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Só faltava uma hora para mim sair daquela sala de aula. Estar em meio aquelas mentes que só sabiam alimentar seus egos, me deixava entediado. Era sempre do mesmo jeito, independente de qual época eu estivesse. Quase todas eram parecidas no geral, a luxuria era sempre o tema recorrente das fantasias que estavam ali, com apenas poucas exceções. Na sala tinha 40 alunos, sendo 22 mulheres e 18 homens. Logo seria apenas 17 homens, pois Jonas um aluno magro, sempre quieto, que senta na segunda fileira, 4 cadeiras atrás da minha, irá cometer suicídio no final de semana. Ele já tinha planejado tudo. Desde o vídeo desabafando todas as suas dores, até algumas cartas para sua única amiga, a carta seria encontrada posteriormente em sua casa. E por fim a arma que ele usara para tirar sua vida e com ela suas dores. As  motivações que um indivíduo poderia ter para chegar a essa conclusão, ainda eram​ inconclusivas, para mim, esse desequilíbrio mental era um campo vasto para se estudar.  Desde que sondei a mente dele pela primeira vez, já tinha visto uma pequena ideia de suicídio sendo forma em sua mente, como a única solução de seus problemas, que tanto atormentava sua existência.  Por ter sido há 3 meses atrás, eu ignorei, como faço com todas as outras mentes. Por não me importar, achar tedioso e muito irritantes. Mas agora que novamente ouvi seus pensamentos, por ser algo inevitável, vi que a decisão já foi tomada. Eu sabia de uma forma de reverte essa decisão em sua mente. Mas.... Talvez eu pudesse fazer algo para salva aquela alma. Mas..... porque eu o ajudaria? Era pergunta que eu estava me fazendo agora. Provavelmente, Bartolomeu o ajudaria.  Eu já tinha visto centena de milhares de pessoas morrerem, durante meus muitos anos de existência, e  contribuído com muitas mortes também. E gora estou pensando em salvar aquela vida, que não me importa nem um pouco. Mas será que não me importo mesmo? Talvez eu esteja ficando mole, parecido com Bartolomeu. O sino toca e ouço uma euforia conjunta em pensamentos, ante que eu os bloqueem  novamente. Pego meu livro de religião e coloco dentro de minha bolsa e dou uma rápida olhada para Jonas, enquanto pegou uma alça da bolsa. Nesse momento eu sinto um pouco de pena dessa pobre criatura frágil que está rodeada de tantas dores, e que só vê apenas uma solução para elas, a morte de seu corpo. Eu tenho tempo para decidir se irei fazer algo por ele.
Por hora eu tenho algo mais importante para fazer agora.  Coloco minha bolsa no ombro e espero alguns segundo até as três pessoas a minha frente saírem, e vou bem devagar até sair da classe. Desço as escada e vou até o bloco h, que fica abaixo do meu, e após 1 minuto vejo ela sair mais uma vez. Pela oitava vez estou aqui, olhando aquele olhos negros, aquela pele quase clara, aqueles cabelos pretos e lisos. Aquele corpo, que meu corpo insiste em desejar cada vez mais. Sei que ela pensa em mim todos os dias, e em algumas vezes ela quis vir até mim, me confrontar, saber se eu também a desejo. O que está me atormentando é que minha mente insiste em lembrar dela quase sempre. Mas cada vez que eu vou vela, o meu controle sobre ela vai perdendo e efeito. Na primeira vez que eu a vi, eu senti que meu corpo tinha desejado ela naquele momento, mas eu poderia lidar com aquilo. Foi o que eu pensei, e só descobri meu erro dois meses depois quando novamente eu não resisti e fui ver ela de novo. Mas dessa vez ao contrário da primeira vez, deixei que ela me olhasse, e quando nosso olho se encontraram, eu senti o desejo dela sobre mim. Senti cada parte do seu corpo me desejando, aquilo me fez queima por dentro, não consegui tirar os olhos dela por alguns segundos. E agora estou aqui mais uma vez, olhando-a. Ela está conversando com sua amiga perto da porta de entrada de sua classe, alguns outros alunos passam e as cumprimentam. Não leio a mente delas, prefiro dar privacidade. Após quase 3 minutos elas se viram e vem na direção que eu estou, que é saída. Após 5 passos ela me ver parado ali,  olhando-a, e seus olhos mais uma vez se fixam nos meus.

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