Assim que "Eyes" do Vintage Culture explodiu nas caixas de som da casa de shows, virei meu shot de tequila e puxei Astrid, minha melhor amiga.
– Minha música, pista agora! – Seguimos dançando pra pista de dança. – Eu preciso ir em uma rave! – gritei no ouvido da Trid.
– Como se isso fosse novidade pra você, né? – Riu e olhou pra cima. – Tem uns gostosinhos olhando em nossa direção.
– Desencana, você veio pra curtir comigo, não pra sair pegando todos a noite inteira. – Rolei os olhos e virei, voltando a dançar. – Essa é a minha função. – Ri.
Continuei dançando mais algumas musicas sozinha. Trid me abandonou, como sempre, pra ir a procura de machos. Na maioria das vezes, machos ricos e famosos. Voltei pro bar, pedi whisky com energético e sentei em um sofazinho que tinha ao lado.
– Posso me sentar aqui? – Um moreno relativamente alto com barba apontou pro espaço ao meu lado.
– Claro, à vontade. – Tomei um gole da minha bebida.
– Tá sozinha? Uma me...
– Uma menina tão bonita sozinha! – Completei a frase clichê dele. – Já conheço essa cantadinha, mas respondendo: eu estou com minha melhor amiga.
– Ah, sim! Desculpa. – Coçou a nuca. – Já fui melhor nas minhas cantadas.
– Espero que sim, essa já está manjada demais. – Ri. – Deixa eu adivinhar, tá dando um perdido na namorada ou esposa?
– Sim... na verdade não! – Ele se corrigiu rápido. – Acabei de terminar com minha noiva. Estávamos junto há um bom tempo. – Respirou fundo.
– Isso explica sua cantada enferrujada. – Ri. – Então, você está aqui obrigado pelo seus amigos? Entendi. –Tomei mais um gole.
– Tá tão na cara assim? – Rimos e eu concordei com a cabeça. – Estou me sentindo péssimo.
– Com o tempo melhora. – pisquei.
– Eu não diria isso. – Eu arqueei minha sobrancelha. – Já terminei meu noivado há quase um ano. Me esforço, mas ainda assim dou uma travada.
– Não. – Ri. – Desculpa, mas você precisa urgentemente melhorar. Vou te ajudar agora. – Passei meu olho pelo local, procurando a mulher perfeita. – Que tal aquela morena? – Ele olhou discretamente. – A de saia vermelha.
– Quê? Não, não vou fazer isso. Só vim falar com você porque meus amigos me deixaram de lado e eu queria sentar.
– Ah, não me enrola. Vai lá logo. – Levantei e o puxei pela mão. – Só chega, pergunta nome e tal.
– Só nela, primeira e ultima. – Ele se levantou.
– Então faz direito. Não me decepcione, noivinho. – Ele riu e foi na direção da mulher.
Fiquei observando. Ele fez direitinho, bateram um papo e quando eu achei que ia rolar algo, ele voltou.
– Ela é lésbica. Aquela do lado dela é a namorada. – Ele riu.
– Não. – Gargalhei. – Você é um filho da mãe sem sorte. Pelo jeito que as coisas estão andando você vai desapontar seus amigos e voltar pra casa sozinho.
– Exato! – Riu. – Mas isso já está rolando há um bom tempo.
– Por quê? Você até que é um cara bonitinho, arrumadinho. Só precisa desbloquear a mente, relaxar.
– Mas eu sou relaxado, só estou desacostumado mesmo. Meus amigos – apontou pro camarote lá em cima – não possuem a tal da paciência. – Levantou os ombros e rimos. – Eles apostaram, apostaram – frisou – que eu não ficaria com ninguém hoje. Como sempre acontece.

VOCÊ ESTÁ LENDO
Carrossel
Short StoryQuando você se fecha e se convence que não vale a pena ter relacionamentos por cicatrizes da infância, vendo o casamento dos seus pais acabar de uma forma traumatizante, você cresce e monta seu próprio carrossel, fazendo dele sua moradia, seu confor...