Ela havia mandado um sms durante minha aula de informática, apenas 3 palavras em tom de urgência. Sou do tipo bem desligado das coisas, mas eu já suspeitava do que se tratava e isso foi o suficiente para me fazer perder o foco. Eu gostava do curso, mas pela primeira vez estava pedindo a Deus para ouvir aquele sonoro símbolo de liberdade. A imagem dela vinha como um filme em minha mente, seu sorriso tão espontâneo, o vestido florido, o cabelo castanho soprado pelo vento, a chuva fria caindo sobre nós enquanto corríamos para um lugar onde pudêssemos nos proteger. Naquele fatídico sábado fomos ao parque de diversões, toda a galera reunida para comemorar o niver do Mateus, mas em algum momento todo mundo se separou e ficamos só eu e ela. Compramos sorvetes e algodão doce, estávamos lá sentados em um banco, falando groselhas e rindo de qualquer besteira. No segundo que a encarei pela primeira vez com olhos sérios, a terra parou no próprio eixo.
- Ei Victor, tá lembrando do trabalho de amanhã né?
- Hein?
Me vi de volta no presente, o cenário ao meu redor era a galera toda indo em direção aos corredores e eu ficando sozinho na sala. Me levantei num impulso, peguei a mochila e me juntei ao fluxo de alunos. Quando finalmente cheguei ao portal da escola ela estava lá sentada num dos bancos próximo à fonte, ela sorriu para mim mas aquilo não conseguia encobrir a preocupação estampada em sua face. Com passos despreocupado me aproximei e me sentei ao seu lado, ela simplesmente me abraçou e soluçou baixinho como uma criança que acordou no meio da noite por causa de um pesadelo.
Esperei pacientemente até que ela se acalmasse e enquanto enxugava as lágrimas me falava o que aconteceu.
- Eu não sabia mais com quem falar.... Ô Vic, eu fiz uma besteira e não sei o quê fazer...se a minha mãe souber vai me matar.
- Você já contou pra ele?
- Ele disse que comprava um parada pra mim se eu quisesse, sabe... pra dar um jeito.
A dona daqueles olhos sempre tão vivos agora tinha um olhar profundo, cheio de culpa e uma criança no ventre. Avisei pra ela ter cuidado, ela própria sabia disso e não mediu as consequências dos seus atos. Agora já é tarde, eu não a condeno, mas ela não tem como ignorar, um dia todos temos que ser maduros o suficiente para assumir responsabilidades. Gravidez na adolescência é foda, verdade seja dita, a vida dela vai mudar drasticamente, sua rotina, suas prioridades, o olhar das pessoas...
As mulheres tem um raciocínio estranho... minha mãe por exemplo, sempre diz que se eu aparecer antes do tempo com uma mina grávida me coloca pra fora de casa. E na boa, ela tá certa... que condições eu tenho de sobreviver sozinho? Como vou sustentar mais duas pessoas sem emprego? Onde vamos morar? O que vamos comer? Eu sou jovem demais, tem muita coisa que quero fazer antes de me amarrar e não quero ouvir reclamações de uma esposa frustada com uma vida de merda.
Eu não sei o que acontece, as mulheres dizem ser tão donas de si... a lógica seria que se dessem sempre bem. Não se trata de ser interesseira e querer dar um golpe num daqueles milionários que já estão com o pé na cova, mas sim procurar viver bem. Infelizmente para algumas ser inteligente não é sinônimo de ser esperta e é por causa da ingenuidade e da entrega total de seus sentimentos e corpos no momento errado que acabam assim com uma gravidez indesejada, ou melhor dizendo com uma gravidez impensada porque nós estamos saturados de informações sobre isso e se não desejamos sabemos como evitar.
- Olha, você não pode esconder de sua mãe, precisa abrir o jogo logo e resolver isso com o cara antes que eu vá e arrebente ele todo. O que tá feito tá feito, agora bola pra frente porque a vida continua...
Por fora minhas palavras eram de incentivo, por dentro era como um soco no estômago. Apesar de tudo ela era minha amiga e eu daria total apoio mesmo ela sabendo o quanto sua tristeza podia me machucar. Passamos algum tempo ali, começamos a falar sobre a escola, a formatura que se aproximava e mais algumas banalidades. Diante de nós, lá no horizonte o sol riscava o céu com traços vermelhos indicando que seu expediente se encerrara. Já estava na hora de ir para casa.
- Obrigada por me ouvir...
- É pra isso que servem os amigos, flor. Vamos lá, eu te levo para casa.
Nos levantamos do banco e caminhamos em direção ao estacionamento, ela caminhou silenciosamente, olhava fixamente para frente, em sua face os sinais da preocupação pareciam mais brandos como se eu tivesse tirado um peso enorme de suas costas. Lhe passei o capacete que ela prontamente afivelou sob o queixo, quando me certifiquei de que ela estava segura dei a partida, avançamos e nos misturamos ao mar de automóveis.
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Convergindo (Em Construção)
Teen Fiction"...toda essa história começou há seis semanas atrás quando minha rotina continuava pacífica e monótona... aliás, eu já estava contando os dias para minha formatura, não porque estivesse empolgada e sim por querer me ver logo livre disso. Tão inocen...