...E De Repente Deu Tudo Errado...

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São exatamente 18 hrs, eu sei disso porque estou olhando para o relógio de 5 em 5 min. Ao que parece meus pais irão sair para uma festa, um baile beneficente e isso é muitoooo conveniente. Eu estava a ponto de abrir o jogo e tacar um foda-se se eles não aceitassem quando minha mãe anunciou que hoje seria uma noite de gala, um importante evento para angariar fundos para um hospital que trata de doentes terminais, pelo que mencionou até o governador marcaria presença...

Tento me manter calmo para não levantar suspeitas.

- E aí mãe, que horas vocês vão voltar?

- Ah filho, você sabe que nessas ocasiões não estipulamos horários... tem certeza que não quer mesmo ir? A sua tia e suas primas vão estar lá também...

- Tenho mãe... não tô a fim... diz para elas que mandei um oi...

Minha mãe estava muito elegante com um vestido preto e joias douradas, ela e meu pai formavam um aristocrático casal capa de revista. Ela vem de uma família bem tradicional de onde herdou as terras ocupadas por nossa extensa propriedade, ele é dono de uma empresa especializada em desenvolver tecnologia para microchips... enfim, não me considero nenhum príncipe encantado.

- Beijos querido, não durma tão tarde.

Eu e Dona Mercedes damos adeus até que o carro desapareça na estrada de terra. Tomo coragem e faço uma tentativa.

- Mercedes??

- O que você está tramando hein menino?

Não havia como enrolar ela... me conhecia desde que eu ainda usava fraudas. Abri o jogo, falei tudo de uma vez, ela me ouviu pacientemente sem surtar, como minha mãe provavelmente teria feito. Me senti aliviado por falar sobre aquilo e de certa forma encorajado a contar para meus pais quando eles voltassem.

- Bom, pelo que sei... já são 18 hrs e 30...

Ela olhou para o relógio com um sorriso cúmplice.

- Então quer dizer, que tá de boas pra você???

- Vai logo tomar banho senão você vai se atrasar...

- Valeuuuus você é foda...

Praticamente voei pelas escadas, tomei uma ducha só pra me refrescar mesmo e vesti qualquer roupa... eu não tinha tempo para escolher nada mais elaborado. Peguei o casaco e enfiei nos bolsos as letras que eu tinha e minha palheta. O David que ia levar os instrumentos no carro do pai dele e os outros provavelmente já estariam organizando tudo inclusive as mesas de som. Desci as escadas correndo, precisava pegar a chave de um dos carros no escritório do meu pai. Precisava fazer tudo direito senão eu tava fodido. O evento iniciaria às 19 h e 20 min. eu teria uma boa margem de tempo se mantivesse uma velocidade constante e se não tivesse muito engarrafamento.

- Por favor, tenha cuidado na estrada...

- Pode deixar...

O céu acima era um extenso véu negro, a lua se impunha majestosa entre as estrelas, esta seria uma noite perfeita.

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O conversível prata estacionou à minha porta exatamente ás 19 hrs, ele desceu e veio abrir a porta para que eu entrasse... como um perfeito cavalheiro. Na janela do segundo andar as bisbilhoteiras estavam nos observando. Eu dei um tchauzinho provocante quando ele acelerou e partimos rumo ao nosso destino. Não sei se era impressão minha, mas havia um toque mágico no ar, a lua cheia parecia mais próxima da terra. Uma fria garoa riscava os vidros da janela, e até cheguei a me preocupar um pouco se a umidade não afetaria sua visibilidade no trânsito. Na verdade eu estava bastante ansiosa e nervosa. Com uma das mãos ele afagou a minha enquanto que com a outra girava o volante. O carro deslizava suavemente sobre o asfalto. Do lado de fora os postes iluminavam a rua, pessoas iam e vinham com seus guarda-chuvas e capas, lojas de roupas, sapatos, bolsas, escritórios de consultoria financeira além de lanchonetes e sorveterias que aos poucos iam abrindo suas portas para pais com seus filhos e jovens casais de namorados. O fim de semana é como uma válvula de escape que passamos todos os dias úteis implorando para que chegue.

Convergindo (Em Construção)Onde histórias criam vida. Descubra agora