Um gato em cima do muro

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Era mais um dia comum para Lilian naquela pequena cidade do interior. Uma cidade onde todos se conheciam desde criança e cresciam juntos. O tipo mais chato e monótono de cidade, onde acontecimentos pequenos eram uma fofoca picante e onde os rolês depois da escola se constituíam em tomar sorvete na esquina.

Apesar de uma cidade eminentemente chata, Lilian amava aquele lugar. O cheiro, as pessoas, os lugares... Tudo naquela cidade a agradava, ela não se imaginava em um lugar diferente.

Naquela manhã, o céu estava em um tom de azul agradável, e o cheiro das plantas enchia a garota de felicidade.

Lilian era uma pessoa simples, estava na média, se falando de beleza, tinha olhos amarelos como os de um gato, e cabelos curtos e castanhos. Sua pele era bronzeada por passar tempo demais debaixo do sol jogando bola com os meninos, e apesar de ser baixa e magrela, não perdia para ninguém. Já nos estudos, Lilian sempre passava raspando, mas não se deixava abalar por isso e sempre tentava melhorar.

Em seu caminho para a escola, Lilian cumprimentou dona Neusa, como sempre fazia, que apesar de ser conhecida como azeda, sempre a cumprimentava de volta.

Uma vida simples.

A escola estava a poucos passos quando se deparou com um garoto brincando com um gato preto na estrada, apesar daquela cidade ser um lugar onde todos se conheciam, era a primeira vez que ela via aquele garoto.

Lilian logo percebeu pelas roupas dele que ele não era da cidade, nenhum garoto de lá usava aquele tipo de roupa.

"Um garoto da cidade grande?" se perguntou em pensamentos, mesmo que já soubesse a resposta.

De repente o bichano decidiu não querer mais brincar, então arranhou a mão do rapaz e saiu correndo, se escondendo entre as plantas e arbustos.

- Você está bem? - perguntou, apesar de não o conhecer.

Esse era um dos grandes defeitos de Lilian, apesar de carismática, era uma intrometida nata. A garota tinha pleno conhecimento de seus defeitos, mas não conseguia evitar se intrometer nos assuntos alheios.

Ele era um garoto bonito, alto, com uma pele de porcelana. Tinha o cabelo preto, como o de um corvo, que apesar de bagunçado era extremamente elegante. Seu rosto era fino e delicado e seus olhos eram grandes e castanhos. Mesmo tendo uma beleza inegável, seu rosto era inexpressivo, seus olhos eram duros como pedra. Que garoto assustador.

O jovem a ignorou, estava prestes a lamber seu machucado, mas a garota o parou.

- Não lamba! Não lamba! Não lamba! - Lilian segurou o pulso do garoto no intuito de impedi-lo, com sucesso.

Ele a encarou ainda inexpressivo.

- Você não pode lamber! Você não sabe onde aquele gato enfiou as unhas! - começou a tagarelar. - Imagina se você contrair uma doença. Acho que tenho um band-aid, espere um pouco.

Lilian começou a vasculhar sua bolsa a procura de um band-aid, ela vivia se machucando nos jogos de futebol, jogar com um bando de garotos não era fácil, por isso sempre carregava curativos consigo. Depois de um tempo vasculhando sua bolsa, ela finalmente achou o que procurava.

- Aqui! Espere um pouco... - Lilian colocou o band-aid no machucado dele meio desajeitada. A mão do garoto era grande e seus dedos longos e finos, era uma mão muito bonita para um garoto.

- Obrigado! - respondeu de forma gentil, apesar de parecer um garoto duro.

Ela ficou meio feliz e surpresa com aquilo, normalmente as pessoas não agradeciam a ela pelos seus intrometimentos.

- De nada - respondeu envergonhada -, mas tenha cuidado, os gatos daqui são bem selvagens! - voltou a tagarelar enquanto o garoto a escutava em silêncio, como um bom rapaz.

Lilian ouviu o sino da escola ecoar, ela estava atrasada, a primeira aula era de biologia com a Sandra, uma professora pavio curto, ela ia levar uma bronca feia.

- Desculpa, tenho que ir, tchau.

E Lilian se foi, deixando o garoto só.

***

Esse foi o primeiro capítulo, não esqueça de clicar na estrelinha e deixar um comentário!

O oposto do inversoOnde histórias criam vida. Descubra agora