Acordar na manhã seguinte me trouxe a mesma sensação que teria caso fosse esmagada por um rolo compressor. E o pior era que eu tinha dormido em cima do braço esquerdo, o machucado.
Uivei de dor, saltando de minha posição no colchão.
- Ai! - gritei.
Algo caiu no chão.
- Alessa! - Bianca gritou, correndo apressada para me encontrar - que susto!
Bia manteve a mão aberta sobre o coração, me encarando com um sorriso forçado. Só por causa disso, já soube que algo havia acontecido.
- O que foi? - perguntei, ignorando a dor latente.
- Ah, nada! - falou depressa, gesticulando com as mãos - é só que está na hora de você se arrumar para o curso!
E, depois disso, minhas suspeitas se confirmaram: havia algo de errado.
×××
Chegar à Acadmeia sozinha não era ruim. Na verdade, eu até preferia não ter que lidar com a presença de outras pessoas. Segurar meu braço machucado por cima do vestido de mangas longas se tornava menos humilhante quando não visto.
- Chagamos. - o motorista carrancudo anunciou, querendo me despachar logo.
Saltei da limusine e enterrei no rosto um sorriso pequeno, que disfarçava todos os pensamentos emaranhados. De repente, alguns dos fatos da noite anterior (digamos que a maioria deles envolvia Ônix) não largava minha mente.
- Alessa! - ouvi o grito agudo assim que o carro atrás de mim arrancou - Onde você esteve?
Virei-me apenas para dar de cara com um Leo de sobrancelhas arqueadas e braços cruzados. Ele batia o pé, impaciente. Aprendi que, apesar de sermos amigos há apenas dois dias, com ele, isso equivalia a dois anos. Uma parte de meu sorriso se tornou verdadeira.
- Eu... fiquei doente. - resmunguei, tentando soar o mais convincente possível.
- Sei. - respondeu - tanto que Ônix D'Gasperi também faltou no mesmo dia. Coincidência, não é?
Fiquei sem fala. Outra coisa que aprendera, era que Leo sabia de tudo sobre todos, como um noticiário 24h.
- Aham. - ele continuou, sorrindo - cheia de segredinhos, não é? Isso torna a relação mais interessante.
Corei loucamente.
- Não! Não tem nada...
- Oi! - outra voz me interrompeu, aparecendo ao nosso lado - Oi, Leo!
- Oi, There. - meu amigo respondeu.
Pelo jeito, ele e Thereza haviam se tornado amigos durante minha curta ausência. Peculiar.
Olhei em volta, tentando encontrar uma maneira de desviar o foco de suas perguntas.
- Então... - Thereza continuou, piscando os olhos - hoje, convenci minha mãe a deixar meus amigos irem lá em casa. Vocês podem ir?
Sua cara de cachorro caído da mudança era bem esperta. Ela sabia como convencer alguém. Eu teria ressaltado isso mentalmente, caso um alarme de perigo não tivesse começado a ressoar dentro de mim.
- Claro! - Leo respondeu de imediato - e você, Ale?
- Hã... hã... - comecei a gaguejar. Chegava uma hora, em que o estoque de mentiras entrava em falta.
- Hã? - pressionaram.
Prendi a respiração.
- Minha tia não vai deixar. Hoje teremos um compromisso. - falei.
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Porcelana - A Sociedade Secreta (Completo)
Fantasy☆Sociedade Porcelana - Livro 1☆ "Pareciam bonecos em uma estante. Seus rostos, tão lindos, não tinham emoção alguma. Suas peles, tão brancas e sem marcas, pareciam porcelana. Seus olhos, tão multicoloridos, pareciam pingos de cor em uma tela vazia...