"Me dê seu coração que eu lhe darei minha alma."

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  Mamãe dizia que quando era pequena tudo ao seu redor era mágico, seus olhos de criança enxergavam coisas que os adultos jamais conseguiriam. Certa vez, quando tinha seus oito anos, por ser muito solitária, ela encontrou uma lagarta e cuidou dela como se fosse um bebê até completar sua fase adulta, ou seja, se transformar numa linda borboleta. E ela jura por sua vida que o pequeno inseto voltara uns dias depois e agradecera com um "obrigado". Talvez fosse apenas em sua cabeça infantil, é claro. E ela sempre teve razão, a infância é algo mágico em si, uma chácara qualquer na qual eu ia quando pequeno, se transformava numa floresta sombria, ou numa maravilhosa floresta colorida. E, depois que crescemos, as coisas tendem a escurecer, nossos olhos não enxergam mais aquele bonito em uma simples folha, e a vida começa a se mostrar como realmente é. Ela se esconde numa fantasia de contos de fadas até nós entrarmos na fase adulta, ou talvez quando passamos pela famosa puberdade, a vida já se mostra um pouquinho melhor. É assim que é, não damos valor quando somos pequenos, e depois que crescemos a única coisa que queremos é voltar no tempo. Afinal, uma criança não precisa se preocupar com nada, a não ser com o que vai brincar amanhã, como vai ser o primeiro dia na escola ou no dentista, mas nada como dinheiro, grandes responsabilidades, relações familiares e amigos. E claro, a pessoa com quem você pretende passar o resto da vida.

  Eu estava repleto de devaneios, enquanto papai me dava um sermão dizendo que, um garoto, ou melhor, um homem de 25 anos não poderia estar sozinho, sem alguém para cuidar e amar, e, principalmente vivendo sob o teto dos pais. O que eu poderia fazer? Não fora por falta de tentar, obviamente, mas faz semanas, ou talvez meses que eu estou à procura de um emprego, e de alguém que eu possa "cuidar e amar". Mas a vida não usa mais aquela roupa rosa de fadinha da Disney, e sim um grande casaco preto cheio de "você não nasceu pra ter sucesso na vida, aceite".

— Papai, você sabe que eu estou procurando... - falei, emburrado por não conseguir nada na minha vida pacata e por estar recebendo sermões na fase adulta.

— Eu sei que está, Louis. Mas como sua mãe diz, "a vida ganha cores e borboletas quando a gente encontra alguém para amar".

— Falando assim, parece que vocês são principes de contos de fadas. Qual é, eu não preciso de ninguém, só um emprego com uma boa grana.

  Quando eu tinha uns nove anos, eu pensava que quando ficasse maior de idade, encontraria o emprego dos sonhos e seria super rico. Por isso eu digo, ser criança é a melhor coisa.

— Você não sabe o que está falando. No fim vai ver que os mais velhos sempre têm razão.

— Ótimo, senhor sabedoria, mas agora eu tenho que ir procurar "alguém para amar". - sorri irônico, fazendo aspas no ar. Eu apenas iria na casa de um amigo, era domingo, trabalho fica pra segunda.

— Se você quiser amar o Harry, a escolha é sua, você sabe que sua mãe e eu adoramos aquele homem.

— Papai!!! Primeiro, Harry e eu somos melhores amigos desde criança, e segundo, eu não o "escolheria" para amar. Simplesmente aconteceria, né?

  Papai e mamãe vivem me dizendo que eles eram melhores amigos na infância e só se deram conta de que se amavam no final da adolescência. Mas eles não se tocam que, Harry e eu jamais teríamos algo. Não porque a gente não goste do mesmo sexo, afinal somos gays, mas sim porque não temos nada a ver um com o outro. A amizade é verdadeira, eu o amo como amigo, o que claramente mamãe e papai não conseguem ver. E tem também um grande fato: Harry nunca lava o cabelo, é oleoso demais pro meu gosto.

— Está bem, filho, vá à procura do seu grande futuro marido.

  Revirei os olhos, ignorando-o e depois sai de casa. Ficar lá só me faria ouvir coisas na qual já estou acostumado.

The summertime and butterflies - Larry Stylinson Onde histórias criam vida. Descubra agora