Gostava de se sentar, todas as tardes ao cair do Sol, na velha cadeira de balanço que ringia ao sentir o peso do seu corpo exausto. Postava-se ali a espiar o quadro oferecido pela janela de tintura gasta, e fiel na missão de lhe mostrar o lado de fora, o lado de lá.
Um livro na mão. Uma xícara de café bem forte sobre a mesinha. Um paiol de pensamentos rabugentos, inquirindo dela respostas para perguntas das quais sempre tentava escapulir. Mas as perguntas dos próprios pensamentos são as mais persistentes, ela sabia. Não poderia fugir por tanto tempo.
Entre um gole de café e um verso lido, invariavelmente seu olhar fitava, pela janela, a estrada que parecia não ter fim. Várias vezes caminhou naquela estrada sem precisão de levantar da cadeira velha e balançante. Deixou-se caminhar em pensamento, na tola esperança de encontrar, entre árvores bonitas e arbustos sem graça, o que há muito habitava canto amoroso da sua memória.
Das saudades ela não tinha medo. Das saudades sentia gratidão, pelo que passou e foi bom. Por que do feio e ruim não guardava retrato. E tinha vezes de querer outra vez o que outrora foi bom, quem outrora se deixou ficar por um pedaço de tempo e na memória, onde os retratos tem a pintura mais bonita, não se vão nunca.
Da solidão ela também não tinha medo e nem tentava se esquivar feito um gato escapulindo da água. Por que a solidão, ela pensava, nunca vinha pra se demorar muito tempo. A solidão é bicho arredio e exagerado no querer, não gosta de gente alegre que não se importa se em algum pedaço da estrada sem fim, é preciso caminhar sem companhia se não da própria sombra.
Voltou seu olhar para os versos do livro pousado sobre as pernas, bebeu um gole de café e desejou que o amanhã lhe oferecesse mais retratos bonitos pra guardar na memória, pros dias em que vigiasse, pela janela, o caminho sem fim.