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Capítulo 4

No final das férias, Tia Eleonora ligou para Mariana convidando para ela vir em sua casa tomar um lanche. Ela estava com muita saudade da tia. Eleonora fora a melhor amiga de sua mãe em vida. Muitas e muitas vezes as duas passaram tardes conversando sobre tudo, Mariana ficava brincando aos pés da mesa por horas ouvindo aquelas conversas.

Quando a tia ficou viúva de Adriano, Alice marcou presença. Não deixou a amiga entrar em depressão. Chegou até a ajudar financeiramente já que a situação ficou crítica para a tia e para o filho. Depois, foi Alice, com a ajuda de Artur, quem convenceu aos duros pais do amigo a pagar pelo menos a escola do neto. Tempos difíceis.

Eleonora insistira muito para que Alice fosse a madrinha de Vinícios, mas Adriano queria Artur como padrinho e a combinação seria desastrosa. Mário, o marido de Alice, morria de ciúmes de Artur por conta de um namoro do passado.

Acabaram escolhendo outra pessoa e Eleonora jamais se conformou com isso. Alice era a irmã que ela sempre sonhara em ter. Pelo menos, ela e o marido foram padrinhos de Mariana e essa atitude selou a amizade delas para sempre.

Anos mais tarde, quando descobriu a doença, e pior, quando descobriu que não resistiria a ela, Alice fez Eleonora prometer que tomaria conta da afilhada, que a trataria como filha, que a ensinaria tudo aquilo que ela mesma não seria capaz de ensinar. Eleonora não poderia negar esse pedido.

No dia que Alice morreu, foi ela quem colocou Mariana para dormir. Foi no ombro dela que Mariana chorou durante o enterro. Era para a casa dela que Mariana fugia nos primeiros dias quando não aguentava enfrentar a solidão da casa vazia da presença da mãe.

As duas conversavam longamente. Eleonora contava estórias sobre Alice e Mariana sentia como se ela ainda estivesse ali. Sua favorita era sobre o seu nascimento. A gravidez de Mariana fora um capítulo definitivo da vida de seus pais.

Mário e Alice acabaram se casando porque Alice engravidou de Pedro. Eles eram tão jovens, quase desconhecidos, e a vida estava tão difícil que muitas vezes pensaram em terminar tudo e seguir cada um o seu rumo. No meio disso tudo, havia amor, mas eles não conseguiam enxergar direito por causa dos problemas.

Estiveram às portas do divórcio várias vezes. Até que tudo foi se estabilizando. Os conflitos com os pais diminuíram, os amigos casaram, tiveram filhos também, eles se formaram com muita dificuldade, arranjaram emprego. Enfim, não era mais a necessidade de resolver problemas que os unia. Só então perceberam que era algo mais. Que era amor. Que o destino tinha construído uma família de verdade para eles. Que eram felizes. Foi só aí que decidiram ter um segundo filho e logo Alice engravidou de Mariana.

Alice estava resplandecente durante toda a gravidez. E Eleonora nunca conheceu um homem tão apaixonado quanto Mário. Mário tantas vezes frio. Tantas vezes distante. Tornou-se um homem amoroso e dedicado. Alice tinha esse poder apaixonante. Especial. Um poder transformador. O mesmo poder que via na personalidade cativante de Mariana.

Quando a amiga morreu, Eleonora preocupou-se demais com Mário. Por um tempo, ele voltou a ser o mesmo de antes. Abandonou os filhos e focou na própria dor. Sempre foi um cara fechadão. Ela, Heloísa e Edgar seguraram as pontas, mas jamais conseguiriam substituir sua presença na vida deles.

Aos poucos, ele foi deixando a dor sair. Retomou suas obrigações como pai, voltou melhor ainda, mais dedicado, mais amoroso. A relação que construiu com Mariana, em particular, era especial. Pedro já era um homem. Reagiu à sua maneira, casou-se com a primeira que apareceu. Cada um enfrenta a dor como consegue.

Mário fez o que pôde para dar a Mariana um ambiente saudável. Na casa em que viveram, estava impossível. Cada mínimo detalhe os lembrava da ausência de Alice. Fugiram para o exterior. Ele pretendia passar no máximo um ano, mas caso a saudade não diminuísse ao menos um pouco, ficariam por lá definitivamente. Ficaram seis meses, fora o bastante. Alicercearam essa relação de pai e filha que tinham agora. Voltaram, reformaram a casa e estava tudo no seu devido lugar.