A Maldição do Quadro da Noiva

789 14 4
                                    

Há muito tempo atrás, quando eu era jovem e despreocupado com a vida, tinha um apartamento na São José, n°12. no qual eu dividia com um amigo, Gomes.

Gomes era um rapaz alto e inteligente. Cheio de questões sobre o Universo e a vida em si. Daqueles que poderia escrever um bom livro. Bebia bem. Aliás, era meu acompanhante nos bares de sexta-feira onde ninguém estudava para as provas da faculdade. Eu cursava arquitetura, e ele matemática. Gostávamos do que fazíamos e fazíamos muito bem.

Nossa amizade era muito boa, éramos velhos amigos, quase irmãos. Tanto que uma vez comecei a me relacionar com uma bela jovem que trabalhava numa loja de quinquilharias que pertencia ao tio dela. Enquanto eu conversava com a linda moça, tentando convencê-la a sair comigo, Gomes enrolava o velho para mim, falando sobre filosofia, um assunto chato para mim. Numa certa vez, numa das minhas tentativas frustradas de convencer a garota a sair comigo, o tio dela, que tornou-se amigo de Gomes mostrou umas quinquilharias que ele vendia só para pessoas especiais, clientes de nome. Algumas coisas até que bonitas para enfeite, apesar de que eu não compraria, muito menos Gomes. “A única arte que aprecio é a arte de pensar” - dizia ele sempre que podia. Mas dessa vez foi diferente: Olhando algumas coisas que, profundamente estavam me dando um tédio mortal, até que Gomes, virou-se à um quadro jogado no chão que estava coberto com um pano velho e sujo, repentinamente como se alguém lhe tivesse chamado pelo nome aos berros. Sua atenção foi roubada. Dirigiu-se o quadro, tirou o pano e fascinou-se a ponto de querer levá-lo para casa. O velho ficou um tanto pensativo, pois, não se lembrara onde e quando ter adquirido aquele quadro. (Normal da idade dele? Talvez). Gomes euforicamente perguntou o preço, e como o velho não se lembrara como adquiriu o quadro, deixou que Gomes pagasse o quanto seu coração dissesse que valeria. Trinta pratas, disse o bolso de Gomes. Pela forma que ficou apaixonado pela obra, certamente ele pagaria mais. Sorte que tinha pouco, senão, eu teria que pagar as cervejas de sexta-feira. Não consegui convencer a bendita garota novamente. Saímos da loja. Parecia tudo bem.

Estávamos a caminho de casa, fomos direto. Era quase noite e a fome já dominava nós dois. Além do fato de ser minha semana de fazer a comida, para minha sorte, já que Gomes cozinhava não muito bem. “Refeição Comestível”, eu diria. Chegamos. Me dirigi ao banheiro e tomei um banho. Ao sair me deparei com Gomes andando pelo apartamento procurando alguma parede para pendurar o tal quadro. Voltei-me à cozinha para fazer a comida. Um pouco de salada com carne desfiada. Algo improvisado, já que não era nenhum cozinheiro e morria de fome. Ao jantar percebi que Gomes estava estranho, um tanto silencioso e com o olhar distante. Comeu rápido e silenciosamente. Já lavando os pratos, perguntei se havia algo de errado.
“Não, nada.” - respondeu ele sorrindo e olhando por cima dos ombros. Perguntei se queria jogar pôquer como costumávamos fazer. Disse que estava um pouco exausto e pensativo e preferiria dormir.

Respeitei mesmo achando estranha a mudança repentina de humor, já que ele falava bem, sempre tinha alguma observação sobre o comportamento irracional de alguma pessoa de nosso dia a dia. Terminei de jantar, lavei minha louça. Quando me dirigia aos meus aposentos. Vi lá, Gomes, sentado na poltrona marrom dele olhando para o quadro na parede.
- Não vai dormir? - Perguntei.
- Já vou, mamãe - Disse meio sorrindo.

Dirigi ao meu quarto, me joguei em minha cama e dormi.
Acordei. Como de costume, Gomes acordou antes. Havia preparado o café, pois eu já sentia o aroma lá do quarto. Me dirigi à cozinha e peguei minha xícara e alguns biscoitos dentro do armário que já estavam no fim. “Sorte que Gomes não os viram” - pensei. De fato não tinha como ver, ele só tinha olhos para uma só coisa: O Quadro. E lá estava ele, Gomes, sentado na poltrona com sua xícara pendurada entre os dedos na altura do rosto onde o vapor turvava levemente o ar. Me veio à cabeça a noção que eu não tinha visto o quadro, onde curiosamente fui lá checar. Me coloquei de pé ao lado de Gomes e comecei a reparar: era uma obra um tanto bem pintada, cores frias contrastavam entre si, toques leves em alguns detalhes dando uma delicadeza e simplicidade, mas havia algo estranho, o quadro tinha como fundo uma parede decorada de flores das quais não poderia descrever, ornamentos de cor branca e azul bebê e enfeites de casamento dos mais variados tipos. No centro havia uma mulher vestida de noiva, magra e aparentava ser bem jovem. Belo vestido branco que contrastavam muito bem com seus lindos cabelos negros e sua pele rosada. O detalhe que mais me chamou a atenção foi que a noiva estava infeliz. Um semblante triste. Foi algo que mudava todo o sentido da obra, pois o casamento é o sonhos de muitas mulheres e o dia mais feliz da vida delas.

A maldição do quadro da NoivaOnde histórias criam vida. Descubra agora