Eu sempre gostei de sentar ao ar livre e observar as estrelas cintilantes que enfeitavam o céu, elas brilhavam como se a cada piscar mandassem uma mensagem a nós, meros humanos incapazes de entender o que aquelas grandiosas bolas de fogo diziam. E as vezes brilhavam tão intensamente que pareciam prontas para explodirem em cima de nós. Antes eu não tinha motivo pra as temer, junto de você eu era invencível, a prova de fogo, imune a qualquer perigo do mundo. Mas agora elas são tão ameaçadoras quanto os sorrisos forçados que você exibia quando estava contrariada com algo. E eu fico imaginando o que elas estão dizendo; provavelmente, que eu sou um idiota por ter feito aquilo com você, e acredite em mim, eu não sei por que fiz.
Os prazeres momentâneos que ela me proporcionava não se comparava ao caos de emoções que eu sentia quando estava com você. Meu coração disparava quando você sorria pra mim causando ruguinhas em seus olhos azuis, meu corpo esquentava cada vez que sentia a maciez da sua pele, meu peito explodia cada vez que você me beijava, eu me sentia vivo toda vez que você me desafiava com palavras ou olhares. Por que eu sabia que eu podia te provar, podia te mostrar que eu era o melhor pra você. Mas eu não era. Eu joguei fora tudo que construímos, todas as promessas feitas em dias ensolarados, todos os sorrisos trocados entre beijos quentes, todas as vezes que admitimos estar completamente apaixonados, por uma aventura sem recompensas, que só trouxe destruição.
Eu sei que você nunca vai me perdoar, vi isso em seus olhos quando você me encarou naquele estacionamento sujo, marcado pelos erros de varios adolescentes, vi isso quando você virou o rosto e se negou a me escutar. E naquele momento, entre a fração de segundo que nos encaramos pela última vez antes de você me dar as costas, eu soube que algo em mim se rompeu. Se rompeu junto com nossos sonhos de noites de inverno, nossas promessas de dias verão, nossos falhos esforços pra sermos eternos e até mesmo a doce ilusão de que eu era perfeito pra você. Eu não era, nunca fui, ao contrário de você, Amélia, que não podia ser mais perfeita pra mim.
E em seus olhos eu vi as lágrimas que você mal lutava pra conter, além da dor e da decepção, eles refletiram seu coração quebrado e estilhaçaram o meu.
Eu peguei um de meus cigarros e o acendi, traguei me lembrando dos seus olhos azuis, hipnotizados pela fumaça sempre que eu o fazia, nunca entendi direito o que te encantava tanto no meu vício a ponto de te viciar também, e você se recusava a me explicar, apenas sorria tirava o cigarro de mim e tentava me imitar. A memória fez um nó se formar em minha garganta, doeu lembrar.
A minha culpa me ajudava a evitar que lembranças de nós ficassem voltando a minha mente, mas as lembranças não podiam ser apagadas, eu não podia te apagar. Então fechei os olhos, e pela primeira vez desde que tudo aconteceu, eu não evitei pensar em você. Deixei minha mente livre e cenas de nós dois surgiam de todos os lados me fazendo chorar pela saudade que você deixou, pelo amor que eu destruí.
As estrelas continuavam sussurrando acima de mim, eu permiti me embalar pelos seus sussurros na esperança que durante o sono elas falassem o que eu pudesse entender, na esperança que durante o sono elas cuidassem de você, e pedissem desculpas por mim. Por eu ter sido esse garoto patético, e pela garota quebrada que eu te tornei.
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Whisper Of The Stars
Short StoryUm conto da madrugada. Sobre sussuros de estrelas, dois adolescentes apaixonados e um erro capaz de quebrar corações.