Capítulo 31

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http://www.youtube.com/watch?v=cGzKCTDGxbU

- Então Harry, como vai a tua mãe? - A minha tia perguntou durante mais um jantar que passávamos juntos.
- Ela está bem, obrigado. - Eu não conseguia tirar os meus olhos dele. Todas as expressões que ele fazia, todo o brilho dos seus olhos... Eu ia deixar de os ver dentro de poucos meses.
- Sam, querida, não comes? - Ela perguntou como se fosse uma pergunta normal.
- Não estou com muita fome. - Fiz um sorriso forçado e pousei os talheres. O Harry olhou-me, e a minha tia olhou o Harry para se certificar de que ele não desconfiava de todas estas pequenas mudanças nas minhas atitudes.
- Queres dormir cá hoje Harry? - Ela mudou de assunto antes que o Harry me fizesse alguma pergunta à qual eu não conseguisse responder. 
- Não quero incomodar. - Harry respondeu envergonhado, como de habitual. 
- Não incomodas nada rapaz, já és da casa. - Ela sorriu.
- Então por mim tudo bem, só tenho que ir a minha casa buscar as coisas para as aulas de amanhã. - Ele sorriu-me.
- Eu depois vou contigo para dizer olá à tua mãe. - Eu disse retribuindo o sorriso. O Harry e a minha tia continuavam a comer enquanto eu ficava apenas a olhar a janela, lutando para que as minhas lágrimas não caíssem. Assim que acabaram a refeição, eu e o Harry dirigimo-nos à sua casa, debaixo da chuva que caía. Parece que até as nuvens estavam tristes. Corremos pela rua como sempre fazíamos, e ele conseguiu arrancar-me um sorriso sincero como sempre. Pegou-me ao colo e beijou-me no meio daquele cenário cinematográfico. Olhei-o, e tudo o que vi foi o brilho dos seus olhos, no meio de toda aquela escuridão da noite. Passei a minha mão pela sua cara molhada e beijei-o novamente. O seu cabelo estava encharcado, tal como o meu. Acabamos por nos soltar e correr o resto do pouco caminho que faltava. A chuva tocava no chão com tanta força quanta a raiva que eu tinha. A raiva de ter que deixar tudo isto para trás, de ficar na incerteza de se ele vai esperar por mim até eu voltar, ou não. A imaginar momentos com ele, enquanto que podia passá-los realmente. Colocou a chave na fechadura e abriu-a, e assim que entrei na sua casa senti o seu calor acolhedor.
- Vocês estão todos molhados! - Anne disse chegando perto de nós. 
- Não te preocupes, depois trocamos de roupa. Vim só avisar que vou dormir a casa da Sam, ok? - Harry esperou um sim.
- Claro, mas leva uma roupa quente. Vai lá preparar a mochila enquanto eu preparo um chá quente. - Ela disse preparando o sofá com mantas para nos sentarmos.
- Ok, volto já. - Ele piscou-me o olho e subiu as escadas correndo. Sentei-me no sofá com cuidado para não molhar nada, e fiquei ali a ver o fogo da lareira a sorrir para mim. Como podia a chuva contrastar tanto com o fogo? Ela era triste, fria... E ele era alegre e quente. Anne entrou na sala com o chá já pronto. Uau, foi rápido.
- Tens aqui querida. - Ela disse dando-me a chávena e sentando-se ao meu lado.
- Obrigada, Anne. - Eu sorri.
- Sabes, tu tens feito o Harry muito feliz. Agradeço-te por isso. Nunca o deixaste... Fico muito agradecida pelo que fazes por ele. - Ela disse sorrindo. Acenei com a cabeça sorrindo forçadamente e bebi um gole de chá. Uma lágrima caiu do meu olho direito, por sorte a Anne não reparou devido ao facto de eu estar encharcada com a água da chuva.
- Estou pronto! - Ele disse com a sua mala às costas, descendo ainda as escadas. A sua camisola estava colada ao seu corpo bem definido. Mordi o lábio inferior e ele riu de mim. Chegou perto de mim. - Vamos? 
- Claro. - Eu respondi sorrindo. - Adeus Anne, obrigada por nos ter recebido nestas condições. - Eu agarrava a manga da minha camisola, envergonhada. 
