com roupa. Com o cabelo preso, com o cabelo solto. Com maquiagem, sem maquiagem.

Tudo para tentar te encontrar. Me encontrar.

Mas naquele dia, as coisas foram diferentes. A menina no espelho não se parecia comigo. Ela era tão bonita, mesmo com os seus quilinhos a mais. Era aquele tipo de pessoa que quando passa na rua, a gente não pode deixar de admirar. Invejar, até. Só tinha um problema, os seus olhos estavam tristes. Cansados. Eram grandes e chorosos, como uma folha molhada no escuro. Os longos cílios pareciam esconder parte de toda a dor estampada naquelas orbes do tom de chocolate. E foi então, que a ficha caiu.

Aquela menina, era eu.

E, ai, eu finalmente compreendi. Você esteve ali o tempo todo, só eu que não vi. Daquele dia em diante, eu percebi que, para desejar o amor de alguém, a gente precisa se amar primeiro, e não existe coisa mais linda e mais pura, do que o Amor que a gente sente por si mesmo.

E os olhos da menina no espelho nunca ficaram tão brilhantes quanto naquele momento.

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Acho que esse conto foi uma das coisas mais simples e verdadeiras que eu já escrevi em toda a minha vida. Abrir o meu coração para o Amor parecia algo engraçado, mas tinha cheiro de desafio então eu resolvi arriscar. Escrever esse conto foi tão libertador quanto abrir a porta da minha alma para o Amor. E eu espero muito que vocês tenham gostado! ♥

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