Prólogo

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Era madrugada do dia 30 de março, sua alma vagava em meio a um mar de casinhas semelhantes. Não estava necessariamente perdida, mas tinha um forte desejo de ser encontrada, era possível ouvir seus suspiros solitários e cheios de remorso á uma longa distância, iluminada apenas pelas luzes fracas dos poucos postes que ainda não haviam sido devastados duvidava que alguém notasse sua presença tão transparente em relação às outras.

Ouvia-se uma musica animada sendo tocada ao longe quase como um insulto, seus pés doíam e nunca tinha sentido tanta fome em sua breve existência(ou pelo menos achava que não), porem era induzida a continuar caminhando, suas roupas sujas de sangue eram a prova de seu ato desesperado, a faca tinha sido deixada a três quarteirões dali. "como pude fazer isso?" era a frase que se repetia em sua cabeça várias e várias vezes, numa tentativa de se reconfortar ou quem sabe tirar um pouco de areia do grande saco de culpa que carregava dizia a si mesma "era ele ou eu, pelo menos o poupei de mais decepções causadas pelo mundo", mas este pensamento leviano desaparecia segundos depois quando ela lembrava de seus olhos sem vida a encarando.

Tinha pavor de olhar nos olhos das outras pessoas, já ouviram falar que os olhos são as janelas na alma? Considerem essa a maior verdade de suas vidas. Cada par de olhos materializa o que se tem de mais profundo em cada um, seus sentimentos, seus desejos e suas mensagens intercaladas, por isso ela tinha receio de encara-los não por timidez ou o simples fato de poder ver o pior e o melhor em cada um, mas por medo de perceberem a sua alma pútrida e vazia.

Já exausta sentou-se no meio fio para decidir o que faria daqui para frente, pôs a cabeça nos joelhos em uma tentativa de afastar o frio e pensar mais claramente "para onde vou?" " Com quem posso contar?" esses eram os pensamentos que ela estava remoendo quando um forte clarão a atingiu fazendo-a levantar a cabeça numa tentativa falha de identificar quem a encarava.

-Ei garota, porque está chorando? Está perdida? – Só nesse momento ela percebeu as lágrimas que estavam esquentando seu rosto e tirando a fina camada de sujeira que se encontrava no mesmo. A voz masculina não obteve resposta então repetiu a ultima pergunta.

-Esta perdida? – ela assentiu com a cabeça

A figura abaixou a lanterna e se aproximou dando a ela a possibilidade de enxergar suas características, era um homem com idade por volta de 40 anos, cabelos negros já com alguns fios grisalhos e um inicio de calvície, era pálido e um pouco acima do peso, para variar ela não teve coragem de olha-lo nos olhos para poder identificar a cor, mas vamos dizer que eram castanhos, o bom e velho castanho, tão comum mas com tanto a mostrar.

- Qual seu nome?- Ele perguntou

-Eu não sei – ela respondeu com a voz embargada, ultimamente essa era sua resposta para tudo

- Como assim não sabe? – indagou-a enrugando a testa

- Eu não me lembro- Foi à única coisa que ela conseguiu dizer antes que as lagrimas corressem por seu rosto novamente

-Acalme-se, por favor- Ele ajudou-a a se levantar- Venha, vou te levar para um lugar seguro

E assim ele a conduziu pela rua mal iluminada. Ao longe só se via os dois vultos: um sendo pequeno, fraco e cambaleante e outro um maior numa tentativa meio sem jeito de ampara-lo.


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⏰ Última atualização: Jan 13, 2017 ⏰

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