- São sempre bem vindos! Até amanhã. - Ela disse abrindo a porta. Saímos e fomos em rumo a minha casa mais uma vez. Lá estava novamente a chuva fria a cair-me em cima. Porque será que depois da chuva sabe sempre bem o fogo, mas depois do fogo não nos sabe bem a chuva? Estranho... Talvez depois da tristeza saiba bem a felicidade, e depois da felicidade não saiba bem a tristeza. É... 
Depois de muitas horas em claro consegui finalmente adormecer a olhar para Harry, tal como acordei. Ao lado dele.
- Bom dia princesa. - Ele beijou o meu nariz carinhosamente.
- Bom dia... - Eu disse ainda com a minha voz sonolenta. 
- Samanta, vem cá abaixo depressa! - A minha tia gritou do rés-do-chão. Assustei-me e saltei da cama, tal como o Harry. Descemos as escadas a correr e ela estava a olhar para a capa do jornal daquele dia. - Vê isto... - Peguei no jornal e depois de os meus olhos procurarem o tal escândalo, encontrei-o. Mal podia acreditar.
- Rapariga é assassinada na escola Henry II. - Eu li em voz alta. Os meus olhos estavam arregalados. Procurei a página daquela notícia. - Não posso crer... Foi ela que me salvou! Não posso crer... Não... Isto não pode estar a acontecer! - Eu disse sem sequer ler o grande texto que estava escrito, apenas olhei para a grande fotografia da rapariga. Pousei o jornal na mesa central e aproximei-me da janela. Harry pegou no jornal e leu em voz alta.
- "Já não é a primeira rapariga a ser maltratada nesta escola." Fontes próximas assim o dizem. Pelo que parece, várias pessoas sofreram numa cave escura daquele estabelecimento. A directora não sabe explicar o procedido, mas assume que soube de casos graves de Bullying. "Perdemos bastantes alunos nesta escola devido ao Bullying, mas nunca soubemos quem eram os culpados. Nunca pensei chegar a isto." Janette disse sem conseguir conter as lágrimas. Foi o caso mais extremo de Bullying escolar até hoje, e como tal irá receber medidas extremas. - Ele fez uma pausa. - A escola será encerrada no final deste ano lectivo, e todos os alunos serão transferidos pelas outras escolas da cidade. Alguns dos culpados estão já presos, a menina Sinthy e os meninos Joe e Lewis. Outros dois deles estão ainda fugitivos. - Harry parou a sua leitura e eu estava perplexa.
- Então eram esses os verdadeiros nomes deles. - Eu disse raivosa. - Aposto que são a "Joanne", "Peter" e "Chad". E aposto que os fugitivos são os supostos "Edward" e "Steven". Os espertinhos do grupo. - Todos podiam ver a raiva nos meus olhos. Tinha os punhos fechados e as minhas unhas cravavam-se nas mãos de tanta era a força com que eu as fechava.
- Calma... - Harry chegou perto de mim e agarrou-me por trás. Beijou-me a cabeça e ficou ali perto de mim.
- Bem meninos, eu vou fazer o pequeno-almoço... - A minha tia dirigiu-se à cozinha.
- Tem calma... Tudo se vai resolver, há sempre uma solução. - Ele embalava-me nos seus braços e apoiava o seu queixo na minha cabeça. 
- Não vai haver solução, Harry! A culpa foi minha, eu não os denunciei imediatamente e agora a rapariga que me salvou morreu nas mãos deles! - Eu dizia chorando. - Ela salvou-me! Eu tinha a obrigação de a salvar também, a ela ou a qualquer outra pessoa! - Eu já soluçava com as próprias palavras que eu dizia. Aquilo custava dizer... 
- Shhhhhh... - Ele abraçou-me com mais força e continuava a embalar-me. Beijou-me o pescoço e ficámos a ver as ruas molhadas através da janela. Eu conseguia ver o nosso reflexo ali. Isso arrepiava-me. Agora que eu mais preciso, ele está lá. Mas e quando for ele a precisar? - Vá, vamos despachar-nos. - Ele disse puxando a minha mão, levando-me até ao meu quarto. Vesti qualquer coisa quente e ele vestiu a roupa que tinha trazido no dia anterior. Descemos prontos para comer algo e sair em direcção à escola. Lembrava-me do dia em que estava com um medo terrível de passar o portão da minha antiga escola. Eu tremia bastante. Ela teria passado pelo mesmo... Isso era tão injusto. 

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