Duas Mortes Sobre a Cama

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[Música: The Rigs - All the king's men]


As duas portas do quarto abriram como se um trovão tivesse caído ao lado, quebrando o silêncio em que o quarto se encontrava.

As vestes dela cintilavam pelo chão com a leveza de uma pena levada pelo vento. Uma pureza angelical em tons amarelos, brancos e dourados que adornavam a sua pele branca.

O passo apressado e determinado dela movimentava os seus cabelos ondulados de cor avelã.

- O que se passa aqui? - Perguntou com frieza.

- Minha Senhora! – Expressou atrapalhado e surpreso um dos homens presentes. – Nós...

- Lamento, minha senhora. – Interpelou outro, com o semblante baixo.

- Lamenta?

Os cavaleiros desviaram-se.

Lorde Humblestock estava deitado na sua cama de madeira negra. Uma toalha ensanguentada tapava-lhe a barriga.

Ela pressionou os lábios aprisionando qualquer reação. Manteve-se firme e indiferente.

- Saiam.

- Mas senhora....

- Eu disse: SAIAM! – Gritou.

Após uma vénia os cinco cavaleiros saíram do quarto fechando as portas atrás de si.

Inspirou e avançou com cautela para a cama.

- Oh Kale. . . - Murmurou.

Ele abriu os olhos lentamente e esforçou-se para esboçar um sorriso.

Ela acariciou o seu rosto pálido.

- Katherine. – Ele murmurou.

- Shhhh. - Colocou o dedo indicador sob os lábios dele. - Não digas nada.

- Mas preciso. - Ele retirou a mão dela e colocou-a sobre o seu peito. O seu batimento cardíaco era tão franco e impercetível que traçou o coração de Katherine. - Meu amor.

Ela não conseguiu segurar as lágrimas acumuladas na sua linha d'água e as mesmas acabaram por rolar. A dor e o aperto no seu peito eram dolorosas demais para conter.

- Não chores. – Ele pediu-lhe. - Dói-me ver-te assim.

Katherine sorriu, sentando-se no limite da cama, ao seu lado. – Tenho a certeza de que a dor é da ferida. – Ele tentou rir mas acabou por tossir. - O que aconteceu?

Lorde Humblestock retraiu-se. – Algo inevitável.

- Quem te fez isto? – Katherine corrigiu a pergunta seriamente.

- Temo que eu próprio.

- Kale...

- Não chores. – Pediu-lhe novamente. – Não suporto ver a pessoa que mais amei na vida com um semblante tão triste.

Katherine baixou o rosto. Tentou assimilar o que estava a acontecer, mas estava tão envolvida na adrenalina que fazia o seu coração bater descompassado, que não conseguiu pensar devidamente.

- Não há nada que possa fazer? – Acabou por perguntar-lhe.

- Não. O golpe é demasiado fundo. Nem todo o teu poder conseguiria curar a minha ferida.

- De que me serve tanto poder se não o posso usar para o que me conforta?

- Usas para o bem, é tudo o que interessa. – Disse com dificuldade.

Duas Mortes Sobre a Cama - ContoOnde histórias criam vida. Descubra agora