Capítulo 43

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http://www.youtube.com/watch?v=MKNb1A-Hz0Q
4 de Maio
- Pai... - Eu disse caminhando até ele, ainda de pijama. - Eu preciso de falar contigo.
- Claro filha, diz. - Ele disse sem desviar os olhos da televisão, deitado no sofá. Peguei no comando e desliguei-a. Ele olhou-me confuso e mudou de posição. - Diz. 
- Olha... Eu preciso que antes de ouvires o que tenho para te dizer tenhas a mente completamente aberta para perceberes a minha situação. Ok? - Eu disse tremendo. O meu estômago doía de nervos.
- Claro... - Ele disse desconfiado. 
- Eu... - Hesitei. Eu tinha que lhe dizer, mas após tanto tempo sem conviver com ele era complicado para mim saber como ele ia reagir. - Pai... Eu estou grávida. - Eu disse desviando o olhar para o chão.
- Tu estás o quê? - Ele gritou levantando-se. As lágrimas escorreram pelos meus olhos. Tinha medo do que ele pudesse fazer. - Todos estes anos a proteger-te, para tu apareceres em minha casa e com 18 anos estares grávida? O que é que tu tens na cabeça? - Ele continuava a gritar, e eu continuava a encarar o chão. - Tu és uma criança! Não tens sequer casa própria, e já engravidas? - Ele estava a ser ridículo. - Espera... Quem é que foi o ***** com que se meteu contigo? 
- Ele não se meteu comigo. Eu fi-lo de livre vontade. Eu amo-o! E ele a mim! - Eu gritei. - Ou pelo menos amava... - Eu disse já mais baixo.
- Tu ama-lo? Ele ama-te? Sabes o quão ridículo isso é? Na tua idade eu nem pensava em ter namorada, quanto mais em... - Ele bufava. - Tu não sabes o que é o amor! Percebes? Não tinhas o direito de o fazer!
- Eu tenho o direito de fazer o que eu quiser. - Eu falava baixo. - Se não queres aceitar o teu neto, tudo bem! Podes até expulsar-me de casa, mas eu vou cuidar dele como tu nunca cuidaste de mim! - Corri até ao meu quarto e bati com a porta com toda a força que tinha. Tranquei-a e deslizei por ela, chorando desesperadamente. Ouvia estrondos na sala, o que me fazia soluçar ainda mais. Agarrava a minha barriga suavemente, como que protegendo a única coisa que me resta. Dirigi-me até à minha cama e continuei a chorar enquanto olhava lá para fora e via o sol escondido pelas nuvens.

(...)
Acordei ouvindo alguém bater à porta. Destranquei-a com medo do que o meu pai me pudesse fazer, ou apenas dizer. Espantada, assim que abri a porta vi-o a chorar, abrindo os seus braços lentamente. Sorri e abracei-o.
- Desculpa... - Ele dizia enquanto passava a sua mão pelo meu cabelo. 

(...)

