A viatura parou no acostamento da estrada de terra, conhecida por todos os moradores de Old Rain por "A Rua do Deserto". Seu tamanho era, apesar de tudo, grandioso. Se estendia por mais de dez quilômetros, e era a principal ligação entre a cidade e a rodovia B438, a mais próxima - que ficava a uma distância de pouco mais de uma hora.
A paisagem, entretanto, não era a mais agradável para ser vista. A vegetação rasteira estava suja de terra e lama que voavam da estrada, ou se criava depois de uma forte chuva - o que era frequente diariamente naquela região. As árvores tinham galhos nus, e à noite pareciam braços de monstros tão antigos quanto o próprio Tempo. Vez ou outra era possível ver uma casa simples ao longe, parecendo que querendo se fundir com o horizonte.
Da viatura saíram dois homens, completamente opostos um do outro. Um deles era alto, robusto e bem musculoso; o outro, baixo, gordo e com aparência desajeitada. A única coisa que se assemelhava entre os dois era o uniforme, e só.
Andando lado a lado, eles passaram por outros policias - que chegaram até ali mais cedo, logo após a denúncia -, até que chegaram na faixa amarela, que cercava uma área de cerca de três metros (sendo que três quartos dela era localizada na estrada, enquanto o restante estava na área suja e descampada que ficava na lateral da passagem de areia). Na frente da faixa, um policial, já com uma idade avançada, parecia os esperar.
-Policial Clow, que bom que chegou. - disse ele, apertando firmemente a mão do homem alto e musculoso. - Policial Lawder. - disse, antes de cumprimentar o segundo policial. - Demoraram cerca de dez minutos à mais.
-Problemas na viagem. - disse Lawder.
-Tivemos que desviar de vários objetos que foram jogados na estrada. - explicou Clow.
-O importante é que chegaram. - O policial mais velho acenou rapidamente com a cabeça, antes de levantar a faixa amarela, o suficiente para Clow e Lawder passarem por baixo.
Meio agachados, e de cabeças abaixadas, os dois policiais entraram na cena da crime.
Havia um pano preto jogado em cima de um corpo - o formato humano era perceptível mesmo através do tecido. Não daria para perceber se se tratava de um homem ou mulher.
-Conte a história. - pediu o policial Clow, se abaixando.
-Às 9:48, recemos a ligação de um morador da cidade. Ele, em forma anonimata, disse ter encontrado um corpo de uma garota, perto do quilômetro "B" da Rua do Deserto. - O policial idoso lia todas as informações em um bloco de notas, que tirara do bolso da calça. - Quando chegamos aqui, doze minutos depois, percebemos que era verdade.
-Havia algum sinal do informante, quando chegaram?
-Não.
Jeremy Clow estava ansioso para levantar o pano e ver o corpo. Era uma espécie de mania que ele mantia em segredo. Essa mania, todavia, a assustava às vezes.
-Encontraram alguma documentação? - perguntou.
-Encontramos. - O policial idoso (em seu uniforme havia uma placa dourada com o nome "Homels" impresso nela) tirou, de um saco transparente que guardara em outro bolso, uma carteira rosa, suja de terra. - Isso estava ao lado do corpo. - Homels abriu a carteira em suas mãos, e tirou lá de dentro um retângulo plastificado. Para preservar as possíveis digitais que poderiam estar ali, Homels achou que seria melhor entregar apenas o necessário: a identidade. O policial Clow não estava usando luvas, como ele.
A identidade foi passada para Jeremy, que a examinou.
O nome da vítima era Ellie Parvel Vortey. Nascida em Old Rain em 23 de setembro de 2000.
Todas essas informações eram relevantes, mas foi a foto dela que chamou a atenção de Jeremy. Ellie tinha cabelos morenos e lisos, além de olhos brilhantes e bonitos. Apesar de estar séria, suas feições mostravam que ela deveria ter um sorriso bonito.
Entretanto, lá estava ela. Morta, à sua frente.
Entregando a identidade para Lawder, Jeremy finalmente poderia ansiar sua curiosidade. Esticando o braço direito, e usando os dedos indicador e polegar como uma pinça, ele puxiu a beirada do pano, expondo o corpo.
A garota que estava na foto da identidade que acabara de ver não parecia a mesma que estava na sua frente. Os cabelos agora estavam manchados de sangue seco - que era visível até nos fios negros da garota; os olhos, antes brilhantes, estavam agora parados, fixos em algum ponto para sempre. Moscas saíam de suas narinas, dando bom-dia á quem as visse.
Porém, os cortes se destacavam. Eram superficiais, e não pareciam ter sido o que a matou. Estavam espalhados por todo o rosto, e Jeremy apostava que encontraria mais por todo o corpo.
-Causa da morte? - perguntou em voz alta, sem desviar o olhar do cadáver.
-Traumatismo craniano. - respondeu Homels. - Pelo menos é o que aparenta. Teremos que levá-la até a autópsia para termos certeza.
Jeremy Clow ficou mais oito minutos encarando o rosto jovem de Ellie Parvel. Sua mente trabalhava incansavelmente, se enchendo de perguntas sobre o caso que acabara de entrar.
Mas uma aparecia a cada segundo.
"O quê aconteceu com você, Ellie Parvel?".
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O Mistério de Ellie Parvel
Short StoryÀs 10:32 da manhã, a polícia da pequena cidade de Old Rain chegou ao local do acidente onde uma garota de 16 anos chamada Ellie Parvel foi brutalmente assassinada. A fim de querer descobrir quem a matou, o policial Jeremy Clow procurará o culpado at...