Primeiro dia - O trevo

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A begônia era sozinha, não por opção, mas por as outras flores não quererem estar com ela, o motivo? Um dos mais comuns e fúteis: A inveja. Mas a pobre flor não sabia disso.
A rosa e suas seguidoras passavam pela begônia com suas pétalas erguidas e seus ameaçadores, mas delicados espinhos a mostra, todos os beija-flores, borboletas e abelhas se aproximavam dela, hipnotizados e eufóricos, e sempre que a solitária flor via aquilo, suspirava e pensava "ah, quem me dera ser bela e sedutora como a rosa! Quem sabe, se tivesse sua beleza, os beija-flores, as borboletas e as abelhas se aproximassem de mim.", mas a begônia não reparava em si mesma e em suas próprias qualidades, sempre de Olho nas outras flores.
A flor açucena e suas seguidoras passavam pela begônia com seu aroma suave e suas pétalas delicadas, esbanjando beleza e elegância, arrancando suspiros apaixonados Dos beija-flores, das borboletas e das abelhas, devido a sua pureza, e sempre que a solitária flor via aquilo, suspirava e pensava: "ah, quem me dera ser elegante e pura como a açucena! Quem sabe, se tivesse sua pureza, os beija-flores, as borboletas e as abelhas não fugiriam sempre que eu lhes dirigisse a palavra", mas a begônia não reparava em si mesma e em suas próprias qualidades, apenas observava as outras flores.
O alecrim e seus seguidores sempre passavam, felizes e saltitantes, pela Begônia, brincando com todos e espalhando vida pelo pequeno jardim, e sempre que a solitária flor via aquilo, suspirava e pensava "Ah, quem me dera ter a alegria do alecrim. Quem sabe assim eu conseguiria fazer alguns amigos!" mas a begônia nunca reparava em si mesma.
E era assim com todas as flores que passavam, e sempre, havia um espectador. Espectador este que jamais havia sido notado pela solitária flor.
Era o beja-flor, que assistia, em silêncio, o sofrimento da pobre begônia. Ele era apaixonado pela flor.
Numa bela manhã, uma tristeza grandiosa tomou conta do semblante da begônia, o que não era comum acontecer, pois ela se esforçava para parecer alegre para todos que quisessem ver. O beija-flor, aproximou-se então de sua amada e perguntou-lhe:
— Olá, bela flor. Vejo que há algo lhe afligindo, poderias eu saber a causa de sua tristeza? — perguntou o beija-flor tentando parecer não se importar muito, mas era impossível, o beija-flor era honesto de tal forma com seus sentimentos, que não conseguiria mentir sobre eles ou contraria-los, nem se sua vida dependesse disso.
— Ah, eu me espetei nos espinhos da rosa, quando fui dar-lhe um abraço, nada mais — A begônia pareceu surpresa pela pergunta que o beija-flor fizera. Ninguém jamais havia se preocupado com ela.
— Doce flor, espere por mim aqui, irei buscar uma coisa que irá anima-la. —  o beija-flor então alçou vôo, deixando a begônia sozinha.
Ao cair da noite, o Beija-flor ainda não havia voltado, a flor, que já estava triste, piorou. "Boba eu que achei que alguém poderia se importar comigo. Ninguém jamais iria prestar atenção numa flor decadente como eu…" pensou a flor, já perdendo as esperanças. O dia amanhecia quando o beija-flor chegou, trazendo em seu bico um trevo de quatro folhas, ele o entregou à begônia e disse:
— Me desculpe se a fiz esperar de mais, trevos de quatro folhas além de serem raros, são bem velozes e espertos.
A begônia, maravilhada com o presente, sorriu para o Beija-flor, deixando para trás toda a tristeza que tomava conta de si até alguns instantes atrás. Naquele momento ele apenas confirmava o que já tinha certeza, aquela era a flor mais bela que ele já vira.
— Você fica muito mais bela do que já é, quando sorri. Deverias estar sempre a sorrir! — Diz o beija-flor, não conseguindo conter seus sentimentos e pensamentos. A begônia agora se mostrava surpreendida diante de tais palavras, e naquele momento, ela se deixou tomar pelo pensamento de que poderia se apaixonar pelo beija-flor e pela alegria que tal pensamento trazia. Nesta noite, os dois conversaram por toda a noite e foram dormir tarde e felizes, a flor em seu habitual lugar no jardim e o beija-flor em seu galho, um pensando no outro, e no que havia acontecido no dia de hoje. E pela primeira vez, a flor sentiu que talvez ela não estivesse tão sozinha quanto pensava.

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⏰ Última atualização: Jan 10, 2017 ⏰

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A Flor E O Beija-florOnde histórias criam vida. Descubra agora