Capítulo 23

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x Laura x

Tudo está estranho. Primeiro Hugo e Sofia desaparecem após a simples missão que designei a eles. Pensei que seria uma excelente ideia. Estávamos naquela fase do ano em que meu pior humor fica a tona, por isso eu precisava mandar Hugo para longe.

Ele é um garoto especial. Vai precisar trabalhar muito para liderar a comunidade, seu coração bom seria um perigo neste mundo cheio de pessoas más intencionadas. E por me importar tanto com ele, sempre o afasto para que a imagem de boa líder que ele possuí de mim permaneça.

Eu preciso ser um bom exemplo para que ele siga. Justa, dura, mas no fundo, aquela que sempre faz o que é melhor para todos.

Claro, eu podia ter mandado ele a qualquer outro lugar. Mas, eu realmente precisava derrubar aquela instalação. Quando Tereza me contou do avanço ilegal de Meridiem eu não podia deixar para lá. Eles não conhecem limites se não impormos.

A única que poderia fazer isso sem um grande alarde era Sofia. A garota, sempre desconfiada, possuí muito talento. Por isso designei Hugo para acompanha-la. Sei que ela jamais iria se eu tivesse escolhido outra pessoa para escolta-la. Eles sem dúvida serão um casal poderoso.

Mas, eles não voltaram. E os amigos deles partiram sem avisar nada a ninguém. Mari realmente está fazendo falta. Mesmo estando na primavera, Civitas ainda precisa da habilidade da garota.

Como uma boa líder, meu papel é manter a calma e resolver o que está no meu alcance. Por isso estou usando a linha de comunicação entre as comunidades para falar com Tereza. Essa é basicamente a única forma de conversar com outros a longas distâncias, e se esse não fosse um assunto sério, eu com certeza evitaria contatar a líder de Veteris.

Tranco a porta do escritório e aciono o mecanismo. Espero pacientemente meu chamado ser atendido.

Depois de alguns minutos vejo o rosto tão conhecido em minha tela. Como sempre, sinto um aperto no coração e luto para manter a postura.

— Laura, querida! Quando tempo. A que devo a honra deste contanto tão inesperado? — inicia o diálogo com aquele tom tão irritante de afeto fingido. Ela é insuportável.

— Como falei há semanas, tenho um objeto frágil para ser descartado. Se bem me lembro, isso é uma função da sua comunidade. Até hoje estou com esse problema não solucionado. — respondo evitando demostrar a irritação interna.

— Ah, querida, estou tão ocupada! Você sabe, são tantas coisas a se fazer. — diz mais uma vez não dando importância a situação.

— Você não está entendendo! Quem encontrou esse objeto possuí os meios de entender o que é. Ela descobriu ser algo perigoso. Potencialmente destrutivo. — digo estupidamente tentando convencê-la a fazer o seu trabalho.

— Do que especificamente estamos falando? — aparentemente consegui capturar seu interesse.

— Uma bomba. O nome é escuridão. Isso precisa ser devidamente descartado. Infelizmente só você pode fazer isso. — digo a contragosto. Ainda não compreendo como Tereza terminou como líder de Veteris.

— Certo. Vou mandar meus homens buscarem hoje mesmo. — fala pela primeira vez. aparentando entender a gravidade da situação.

— Acho bom. — falou já encerrando a conversa.

— Espere querida! Como você está? Sei como essa época do ano é difícil para você. Mas, como sempre digo, é hora de superar, certo?! – ela volta a falar com o tom condescendente.

— Não vamos fazer isso. Simplesmente não me faça perder a paciência! – aviso deixando finalmente toda a minha irritação transparecer.

— Mas querida...

— Não! Não sou sua querida. Não sou sua filha. Nós somos apenas líderes que precisam deixar os sentimentos pessoais de lado para lidar com que é melhor para nossas comunidades. Há vinte anos te falo isso, e não vou mudar de ideia! Você deixou de ser minha mãe quando partiu meu coração. — estou cansada desse eterno falso arrependimento. Eu cometi erros irreparáveis, mas isso não quer dizer que vou perdoar o que foi feito anos atrás.

— Certo. — ouço-a dizer quando interrompo a comunicação.

Odeio conversar com minha mãe. Ela sempre me traz lembranças horríveis. Todos os dias, travo uma luta constante para esquecer. Para apenas não pensar no que perdi. No que foi tomado de mim.

Eu preciso manter o foco no que foi planejado. Por isso tenho de encontrar esses jovens que simplesmente não voltaram para casa. Principalmente Hugo. Ele é essencial em tudo que está por vir.

De qualquer forma, após anos sendo cuidadosa, sinto que é hora de tomar uma decisão efetiva.

É hora de tomar tudo daquele que me tirou a única coisa que realmente importava.

Não existe nada mais perigoso do que um coração partido que não possuí motivos para se curar.

Acho bom o líder de Meridiem tomar cuidado. Se ele fez algo contra aqueles jovens que eu enviei para uma missão justa, com o objetivo de evitar um conflito maior, não vou ignorar meus instintos. Desta vez não terei piedade em fazer justiça.    

xxx

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