Ayana
Eu estava na casa dos meus avós, era de noite e chovia muito forte lá fora. Como meu quarto ficava muito escuro quando anoitecia, os relâmpagos o iluminavam.
No andar de baixo, meu irmão, Cristian, assistia a um filme de ação junto com nossos avós. A casa estava relativamente tranquila. Em minhas mãos, um livro de suspense me deixava entretida e tensa, principalmente com o barulho de trovões e da chuva muito forte caindo lá fora.
De repente, a campainha tocou, porém não dei muita importância, afinal minha família estava lá embaixo e eles haviam pedido pizza, então era muito provável que fosse o entregador. Aproximadamente cinco minutos depois, Cristian bateu em minha porta.
— A pizza chegou, Ayana — avisou, com os olhos um pouco ansiosos. — Não vai comer?
— Não estou com fome — ergui os olhos do livro para meu irmão, seu rosto me dizia que não acreditava em mim. — Eu tinha comido uma fruta há menos de trinta minutos, não estou com fome — repeti, dessa vez mais firme e convicta.
Ele apenas assentiu e saiu do quarto, fechando a porta atrás de si. Voltei para meu livro, e a seguinte passagem me deixou ansiosa pelo resto do livro: "Entrei, com os poderes que estavam a minha disposição, em uma passagem secreta atrás da cachoeira, que parecia atrair meu corpo com leves arrepios.". Eu estava absolutamente envolvida, pois a protagonista estaria próxima de achar seus próprios poderes, não o que ela havia emprestado de seu guardião.
Então, barulhos de discussão ecoaram pelos corredores da minha casa até meu quarto, me tirando do transe em que o livro me colocara. Senti calafrios pelo meu corpo, e tentei ficar alerta ao que podia ser. Levantei da minha cama no mesmo momento em que uma ventania bateu forte na janela, e algumas folhas foram atiradas para dentro do quarto. Observei com puro horror enquanto elas caíam e caíam, até que uma delas em especial chamou minha atenção. Ela tinha um brilho leve e hipnotizante, então deixei meu livro aberto na página que parei e fui até lá. Agachei e a peguei em minha mão. A textura era macia e seca, o que me deixou surpresa, porque as outras ao lado estavam, certa e visivelmente, molhadas por causa da chuva.
Outro trovão e relâmpago soou lá fora, e a folha em minha mão brilhou fortemente nesses segundos, o que me levou a soltá-la pelo susto, mas assim que ela adquiriu seu leve brilho novamente, a peguei do chão outra vez. Voltei para minha cama e deixei a folha na página em que parei do livro e o fechei.
Meu irmão gritou e som de tiros fizeram-se presentes no ambiente. Fiquei estática, tentando ouvir indícios do que estava ocorrendo. Fui para a porta do meu quarto, os gritos tornaram-se mais agudos assim que a abri, e não consegui me segurar no lugar, desci as escadas e a cena que vi me deixou boquiaberta e desesperada. Um sujeito com vestes um pouco detonadas e rasgadas estava puxando meu irmão pelos cabelos enquanto Cristian estava no chão, ensanguentado e aparentemente consciente.
Lágrimas caíram de meus olhos, não acreditando no que estava acontecendo. Num impulso, dei um grito e corri em direção a meu irmão. O homem — que poderia ser um ladrão ou assassino — pareceu ter se assustado com meu berro e, aproveitando a oportunidade, impulsionei meu corpo contra o do homem, que perdeu o equilíbrio e caiu para trás. Não tive tempo de pensar na dor que aquilo causou em meu corpo.
Avistei uma arma perto dos dois. Corri para pegá-la e a apontei para o estranho, que riu com deboche e escárnio. Pisquei. Quem diabos ri quando tem a droga de uma arma apontada para a própria cabeça? Só entendi o porquê depois de alguns segundos, quando um outro homem apareceu e me imobilizou por trás.
Esse segundo cara conseguiu retirar a arma de minha mão, o que a fez cair no chão. Logo que ela caiu, um relâmpago iluminou o corredor, fazendo as luzes se apagarem. Com isto, dei uma cabeçada e pisei no pé do homem que me mantinha imóvel, e isso o fez me soltar, permitindo que eu fugisse cambaleando.
— Seu idiota! Vá atrás da garota! — gritou uma voz ao mesmo tempo suave e ao mesmo tempo firme, me fazendo acelerar o passo.
Desculpe, disse para meu irmão conforme saí daquele lugar. Era egoísmo, eu sabia, mas eu precisava me esconder e fugir deles, afinal eles me matariam com certeza; e o medo de fazerem isso com Cristian me tomou fortemente quando atravessei o hall e tive de conter um grito ao avistar meus avós ensanguentados e caídos no chão. Uma dor tão profunda tomou conta de mim que acabei caindo de joelhos ao lado deles, tentando achar algum indício de que estavam vivos.
Porém, seus olhos estavam sem brilho e sem vida. Minha vontade de chorar foi reprimida por um flash de memórias com eles em minha mente. Senti meu rosto esquentar e lágrimas desceram sem parar dos meus olhos.
Que Cris esteja vivo e consiga fugir — pensei.
Contemplei por um segundo o que eu faria com eles enquanto limpava as lágrimas que insistiam em cair. Mas, antes de qualquer ideia me ocorrer, ouvi um barulho próximo de mim e um arrepio percorreu minha espinha. Levantei um tanto zonza e corri para a dispensa, para me esconder, porém, quando fechei a porta, escorreguei em um pano que estava no chão, o que me fez bater a cabeça com força na quina da estante. Caí no chão com uma dor ofuscante que tomou conta de mim e senti tudo girar.
Ouvi o estrondo da minha queda e percebi uma movimentação do lado de fora. A maçaneta girou, mas a escuridão estava me consumindo aos poucos e não consegui enxergar nada nem ninguém. Ouvi algo como "temos que levá-la como prova" antes da escuridão me engolir por completo.
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Rainha da Floresta
AcciónA tempestade que se aproximava da cidade após um belíssimo dia, acordou relâmpagos e trovões. Ayana, que havia se mudado para a casa de seus avós após perder seus pais num acidente, estava em seus aposentos lendo um livro que tinha achado na casa do...