Melhor amigo

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— O que você fez para ele, Daniel? — Willian cochichou entre seus gemidos de dor.

— Como vou saber? Nem sei quem ele é. — Falava com Willian, enquanto procurava uma maneira de atacar aquele homem, mas ele não me dava abertura.

Os tiros não cessavam. Enquanto isto, eu revidava cautelosamente, o suficiente para mantê-lo distante, mas isso não iria impedi-lo por muito tempo.

— Idiota, este é o Dom ... — Willian, ao perceber que tratava do Dom, entrou em desespero. — Meu Deus, não vamos sair vivos daqui.

— Calado! Deixa eu pensar. — o resto da munição ficara no carro, o que sobrou na pistola, já estava no fim. Willian não parava de se reclamar, o que estava me irritando e dificultando que eu pensasse.

— Droga. — Dom murmurou com tom de desespero.

— Emperrou! — Gritou Willian, que acabou alertando Dom da minha pretensão de contra ataque.

Corri em direção a Dom, joguei todo o peso do meu corpo sobre ele e consegui derrubá-lo; apesar do seu grande porte e sua arma caiu próximo de nós. Segurei seu braço direito com uma das minhas mãos; desferi vários socos em seu rosto, mas para meu espanto, não surtiram muito efeito. Com facilidade ele se livrou de mim e com apenas um soco, me deixou desorientado. Minha vista turvou e eu apontei minha arma em sua direção.

— Pare, Dom! Qual é o motivo? Me responda! Por que está tentando me matar? — Gritei com a esperança que ele parasse de me atacar.

Ele estava transtornado. Por mais que eu gritasse, a fúria que emanava dos seus olhos não o fez parar, mesmo com a arma apontada para sua cara e a ameaça de um tiro ele não exitou em me atacar.

Dom me deu um trampo tão forte que foi como se tivesse sendo atropelado por um caminhão. Ele segurou a pistola enquanto me socava. O sangue já escorria do meu nariz e meu supercílio já estava aberto. A cada soco, minha cabeça estremece e o rosto de Dom já se tornava turvo em minha vista. Encurralado e preso em suas mãos, já tinha certeza que ele não iria parar enquanto eu estivesse vivo.

Tentei sair da situação, mas ele era forte demais. Eu, já fraco e machucado não via muitas opções e de forma desesperada comecei a pôr todas as forças que me restavam na minha última tentativa de me livrar da morte iminente. Puxei várias vezes a pistola com força, mas ele segurava com firmeza e novamente me deixava sem alternativas.

No meio de toda essa confusão, pisei em sua arma que estava no chão e desequilibrei. Caímos. E um estrondo ensurdecedor nos fez ele para de me socar.

Ouvia os berros de Willian ao fundo, mas não conseguia decifrar o que ele falava. Dom se levantava na minha frente, eu ainda tinha a pistola em minhas mãos.

Deitado no chão de terra batida e úmida pelo sereno da noite, levantei a pistola em direção a ele. Não o enxergava direito, estava muito escuro, mas mesmo assim apertei o gatilho, e aquele homem caiu fazendo um tremendo barulho; pude até sentir a terra tremer.

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— Ei, acorda! Vamos, levanta agora! — Willian como sempre gritava no meu ouvido e todo som que saía de sua boca fazia um horrível eco dentro da minha cabeça.

— Cadê o Dom? — Perguntei me apoiando no chão para sentar.

Willian não precisou nem me responder; o vi caído bem próximo de mim e havia muito sangue que escorria ao seu redor.

Está morto? — Perguntei olhando para Willian.

— Acho que ainda não, mas vou acabar logo com isso — Willian já estava com a mão sobre a arma.

— Não.— Puxei a pistola de sua mão com agressividade.— Peça para o velhote cuidar dele.

— O desgraçado atirou em mim e quase te levou para o buraco. Eu vou matá - lo sim.

— Eu disse que não! — gritei. — Vamos sair daqui.

Me levantei sentindo uma dor forte no abdome. o apertei com força como se tentasse parar a dor com minhas próprias mão, o que logicamente foi inútil.

Senti as mão úmidas e olhei para minha camisa. Ela estava coberta de sangue. Meu sangue.

A porra daquele tiro tinha me acertado. Minhas pernas logo enfraqueceram, então cambaleei até a parede do casebre onde me apoiei.

— Espera aí Daniel, você também foi atingido. —Willian segurava no meu ombro enquanto me advertia.

A dor era grande mas junto com ela veio uma espécie de queimação.

— Então esta é a dor de levar um tiro, Willian? — Falei meio sorrindo, meio me contorcendo de dor.

A tal queimação foi aumentando; vinha do ferimento e logo em seguida consumiu quase todo meu corpo como se houvesse brasas debaixo da minha carne, entre minhas vísceras e isso me devastou por dentro.

Aquilo não estava nenhum pouco normal e sentir meu corpo queimar por dentro como se estivesse em chamas era no mínimo desesperador, não precisava ser um perito em ser baleado pra ficar confuso com aquelas sensações.

— Que porra é essa que está acontecendo comigo? Estou queimando por dentro! — Berrei de dor, estava ofegante e suado. Minhas pernas vacilaram e Willian me segurou.

— Espera, vou trazer o carro até aqui! — Willian assustado e confuso, saiu mancando, meio que se arrastando com pressa.

Minha vista foi escurecendo, enquanto a queimação só aumenta e consumia e eu não possuía mais poder sobre o meu corpo. Senti novamente o frio da terra, úmida do orvalho da noite. Eu tinha caído.

Por um segundo apenas ouvia a minha respiração e as batidas do meu coração.

— Daniel! Daniel! — Me chamaram, no entanto, a voz parecia vir de muito longe.

— Daniel! Daniel! Levanta, cara.— Era a voz de Willian, ele segurava-me pela camisa e me sacudia.

Quando abri os olhos, a visão ainda estava turva, me levantei com a ajuda de Willian e do velhote; que já estava de volta. Joguei meu corpo para dentro da minivan de uma só vez, pois eu já percebia que minhas pernas não conseguiriam me sustentar por muito tempo. A agonia que a queimação me trazia era insuportável.

Willian falou com o velhote para que ajudasse Dom, como eu havia pedido. Mancou até a porta do motorista e entrou no carro. Ele foi muito forte. e mesmo baleado na perna, aquele sedentário conseguiu dirigir e nos tirar dali.

No caminho de volta, não me restava mais forças, Willian não parava de falar, mas no estado em que eu fiquei, não ouvia com clareza o que ele me dizia.

Perdi muito sangue naquela noite e o banco do carona ficou novamente ensanguentado. A frustrante lembrança da morte de Ema voltou a assombrar meus pensamentos, novamente me senti incapaz de qualquer defesa e se não fosse a grande sorte que tive em pisar naquela arma - ou azar, já que eu acabei sendo baleado - provavelmente Dom estaria até agora esmagando minha cabeça com suas próprias mãos.

Com os sacolejos que o carro fazia entre um buraco e outro da estrada e o vento frio que entrava pela janela, fui sendo embalado e sem perceber me perdi em meio a uma escuridão, no vazio da minha mente. Eu havia desmaiado.

Inimigos Em Primeiro GrauOnde histórias criam vida. Descubra agora