The Long Black Veil

Long Black Veil

O cadafalso era alto, e a eternidade se desenhava à minha frente com todo o peso da escuridão e do desconhecido a cada degrau que eu subia. Peso aumentado pelos olhares da multidão, olhares divididos entre pena, sensação de justiça e um prazer macabro pelo espetáculo que veriam. A morte aprecia ser o centro das atenções.

Mas não era a proximidade da morte que me desesperava, nem o medo do fim, desse nada que se solidificava a cada segundo. Era a ausência dela que me machucava mais que tudo, e meus olhos percorriam a multidão com ansiedade, buscando seu rosto.

Eu teria gritado seu nome em voz alta, se não fosse justamente para protegê-la que acabei aqui. E a ele também. Porque os dois eram importantes em minha vida. Meu erro foi deixar que isso acontecesse ao mesmo tempo. Mas agora já não tinha importância. Esse segredo morreria comigo e eles poderiam enfim ser felizes!

E então, como um alento aos últimos segundos de minha vida, eu a encontrei, parada a alguma distância, apoiada no braço dele. Ela se mantinha em uma postura adequada à estranha que deveria ter sido para mim, mas no breve instante em que nossos olhos se cruzaram havia tanta dor em seu olhar, que entendi que ela estava além das lágrimas.

E ele.

Seus olhos se mantinham fixos em meu rosto, o grito de dor e a pergunta tantas vezes repetida mais uma vez espelhada naquele olhar que me era tão caro. Se houvesse algo além deste mundo, quem sabe um dia eu poderia explicar.

Alguém se aproximou e colocou uma venda em meus olhos, e em seguida senti o peso da corda que era apertada em torno de meu pescoço.

Meu último pensamento foi como eu magoara tanto alguém a quem queria apenas fazer feliz. E silenciosamente, murmurei seu nome, a última palavra que pronunciei.

Lembro-me de ter ouvido o barulho do alçapão que caía e a multidão ofegando, mas então estava olhando para a cena de outro ângulo, sem entender como viera parar ali, se supostamente eu deveria estar balançando na ponta daquela corda.

Então, morrer era assim? Nada de luzes, anjos, trombetas, essas coisas? Creio que estava meio desapontado. Sempre me senti assim com coisas muito fáceis.

Deixei esse pensamento de lado e segui os dois pela rua.

Ele mantinha a cabeça baixa, e de vez em quando olhava novamente para trás, para onde meu corpo - como era estranho dizer isso - estava, e onde ficaria até que tivessem certeza de que eu havia mesmo morrido. As lágrimas em seus olhos doeram em mim com uma intensidade que não sentira até então... era como se cada uma delas fosse uma marca gravada a fogo em minha pele!

Me perguntei como ele reagiria se soubesse que o crime que me levara à morte não foi aquele pelo qual me condenaram. Foi algo muito, muito pior. E talvez a confusão e os erros que culminaram com aquela execução tenham sido o castigo que recebi por trair a confiança de meu irmão e melhor amigo.

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O cemitério era um local de silêncio e paz. Apenas alguns pássaros cantando e o barulho macio de uma fonte que corria em algum lugar próximo.

Mas eu me sentia angustiado enquanto ouvia as palavras do Ministro e sabiam que eram ditas sobre mim. Ele pedia que Deus acolhesse minha alma enquanto em pensamentos tinha certeza que eu estava no inferno. Que hipócrita! Me aproximei dele e sem saber como, pois ainda não entendia bem o que estava acontecendo, fixei meu pensamento na folha onde estava o seu discurso. O vento se levantou em uma rajada inesperada, e a folha voou em uma altura que era impossível alcançar.

Ri divertido vendo a cara do Ministro. E então ele se aproximou, tentando cobrir o momento constrangedor do sacerdote.

- Eu perdi meu melhor amigo, meu irmão... Sei que nada vai trazê-lo de volta, mas não importa o que pensem. Eu sei que ele era inocente, e um dia ainda espero limpar o seu nome. Onde você estiver, Steve, esta é minha promessa! - sua voz falhou nas últimas palavras, embargada por uma emoção que eu sabia ser o sentimento mais sincero entre todos ali, e novamente o remorso apertou meu peito com mão de ferro.