22 • Obras

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Hoje descobri que é possível sobreviver ao campo de férias. Já se passaram duas semanas desde que aqui cheguei e ainda estou viva. Se aguentei metade, também consigo aguentar o resto, certo?

Não tem sido muito difícil. Felizmente tenho o privilégio de apenas ter de comparecer às atividades que me interessam. Como são poucas, tenho bastante tempo livre para mim. Tempo esse, que tem sido gasto numa sala de artes, já que nem posso ter telemóvel.

Aquela sala é bastante pequena, mas tem tudo o que eu preciso para criar coisas novas. Já lá pintei 7 telas e 5 azulejos. As monitoras fartam-se de elogiar o meu trabalho e até já me pediram para comprar algumas das minhas obras, mas eu acabei por lhas oferecer todas, já que não me importo de as voltar a fazer.

Todas as obras que eu criei fazem-me lembrar do Diogo e dos momentos que passei com ele. Raramente tenho falado com ele, porque à hora em que são permitidos os telemóveis, ele costuma estar nos treinos. Por isso, estas pinturas são a única maneira de conseguir aliviar as saudades que sinto.

Uma das minhas pinturas foi o local onde eu e ele demos o nosso primeiro beijo. Esse dia está tão marcado na minha memória que não me esqueci de nenhum detalhe. Nem sequer da cor das folhas que caíram no banco onde estávamos sentados.

Outra das pinturas foi no bar onde o Diogo me ensinou a jogar bowling. Ainda me lembro perfeitamente que as luzes do nosso campo eram roxas e que as minhas bolas eram vermelhas com uma risca laranja e as dele eram azuis com bolinhas brancas.

Até desenhei e pintei num azulejo o cachecol cinzento que ele me ofereceu quando eu estava doente. Gosto imenso do pormenor de ter umas fitas brancas que me fazem lembrar o cabelo dele, por serem meio onduladas.

Monitora - Bianca, está na hora de lanchar! (aproximou-se de mim e espreitou por cima do meu ombro) Oh, parece que temos aqui outra obra de arte! Tens mesmo jeito para isto!

Peguei na tela que tinha na mão e fui pendurá-la para secar.

Eu - Também pode ficar com esta, se quiser.

Monitora - És uma querida! Sabes o que fiz para compensar a tua generosidade? Fui falar com a cozinheira e consegui arranjar maneira de teres serradura ao lanche durante a semana inteira!

O quê?? A minha sobremesa favorita?? Durante uma semana??

Eu - A sério?? (levantei-me e desatei a correr em direção ao refeitório) - Obrigada dona Teresa!!

Aconteça o que acontecer, na próxima semana ninguém vai conseguir estragar o meu bom humor, já que vou ter sempre serradura para aliviar os meus altos níveis de stress causados pelas crianças barulhentas! Hmmm!!

Depois de ter a barriga cheia de serradura, fui dar um passeio pelo parque. Só parei de andar quando cheguei a um lago bastante próximo da cerca que envolve o parque. Deitei-me na relva e fiquei a olhar para as nuvens de fim de tarde que começavam a cobrir o céu.

De repente, pareceu-me ouvir alguém a sussurrar. Levantei-me e olhei em volta, mas não vi ninguém. Será que os meus ouvidos me estão a pregar uma partida??

Borboleta Lutadora (✔)Onde histórias criam vida. Descubra agora