Parte Três

107 9 0
                                    

NOTA DA AUTORA: Recomendo ler a última parte com a música que anexei no player. Boa leitura!  



"Ei, Mai, vem comigo" Ele sussurrou em meu ouvido enquanto bailávamos a música lenta.

"Para onde?" Perguntei.

"Quero respirar com você" Respondeu, ignorando minha pergunta. Olhei em seus olhos e sorri, mesmo não entendendo o que ele queria dizer. Ele sabia que eu iria para onde quer que ele me levasse.

Ele me puxou para fora do salão, estava muito escuro e a rua não tinha muita iluminação. Ele me encostou no portão do salão e começamos a nos beijar. Ouvimos um barulho estranho e paramos. Vi um vulto se aproximar e meu coração bateu mais forte. Alfonso se pôs frente a mim e eu me agarrei com força em seu dorso. Pisando leve, o vulto se aproximou mais e gritou para que o seguisse.

"Fica tranquila amor, vai dar tudo certo." Ele disse quase inaudível enquanto caminhávamos na frente do vulto.

"Cadê o dinheiro cara? Cadê?" Vociferou o vulto.

"Não, não temos nada, cara." Alfonso tentou explicar. "Nós..."

"Mentirosos!" Acusou ele, visivelmente muito nervoso.

"Poncho, estou com medo" sussurrei para ele, chorando baixo.

"Vai ficar tudo bem, meu amor, só fique tranquila, estou aqui com você. Nada de mal vai acontecer a você." Me assegurou ele, me abraçando firme. Notamos que estávamos no estacionamento, agora ermo, apenas com carros como companhia.

"Vamos lá casal, vai passando o que tiverem."

"É que não temos" Eu disse, com a voz trêmula. "Nossas coisas estão lá dentro"

"Sua garota mentirosa! Pare de mentir para mim, pare agora!" Ralhou, avançando para onde estávamos Alfonso e eu. Alfonso se pôs entre eu e o homem irritado.

"Ei, ei! Ela está falando a verdade, cara, não temos nada aqui, nem meu celular eu trouxe" Alfonso disse. "Olha só, se você deixar a gente ir, juramos que não contamos nada a ninguém. Ninguém jamais vai saber que você esteve aqui."

"Vocês estão me enrolando"

"Pode acreditar que não, só queremos sair dessa bem." Ele continuou. "Mas viram nós sairmos e, provavelmente, já devem estar nos procurando."

"Eles devem, inclusive, estar aqui fora. Você não vai querer causar uma cena, não é?" Eu disse, dando um passo à frente.

"Cala a boca patricinha de merda, ou te mato aqui mesmo!" Eu me calei assustada e Alfonso mais uma vez se pôs frente a mim.

"Ei, deixa ela em paz. Libera a gente, vai ser melhor para todo mundo"

"Você está me ameaçando seu playboy? Vai ver como é bom ameaçar quando sua boca imunda estiver há sete palmos do chão. Me passa logo o dinheiro ou eu atiro!" Meu coração gelou ao ouvir essa frase.

"Eu não estou ameaçando, porra!" Alfonso aumentou o tom de voz e abri os olhos assustada. "Mas se acontecer algo à mim, ou à minha namorada você vai pagar" Alfonso falou, avançando para cima do homem.

Não durou muito para que o estalado rápido e ensurdecedor tomasse conta do ambiente e, logo depois, ouvi o gemido de Alfonso. Meu coração batia descompassado e fiquei alguns instantes sem respirar. Alfonso cambaleou para cima de mim e, como ele era muito mais pesado, caí com ele no chão do estacionamento, seu corpo estava contra o meu.

Como ele caiu sobre mim, me impediu de gritar. Pude ouvir os passos pesados do vulto se afastando e, com medo, eu comecei a chorar. Com muito esforço, o empurrei para o lado e me vi cheia de sangue. Alfonso estava imóvel ao meu lado. Os momentos seguintes, vi em câmera lenta.

____________________________________

Ele não estava muito diferente de meus pensamentos, só estava mais pálido, sem expressão nenhuma e também não parecia sentir dor, estava sereno. Eu fiquei ao seu lado.


Lá estava na ponta dos meus dedos,

Lá estava na ponta da minha língua,

Lá estava você e eu nunca estive tão longe,

Lá estava o mundo inteiro preso dentro dos meus braços,

E eu deixei tudo escapar. 


Toquei seu cabelo macio e então o tão conhecido choque elétrico reacendeu meu coração.


Há uma chuva que nunca para de cair,

Há um muro que eu tentei derrubar.

O que eu deveria ter dito não conseguia sair dos meus lábios,

Então eu guardei pra mim e agora chegamos a isso,

E agora é tarde demais. 


Descendo as mãos toquei seu lábio gélido e fechei os olhos. Aqueles mesmos lábios que tomaram os meus com amor tantas e tantas vezes. As lágrimas rolavam sem controle dos meus olhos. Desci mais um pouco e peguei uma de suas mãos. Apertei forte e um soluço escapou do fundo da alma.

O que eu faço agora que você foi?

Sem plano b, sem segunda chance,

E ninguém para culpar

Tudo o que eu ouço no silêncio que restou

São as palavras que não pude dizer. 


Palavras Que Não Pude Dizer (Conto)Onde histórias criam vida. Descubra agora