Capítulo 2

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Faz hoje um mês que tudo acabou. Para mim, para ela, para todos nós. Eu já devia estar à espera, mas e então? Acho que nunca ninguém está pronto para perder alguém. E sabem que mais? Tenho saudades de quando ela me avisava todas as manhãs, antes de eu ir para a escola, para  ter cuidado com a estrada ou para levar um casaco. Olhava para os meus pés enquanto caminhava. Sentia as lágrimas cair ao ritmo da música que ouvia. Enfrentava agora, mais uma vez, aquele portão enorme onde todos me olhavam como se eu fosse estranha, diferente. Talvez fosse mesmo. O ruído vindo da escola sobrepunha-se gradualmente à música que eu ouvia. Pessoas a gargalhar, rir, conversar. Eu perdi as pessoas com quem eu fazia essas coisas. Nunca mais ninguém conseguiu fazer-me sorrir de forma sincera. No fundo, tenho saudades não só da minha mãe, mas de tudo. Perdi a minha melhor amiga, aquela idiota que me desiludiu vezes sem conta mas que me fazia rir com todas as suas parvoíces. Perdi o meu melhor amigo. Ele era tão retardado. Tenho tantas saudades deles.
- Bom dia. – Uma rapariga de cabelos longos e claros falou.
- Olá. - Respondi hesitante.
- Eu sou da tua turma, lembras-te? Chamo-me Joanne. – Ela apresentou-se, esticando a sua mão.
- Eu sou a Samanta. – Correspondi ao seu cumprimento.
- Bem, vamos andando? A sala é no outro lado da escola, é melhor irmos. – Ela falou e eu segui-a, já que não sabia qual era a sala. Chegámos a uma parte da escola que eu não conhecia. Era escuro lá dentro, assustador até. Aquilo era tudo menos uma sala de aula.
- O que estamos aqui a fazer? – Eu perguntei.
- Ah, desculpa, esqueci-me de te dizer que te quero apresentar umas pessoas. – Sorriu. - Estes aqui são os meus amigos, Steven, Peter e Chad. E este é o meu namorado, Edward.
- Olá. – Eu respondi ainda assustada com aquele sítio.
- Então é esta a miúda? – Peter falou.
- Sim, é esta a rapariga de quem vos falei. – Joanne disse olhando para mim, deixando-me confusa.
- Gosto do teu cabelo. – Chad disse conforme passava as mãos no meu cabelo suave. Num movimento rápido puxou-o, o que me fez gritar. 
- Vais ficar bem caladinha, ouviste? – Steven ergueu-se para mim, tapando-me a boca, o que me fez deixar cair uma das muitas lágrimas que estavam para cair.
- Bem pessoal, façam o que quiserem, eu cá vou sentar-me. – Joanne disse, descontraída. Como podia ela estar a agir assim?
- És linda sabias? – Peter falou, passando sua mão pela minha cara, e eu tive nojo daquilo. – Tens namorado? Responde! – Ele gritou. 
- Não. – Eu respondi quase no mesmo tom. - Olhem, estou atrasada para a aula, será que me podem… - Eu ia falar até ser interrompida por uma chapada. 
- Aqui quem manda somos nós, sim? – Edward falou, agarrando com força o meu pescoço e encostou-me a uma parede, colocando-me com alguma dificuldade em respirar.
- Está na hora de irmos. – Chad falou, fazendo com que Edward me soltasse.
- Minha menina, se tu abres a boca sobre o que aconteceu aqui estás morta, entendido? – Edward disse com a sua voz grossa. Acenei afirmativamente com a cabeça, com o corpo todo a tremer. – Linda menina. Esperamos por ti amanhã. E não te esqueças que estás sozinha, a tua mamã já não está cá para te ajudar. – Ele disse e todos riram do seu comentário.
Saí a correr daquele sítio escuro e sombrio. Pude ouvi-los a rir de mim enquanto se afastavam. Escondendi o meu pescoço com os meus cabelos compridos, tentando disfarçar as marcas de dor que aquelas cinco pessoas, que não podiam ter aparecido em pior altura, tinham deixado pelo meu corpo, e continuei a andar em direção a mais uma aula, como se nada tivesse acontecido.

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