Todas as pessoas do mundo - ou quase todas elas - têm o desejo de visitar várias cidades, enquanto algumas se contentam em contar nos dedos quais lugares desejam conhecer, mesmo tendo em mente que tal coisa pode nunca acontecer. Entretanto, uma pequena parcela dessas pessoas consegue realizar seus sonhos. Algumas escolhem um país específico, enquanto outras decidem fazer algo conhecido como "mochilão", que nada mais é do que, com pouca bagagem, o mochileiro viaja por várias regiões de um país ou por vários países. Steve Smith encaixava-se na segunda descrição.
Steve era um jovem norte-americano de vinte e quatro anos, que se formara em Direito no ano anterior. Tal coisa deveria ser comemorada, mas, infelizmente, poucos dias antes da festa que sua família havia organizado, sua mãe e sua irmã morreram num trágico acidente de ônibus, enquanto voltavam de Washington D.C. Seu pai havia morrido há alguns anos, assassinado, por causa de uma dívida. Desde então, o rapaz resolveu tirar férias. Colocou numa mochila algumas roupas e objetos pessoais e foi para a Europa. Irlanda, Inglaterra, Espanha, Holanda e França.
Viagens mudam pessoas, e não foi diferente com Steve. O rapaz tornou-se ainda mais maduro, além de ter visto lugares incríveis, feito amizades e aprendido lições as quais nunca se esqueceria. Porém, foi na Itália que ele passou pela situação a qual mudaria sua vida.
Steve estava hospedado no 302 do Pace um pequeno hotel que ficava um pouco afastado do centro de Roma, mas valeu a pena, pois a diária era incrivelmente mais barata que a dos outros hotéis. Tudo ia bem até a manhã do segundo dia, quando o chuveiro ficou sem água quente.
― Olá, bom dia ― disse ele, sabendo que o simpático recepcionista entendia seu idioma.
― Olá, senhor Steve ― respondeu o recepcionista rechonchudo, virando-se. ― Está aproveitando a estadia?
― Estou sim, mas há um pequeno problema.
― Não gostamos de problemas aqui no Pace ― ele parecia confiante e determinado. ― Como posso ajudá-lo?
― Bom, o chuveiro está sem água quente ― respondeu o jovem advogado. ― Eu poderia trocar de quarto?
― Certamente, senhor ― ele virou-se, pega uma nova chave no armário de chaves e entrega-a para Steve. ― Aqui está sua chave, senhor.
― Agradeço imensamente por isso.
― Se importa se eu acompanhá-lo?
― De forma alguma ― disse Steve, começando a caminhar em direção à escada de madeira, que parecia antiga, mas, ao mesmo tempo, algo nela mostrava que ela estava sedo bem cuidada com o passar dos anos.
Nenhum dos dois proferiu uma única palavra até a porta do 302 ser aberta novamente. Mario aguardou do lado de fora, enquanto Steve adentrou o quarto e arrumou suas coisas, saindo dali cerca de três minutos depois. Devolveu a chave para Mario, agradeceu e adentrou o 303, que ficava na frente de seu antigo quarto.
Tomou seu desejado banho quente, deitou-se na cama e decidiu ler um pouco. Abriu sua mala e pegou O Retorno do Rei. Adquiriu o gosto pela leitura durante o segundo ano de faculdade, e não parara desde então.
Roma estava fria naquela manhã. Steve fechou o livro e decidiu que desceria até a cafeteria do hotel para tomar uma xícara de chá. Agasalhou-se e abriu a gaveta do criado-mudo, para guardar seu livro. Espantou-se ao ver que a gaveta não estava vazia. Um caderno azul, de capa dura, estava ali.
Atiçado pela curiosidade, ele pegou o caderno e o abriu. Não havia nada escrito na contracapa. Porém, a partir da primeira página, as páginas seguintes estavam cobertas de textos escritos em caneta azul. A caligrafia parecia feminina, e Steve teve certeza disso quando viu o nome Beatriz escrito na primeira linha. A primeira anotação não possuía data, mas o caderno estava conservado, apenas com as pontas gastas. Tudo estava escrito em italiano. Por sorte, seu italiano estava afiado.
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O Diário de Beatriz
Short StoryUm mochileiro está hospedado num hotel em Roma e encontra um diário misterioso.