Capítulo 47

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http://www.youtube.com/watch?v=kFfKb_WEkCE
6 de Agosto
Levantei-me com um sorriso na cara. Era hoje. Eu ia contar-lhe hoje aquilo que lhe escondi até agora. Caminhei até à casa de banho do meu quarto, deixando Nancy ainda a dormir. Como ela era preguiçosa! Lembrei-me de como me tinha sentido no dia anterior. Senti tudo de novo. O mesmo sorriso de antes. O mesmo calor de antes. O mesmo nervosismo. A mesma felicidade. Senti-o a ele, perto de mim.
*Flashback on*
- Harry, não te atrevas a molhar-me! Ah! - Eu disse fugindo dele, que tinha a mangueira na mão prestes a molhar-me. - Spike! Foge dele! - Eu disse feita retardada, falando para o cão. Ele virou a cabeça, como se fosse de propósito para o Harry gozar comigo.
- Vês, até o Spike está do meu lado! - Ele disse gargalhando. Deu-lhe uma festa e continuou a correr atrás de mim.
- Não! - Eu gritava pelo jardim da casa dele. Ele acabou por me conseguir molhar e após eu escorregar e cair na relva molhada, ele caiu em cima de mim. Os nossos olhares encontraram-se cortando a nossa respiração. Olhei para os seus lábios e mordi o meu lábio inferior. Senti os seus lábios tocarem finalmente nos meus como da primeira vez. Sorri como da primeira vez. Sentia borboletas no estômago como na primeira vez. Senti-me como da primeira vez. Não sabia descrever aquele beijo. Era mais que um beijo. Era um reencontro, um conforto, um apoio, um "eu ainda te amo". Foi um beijo longo, e definitivamente molhado. Separámos os nossos lábios por segundos e ficamos apenas explorando os nossos olhares, como tanto amávamos fazer. Acabámos por os juntar de novo e rebolámos pela relva molhada como dois adolescentes. Como os adolescentes que éramos há quatro anos atrás.
*Flashback off*
- Nancy? Bom dia! - Eu disse acordando-a com festinhas no seu cabelo. - Vamos comer? - Eu perguntei assim que ela acordou e disse "Mamã!" abraçando-me.
- Sim! - Ela disse esticando os braços para lhe pegar ao colo.
- Na, na. Estás a ficar mal habituada. - Eu disse pondo as mãos na cintura. - Vais levantar-te sozinha, já és grandinha. Ela levantou-se e caminhou até mim abraçando-se às minhas pernas. Quando íamos a descer as escadas ajudei-a, um degrau de cada vez. Finalmente chegámos à sala e a minha tia recebeu-a com os braços abertos e rodou-a no ar. 
- Bom dia princesinha! Ela fez-lhe cócegas até Nancy conseguir fugir dela, correndo pela sala enquanto deitava a língua de fora. Sentou-se à mesa como uma senhora, e começou a comer. Sentei-me à sua frente, começando também a comer.
- Hoje vamos almoçar fora, que achas? - Perguntei e ela sorriu.
- Sim!
Assim que acabámos de comer fomos dar uma volta. Quando finalmente ganhei coragem fui até a casa do Harry. Toquei à campainha do lado de fora do portão enquanto tremia de medo, agarrando a mão da pequena. Ela olhava à volta enquanto abraçava o peluche de Louis. Não o largava.
- Olá! - Ele disse abrindo a porta de sua casa e eu acenei, e ele abriu de seguida o portão. Foi aí que reparou na pequena. Foi amor à primeira vista. - Olá pequenina! Como te chamas? - Ele perguntou baixando-se, pondo-se à sua altura.
- Nancy. - Ela respondeu sorrindo.
- Oh, que nome tão bonito. És uma princesa sabias? - Ele perguntou dando-lhe um beijinho na bochecha e ela encolheu-se envergonhada, sorrindo. Eu não sabia se era o momento certo. Eu não sabia se eles estavam preparados para saber que eram pai e filha. Eu era a única ali que sabia. Não sabia era como contar.
- Olá princesa dois. - Ele olhou-me sorrindo e deu-me um beijo suave nos lábios.
- Olá príncipe um. - Eu respondi sorrindo, nervosa. 
- Entrem. - Ele deu-nos espaço para entrar, e assim o fizémos. 
- Nancy, porque não vais brincar um bocadinho com o teu peluche? - Eu perguntei não sabendo se era o mais acertado. 
- Está bem. - Ela disse sentando-se num grande tapete da sala, perto da janela. Sentámo-nos no sofá e ficámos calados durante alguns segundos.
- Quem é esta menina? - Ele perguntou sorrindo.
- É sobre isso que eu quero falar contigo, Harry. - Ele olhou para mim curioso. - Bem... Queres que seja directa? - Eu perguntei sentindo o meu estômago às voltas.
- Claro, fala. - Ele disse dando-me a mão.
- Aqui vai. Ela é tua filha. - Eu falei rápido e ele arregalou os olhos. - Eu sei que não é fácil lidar com isto. Eu sei que não é fácil contar-te que uma menina de três anos é tua filha, sendo que vai fazer quatro anos em Novembro... 7 de Novembro. - Ele não respondia. Estava completamente em choque. - Eu não sei o que estás a pensar agora mas por favor responde-me...
- Eu não fazia ideia... - Ele dizia gaguejando. - Porque não me falaste nisto antes? 
- Eu não sabia bem como o fazer... Desculpa.
- Nós temos uma filha... Sabes como isso é importante para mim? Ela é uma princesa, como tu!- Ele disse sorrindo, olhando para a forma como ela brincava, com os olhos a brilhar.
- E uma preguiçosa como tu! - Eu respondi gozando, deitando a língua de fora. Ele riu e levantou-se, pegou-me ao colo e rodou-me no ar, beijando-me por fim. Nancy viu e deitou a língua de fora, o que nos fez rir. 
- Ela é igual a nós os dois. O cabelo dela, os olhos... Como é que eu não suspeitei de nada? Eu senti algo... Mas não sabia que era isto... Estou tão feliz. Tu não tens ideia. Como conseguiste cuidar dela sozinha, durante este tempo todo? Não acredito que sou pai há três anos e nem sabia... Gostava tanto de ter estado ao teu lado quando ela nasceu... - Ele dizia já com os olhos em lágrimas.
- Desculpa... - Eu disse abraçando-o. - Nancy? - Eu chamei-a.
- Vais contar-lhe? - Ele sussurou ao meu ouvido, fazendo-me arrepiar.
- Sim. Ela tem que saber que tem um pai assim, perfeito como tu. - Eu disse sorrindo, e ele sorriu também, beijando o meu pescoço enquanto ela caminhava até nós com o ursinho na mão.
- Sim mamã? - Ela perguntou olhando para nós. Eu baixei-me pondo-me da sua altura e sussurei-lhe ao ouvido "este é o papá". Ela olhou para ele como eu sempre olhei. Com os olhos brilhantes. Mas espantada. Até que começou a sorrir como se tivesse um brinquedo novo. Foi até ele e esticou os braços para que ele lhe pegasse ao colo, e assim foi. Ele abraçou-a como se ela fosse a sua vida, olhando para mim com os olhos brilhantes chorando. Tinha corrido bem, muito bem até. Podíamos ser felizes agora, sem segredos. Todos. Juntos.

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