Capítulo 1

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África do Sul, quem diria. Se alguma vez eu pensei estar aqui? Não, nem uma única vez. Estou completamente perdida. Não conheço uma única pessoa aqui.

- Samanta, é a sua vez de apresentar o seu trabalho. – Eu ouvi o professor falar, interrompendo os meus pensamentos. Fiquei ainda mais nervosa ao ouvir o meu nome, ia contar a minha história em frente a todos aqueles desconhecidos. Levantei-me e senti todos os olhares fixos em mim.

- O meu trabalho é sobre a minha mãe. – Disse. Ouvi risos na sala. – A minha mãe é a minha ídola. Porquê? Bem, para começar, se não fosse ela eu não estaria aqui, não é verdade? Se não fosse ela eu não tinha aprendido tudo o que aprendi até hoje. Desde andar, falar, ler, escrever… Até foi ela que me ensinou a pintar, a desenhar, a imaginar um futuro como os contos de fadas, de príncipes e princesas. Ela também me explicou que a vida não seria assim, o problema é que eu nunca acreditei. A única coisa que não aprendi foi a valorizá-la. Não me lembro de alguma vez lhe ter dito ‘amo-te mãe.’ Nunca reparei na falta que ela me fazia. Ela sofreu e eu tinha mais com que me preocupar. Agora acabou. Não tenho mais a minha mãe aqui. – Já sentia lágrimas escorrerem pela minha cara. Continuei. – Mãe, lembras-te quando me dizias que eu era doida? Essa doida desapareceu por não me lembrares mais disso. E quando eu te dizia quais eram os meus sonhos? Tu rias de mim e dizias que eu tinha que acordar para a realidade. Por isso peço-te, estejas onde estiveres, nunca deixes que me esqueça de quem eu mesma sou. – Consegui ver as expressões de pena e admiração na sala. Ninguém me conhecia. Ninguém sabia a minha história. No fundo, ninguém tinha que a saber, mas eu estava a precisar de fazer isto há tanto tempo.

- Muito bem Samanta, podes sentar-te. – O professor disse, com a sua voz trémula. – Quem mais falta apresentar? – A minha atenção foi-se desviando da aula conforme os meus pensamentos me consumiam.

*Flashback on*

- O que aconteceu? – Perguntei, enquanto caminhava lentamente até à sala de estar, e pousei a minha mochila no sofá mais próximo. Olhei à volta assustada e pude ver, pela primeira vez, quase toda a minha família reunida. Tinham a cara completamente encharcada e os olhos inchados e vermelhos. A maior parte segurava um pacote de lenços nas mãos, que tremiam. Mas a minha mãe não estava lá.

- Lamento imenso, Samanta. – Pude ouvir meu avô falar. Não ouvia sua voz desde os meus 5 anos. Aquela voz grossa com pronúncia inglesa, como eu tanto gostava.

- Importam-se de me dizer o que aconteceu?! – Eu perguntei horrorizada. Pude ver o meu avô hesitar na resposta. 

- A tua mãe faleceu. – Ele disse entre soluços e naquele momento tudo deixou de fazer sentido para mim. Não podia acreditar no que tinha acabado de ouvir. A minha mãe? Aquela mulher forte que eu tentava ver todos os dias por trás de todo o seu sofrimento? Não era possível. Conseguia sentir o meu coração bater cada vez mais forte e a minha respiração extremamente ofegante. O único movimento que consegui fazer foi correr para fora de casa. Não podia ter acontecido, não com ela.

*Flashback off*

Ouvi o toque para a saída, atirei o meu estojo para dentro da minha mala e saí da sala com lágrimas nos olhos. Procurei um espaço sem muito movimento e encostei-me a uma parede, escorregando por ela até ao chão. Rezando para que a minha mãe ainda aqui estivesse, comigo, como sempre.

How to save a lifeOnde histórias criam vida. Descubra agora