Um Breve Final Feliz

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Quando saí do hospital ele estava dormindo, procurei a enfermeira e pedi que ela desse uma olhada nele porque eu precisava ir em casa ver se estava tudo bem. Eram 10 hrs e 45 min, na portaria seu Pedro conversava com uma mulher que parecia muito aflita.

- Onde está o meu filho? O que fizeram com ele?

Eu me aproximei e me identifiquei como a pessoa que havia ligado para ela e com a ajuda de seu Pedro lhe contei toda a história. Ela ficou aliviada em saber que ele estava vivo e pediu que me levasse até ele. Falei que só precisava ver se estava tudo ok no meu ap e depois das 15 hrs que era quando começava o horário de visitas eu a levaria até lá.

Subimos até o 4º andar, seu Pedro havia dado a chave do ap dele para ela, ela se emocionou ao ver o quarto do filho. Eu a deixei lá, tentando matar as saudades do filho por intermédio de seus bens pessoais e fui para meu próprio quarto. Tudo estava no seu devido lugar, as luzes acesas e as janelas trancadas, o celular com várias chamadas perdidas da minha mãe. Retornei a ligação mas chamou que caiu na caixa postal.

Eu precisava urgentemente de um banho e lavar as marcas do sangue do Fernando que haviam ficado na minha camiseta.

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- Victor?! A Sarah recebeu alta do hospital...

Quando abri os olhos minha mãe estava na beira da minha cama com o telefone na mão, havia trazido um lanche para mim. Eu nem me lembro quando capotei, só sei que agora o meu despertador marca 15 min para as 15 hrs. Ela me olha com um sorriso daqueles que só mãe tem, ela sabia que de certa forma eu estava aliviado por minha amiga estar bem.

- Você vai nessa viagem?

Ela me estendia a permissão para a excursão da escola. Essa bisbilhoteira tinha mexido nas minhas coisas novamente... Com tanta treta que houve, eu até tinha me esquecido...

- Sei lá... eu tava até animado... mas...

- Ah, você vai sim!!! Até onde sei, você não está doente. 

Apenas olhei para ela em silêncio.

- Não me olhe assim! Não me faça te dar uns bons tabefes para você sair dessa fossa, moleque...

Num impulso me levantei e a abracei, ela podia não saber como concertar meu coração, mas sabia aliviar minha alma.

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Na sala o silêncio reinava, meu pai com seu exemplar diário do jornal e minha mãe com uma revista de moda. Quando me aproximei ele dobrou o jornal, me encarou e fez sinal para que eu puxasse uma cadeira.

- William, hoje eu percebi que uma das chaves dos carros não estava no lugar em que eu deixei... como você explica isso?

Puta merda, tô fodido.

Minha mãe nada falava, continuava a folhear sua revista como se estivesse tudo na mais perfeita ordem. Bom, nem adiantava mentir, o negócio era abrir logo o jogo porque a essa altura do campeonato eles já deviam está sabendo mais da metade da história.

- Bom... ontem à noite eu saí.

- Saiu? Para onde??

- Randgrid, um Pub que fica lá no centro...

- E que diabos você foi fazer lá?

- Quer mesmo saber? Eu fui tocar com meus amigos e antes que você diga mais alguma coisa, olha!!! É o que Eu gosto de fazer... não sou como vocês. Eu tenho minha própria vida, meus próprios sonhos...

- Tem mais alguma coisa que queira nos contar?

Minha mãe me olhava fixamente com alguns envelopes em mãos, eram algumas cartas de admissão. Meu único desafio era escolher o quê cursar.

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Aparentemente adormeci novamente, rolo na cama e confiro o celular, a caixa de mensagens está cheia, eu nem me dou ao trabalho de olhar pois já sei de quem são. Me levanto da minha fossa, no quarto ao lado minhas meia-irmãs pintam as unhas, elas correm para a porta quando me veem passar. Caminho arrastando os pés em direção ao banheiro. Olho no espelho, meu cabelo está bem bagunçado, os cachos resultantes do babyliss estão se desfazendo, a sombra sumiu da minhas pálpebras mas ainda há uns pontos brilhantes aqui acolá. Meus olhos estão inchados, minha cara amassada, eu encaro aquela pessoa deprimente a me observar.

Já chega disso !!!

Retiro o anel do meu anular e jogo no cesto de lixo, pego o demaquilante na gaveta do pequeno armário que há no nosso banheiro e começo a remover decididamente as marcas da noite anterior da minha vida.

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Quando acordei, ela não estava mais aqui, havia uma outra mulher no seu lugar e esta me olhava com muito amor e ternura. As lágrimas correram por sua face quando sorri para ela. Pedi que ela se aproximasse, eu precisava muito de sua presença. Sentada na cadeira ao lado da minha cama ela começou a falar que o imprestável do companheiro havia saído de casa e não voltado mais, 3 dias depois acharam o corpo no meio dos matos. Parece que estava no dia e na hora errada no barzinho da esquina.

- Fui no seu apartamento... Aquela moça me levou lá... Ela é sua namorada?

- Rs mãe, só uma amiga...

Ela me olhou, seus olhos brilhavam de felicidade e um toque de dúvida quanto a minha resposta. Em meio a emoção ela meio que brigou e brincou comigo por não ter dobrado as roupas.

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Do corredor pude ouvir eles conversando e rindo, os únicos sons que não denotavam sofrimento naquele lugar cheio de pessoas quebradas fisicamente e espiritualmente. Dei uma pequena espiada no quarto, eles dois se abraçavam afetuosamente. Lembrei de minha própria mãe... eu ainda não havia tentado ligar novamente, quando chegasse em casa com certeza eu o faria.

Caminhei pelo corredor cheio de macas, de pessoas enfaixadas, com mil agulhas e curativos, ao lado deles, esposas, mães, pais e filhos rogando pela recuperação do ente querido. A cidade continuava pulsando vida, mesmo que alguns estivessem todos os dias morrendo. Na avenida carros, motos, pedestres indo e vindo, o trânsito caótico, fumaça, buzinas, luzes piscando. De longe vi o ônibus que se aproximava, estendi o braço e embarquei, tive sorte, havia algumas cadeiras vazias, aparentemente dias de domingo as pessoas preferem andar nos seus próprios transportes...

Escolho o lugar próximo à janela e observo através da vidraça o mundo como se eu fosse apenas uma telespectadora. O céu é um misto de laranja e vermelho sob um plano de fundo azul escuro. Ponho meus fones e faço uma retrospectiva dos últimos dias... faltam menos de 2 meses para eu concluir o ensino médio, e ainda não sei direito o que quero fazer. Eu sei que a vida é curta, aprendi isso com o Fernando, que nesse momento está lá refazendo os laços maternos a muito tempo destruídos pela amargura e pela dor. Parece que a gente às vezes precisa de um choque de realidade para perceber o quanto estamos sendo infantis, egoístas e medrosos... Falando em medo, logo me vem à mente a imagem daquele garoto que passou o ano inteiro sentando na minha frente e eu nunca tive coragem de falar com ele. De repente me sinto assim, meio curiosa a respeito dele. Claro, não deve ser nada demais... Hello, Ellie?! Mas fico pensando que talvez eu nunca mais o veja quando sair da escola... nesse momento minha mente é cheia de incertezas, minha vida inteira tem sido uma completa metamorfose e não faço a mínima idéia quando vou virar finalmente uma borboleta.

Aumento o volume da música...

"...Eu só peço a Deus, um pouco de malandragem... pois sou criança e não conheço a verdade...eu sou o poeta e não aprendi a amar..."⑷

Convergindo (Em Construção)Onde histórias criam vida. Descubra agora