Subo as escadas pra adentrar à casa, logo atrás de Nina. Nina mandou uma mensagem para Margot avisando que matou aula, aparentemente sem temer que meu tio e Tori nos matem por isso. Talvez Margot não conte a eles.
Ainda assim, ela chegou antes de nós.
— Como foi a caminhada — Margot diz.Está batendo chantilly dentro de um pote verde. Seu cabelo está sujo de branco.
— Boa. — Nina responde.Ela tem mais facilidade em falar com Margot e eu invejo a mulher por isso.
— Estou vendo. — Ela sorri. — Eu estou fazendo chantilly. Comprei sorvete, porque hoje é a noite do sorvete! — Ela exclama.
— O que é a noite do sorvete? — Franzo o cenho.
— Todas as terças-feiras, fazemos a noite do sorvete. Compramos sorvete e coisa pra pôr no sorvete. Assistimos filmes e jogamos alguns jogos. — Margot informa. — E não tinha chantilly no mercado.
— Isso parece divertido. — Digo com um sorriso.
— E é. Mas hoje eu não fico. A Abby tem uma apresentação na escola hoje à noite. Um trabalho sobre a natureza ou algo assim. — Ela dá os ombros. — Trabalhamos duro naquilo. — Margot diz. — Subam, já comprei comida.
Nina sobe para o seu quarto e eu, sendo extremamente inconveniente, não hesito em entrar atrás dela.
— Posso entrar? — Arqueio as sobrancelhas enquanto ela retira seu tênis. Ela assente.
As paredes são em branco e cinza, e uma delas é coberta por páginas velhas de livros, com frases marcadas por um forte marca-texto amarelo. Há uma parede inteira com prateleiras embutidas, recheadas de livros do chão ao teto.Na mesa de madeira escura que fica no canto, tem alguns cadernos empilhados no canto. Seu notebook está fechado, na ponta, de frente à cadeira. Não há um ponto de cor sequer, senão ela.
— Qual sua... cor favorita? — Pergunto, aproximando-me da parede coberta por páginas velhas de livros.
Reconheco trechos de Brontë, Woolf, Dickens, Hemingway e Austen em algumas das páginas que dou uma olhada por cima, mas há uma grande parte que não me é conhecido ou simplesmente reconhecido.
— Não tenho. — Ela murmura. Seus olhos verdes estão arregalados, focados em mim.
— A minha é verde. — Digo, desviando meu olhar até ela. — As coisas mais bonitas são verdes.Ela arqueia as sobrancelhas como quem diz "como o quê?".
— Bem, como as folhas das árvores, como campos vastos em grama, como as pedras de esmeralda, como... como seus olhos. — Murmuro despretensiosamente. Nina cora.
— Fofo. — Ela murmura e solta uma risada baixa.
— Um dom natural. — Brinco e ela sorri. — Nunca pensou em dar vida ao lugar onde você passa o dia todo? — Puxo a cadeira da mesa e sento-me nela ao contrário de como geralmente se usa.Ponho meus braços cruzados na parte superior das costas da cadeira e apoio meu queixo sobre os mesmos.
Ela nega e dá os ombros. Se levanta e caminha até a mesa. Nina se abaixa calmamente e pega um gato cinza que estava ali. Ele se aninha em seus braços e ela faz carinho nele com um sorriso no rosto.
— Você só fica aqui e lê? — Arqueio as sobrancelhas.
— Aham. — Ela se senta em sua cama novamente.
— Quer me ajudar a arrumar minhas coisas? Não quero te fazer de escrava. Sabe, só pra você sair do seu quarto, mesmo que seja para outro. — Ela nega com a cabeça depois de hesitar. — Você pode ficar apenas sentada na cama enquanto eu desempacoto. — Ela ainda nega. — Posso trazer pra cá e desempacotar aqui, depois levo pra lá. — Ela ainda nega e eu suspiro. — Gosta de ficar sozinha e estou sendo inconveniente.Ela dá os ombros, não querendo responder, mas eu acredito que sim. Mesmo assim, não quero deixá-la sozinha.
— Você gosta de bolo, não é? Eu sei fazer. — Ela assente freneticamente.
Eu não sei fazer.
— Eu vou trocar de roupa e aí você me ajuda a fazer? — Digo, com um sorriso pela sua empolgação.
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O Silêncio Entre Nós
RomansaHISTÓRIA EM EDIÇÃO | LEIA A INTRODUÇÃO Após a morte do pai de Nina Davis, ela desenvolve uma fobia social que a impossibilita de se comunicar com as pessoas de maneira direta, além de uma depressão severa que a mantém à margem do mundo, sempre tranc...