Há quanto tempo sabes que estás... Hm... Grávida? - O meu pai perguntou enquanto preparava chocolate quente. 
- Há cerca de um mês. Antes do meu dia de anos eu já o sabia, só não estava preparada para contar a ninguém... - Ele sorriu atrapalhado.
- E o... Pai? - Ele estava constantemente a gaguejar.
- Está em Inglaterra. - Eu disse não querendo adiantar grande história.
- E isso quer dizer que, depois de a criança nascer, vais voltar para lá? - Ele perguntou.
- Não sei... Acho que não. Ele não sabe que vai ser pai... Afastámo-nos quando vim para cá. - Ele acenou com a cabeça afirmativamente, compreendendo. - Pai... O microondas já apitou. - Eu disse rindo.
- Ahm, pois, claro. - Ele disse tirando as canecas do microondas. - Bebi o chocolate quente e voltei ao meu quarto, mais feliz, descontraída. Peguei no meu diário e comecei a escrever tudo o que não podia escrever agora para o Harry.
"Querido diário, há quanto tempo, hum? Bem, devo dizer-te que vou escrever muito hoje. A minha vida deu mais uma reviravolta, das bem grandes. Há uns tempos estava eu a mudar-me para Inglaterra... Agora mudei-me para Portugal, de novo. Mas isso tu já sabes. Como é que eu reagi ao facto de ter que me despedir de todas aquelas pessoas importantes? Liam, Louis, Niall, Zayn, Hannah e Jess. São os meus melhores amigos. Harry. O meu ex-namorado. Não acabou assim, de repente. Falámos por cartas, e bem, tu sabes, não é fácil. Mas podia ter durado mais sabes? Acho que ele se esqueceu de mim. Que arranjou outra pessoa. No entanto, há outra coisa... Eu estou grávida. Estou feliz, muito mesmo. Vou dar tudo o que puder ao meu filho, ou filha. Ultimamente tenho sonhado que estou com uma menina e com o Harry no parque. Essa menina é a minha filha, e está a andar de baloiço enquanto o Harry a empurra. Só eu sei o que sinto naquele sonho. Ele repete-se desde que sei que estou grávida, mas antes de o saber já o tinha sonhado, o que torna isto um bocado estranho, no mínimo. O que interessa é que eu já tenho 18 anos e posso ir a Londres quando quiser. Não é que queira lá voltar agora para o ver a ele, se for é apenas para ver os meus amigos. O atrasado do meu boo bear, que foi tão importante nestes últimos tempos. Ele é uma grande, grande pessoa. A Hannah tem muita sorte em ter encontrado um rapaz assim! O Liam, de quem eu também tenho muitas saudades, que vai estar sempre guardado na minha memória como o menino que se apaixonou na passagem de ano, se bem que eu não posso falar muito. O Niall, esse comilão. Como eu sinto falta das pancadas dele por comida. E o Zayn então? Sempre convencido, não sei como Jess consegue estar uma hora seguida com ele. Devem ter que parar em frente a pelo menos um carro, a cada cinco minutos... Hannah, a minha tonta. Nunca me vou esquecer de quando ela caiu da cama assim que falámos no Louis, e ainda por cima fingiu que tinha sido um mosquito. Nem da cara dela quando admitiu que gostava dele. E a Jess, apaixonada desde a primeira vez que a vi. O Harry? Bem... Conheci-o no corredor da minha nova escola lá em Inglaterra, e estava perdida. Não sabia onde era o bar... Não sei como consegui confiar nele depois de me terem esfaqueado da última vez que tinha confiado em desconhecidos. Algo me chamou a atenção nele... Os olhos verdes, brilhantes... O cabelo ondulado, que vim a descobrir que era tão rebelde como o meu, pois só era ondulado quando lhe apetecia. Os seus lábios, que desde o primeiro instante quis beijar... O seu sorriso de lado, contagiante, assim como as suas gargalhadas... E vim a descobrir que era da minha turma. Lembro-me como se fosse ontem de quando ele me levou a ver as luzes de Natal. A cidade estava apenas iluminada por elas... E lembro-me do quanto estava nervosa. Lembro-me que ainda fiquei mais nervosa quando ele me emprestou o casaco dele. E o nosso primeiro beijo? Foi perfeito. Na passagem de ano, com o som do fogo de artifício por cima das nossas cabeças, ao lado de todos os nossos amigos. Hannah e Louis já bêbedos. Lembro-me de todos os momentos, todos os abraços, todas as noites frias que se tornaram quentes graças a ele... Há tanta coisa para dizer que eu até me perco. Também sinto saudades da minha tia, uma grande mulher, que abdicou de tudo para me dar a melhor vida possível. E conseguiu. Ela mudou-se de África do Sul para Inglaterra, por mim. Somente por mim. Eu devo-lhe tudo a ela, e a todos os que fizeram a minha felicidade ser possível, mesmo que por pouco tempo."

How to save a lifeOnde histórias criam vida. Descubra agora