Capítulo 04

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Eu agachei na piscina interna e lavei meu rosto. Segundo o bilhete, Dylan precisava fazer compras no continente, então eu precisaria esperá-lo.

Aproveitei o tempo livre para observar sua casa, se é que podia chamar assim. Não haviam equipamentos elétricos naquele lugar úmido, mas haviam muitos baús, alguns deles com moedas de cobre e taças. Pensei brincando que todas essas tralhas fossem resgates de navios, mas pela ferrugem e pelas cracas e algas secas, pareciam ser mesmo. A única fonte de luz parecia ser a piscina, que refletia a luz do exterior. Como era pôr do sol ela agora brilhava em tons cor-de-rosa. Era muito bonito.

Algo que não reparei antes, era o quanto o sofá-cama era novo. Diferente das velharias, ele parecia nunca ter sido usado. Será que Dylan trocou de cama recentemente? Senão, onde ele dormia? Quando acordei ele já havia partido.

Um borbulhar no meu estômago me fez correr para fora. Dessa vez quase não tive tempo de chegar no mar, antes de avessar o conteúdo do meu estômago.

Droga. A cerveja e a maconha da festa realmente não me fizeram bem. Só podia esperar que Dylan chegasse logo, de preferência com remédios e...

Hum, pensando bem, como raios ele foi para o continente? A prancha do Alisson continuava ancorada nas pedras, e eu com certeza não avistei nenhum barco. Dylan era muito musculoso, mas será possível que tenha atravessado o oceano à nado? Minha cidade mal podia ser vista, daquela distância.

Faminto e sentindo um enjôo incomum, eu sequei a boca e deitei nas confortáveis pedras negras do exterior da caverna. Alisson devia estar à beira de um infarto, por eu ter sumido. Assim que Dylan aparecesse, pediria que me levasse pra casa.

Eu ouvi um estalo molhado e virei o rosto, me surpreendendo ao ver Dylan. Ele estava pelado de novo, e carregando uma bolsa de neoprene por cima do ombro.

"De onde você veio?" Perguntei, enjoado demais para me levantar. "Você trouxe comida, espero."

Dylan deixou a sacola ao meu lado e inclinou-se sobre mim, dando um selinho nos meus lábios. Ok, ele era fofo, mas pensei que os caras virgens se apaixonassem depois da transa, não o contrário.

"Tem frutas e refrigerante, aí. E uns remédios para enjôo. Logo volto com o jantar, meu predestinado."

Eu apenas concordei. Estava fraco demais para reclamar, e começava a me acostumar com as insanidades do Dylan.

De repente percebi algo estranho, e sentei rapidamente, virando-me para ele.

"Espera, como sabia que eu estava enjoado?"

Mas tudo o que ouvi foi o som da água reverberando contra as pedras. Dylan já havia desaparecido.

****

Eu devia algumas explicações ao Alisson. Ok, muitas, muitas explicações.

Assim que entrei em casa, Alisson veio correndo me abraçar.

"Gabe, onde você se meteu? Liguei pro pessoal, ninguém sabia. Eu quase chamei a polícia!"

Eu baixei o rosto, e entreguei a ele sua preciosa prancha, sem saber por onde começar. Alisson me protegia demais desde que fui expulso aos chutes de casa, e agora ele tentava ser pai e irmão ao mesmo tempo. Meu irmão era quinze anos mais velho que eu, e vivia a vida de lazer e glória dos surfistas profissionais. Eu não queria ser um fardo para ele.

Além do mais, como começar a explicar as últimas 24 horas? Eu quase me afoguei, fui resgatado por um cara bonito e louco que me deflorou durante horas, e depois ele apareceu totalmente nu com um arpão em uma mão e vários peixes frescos na outra. Para completar ele assou um delicioso jantar que eu devorei como um morto de fome, embora o enjôo alfinetasse meu estômago. No fim, Dylan chamou uma lancha da guarda costeira para me trazer de volta e eu voltei ouvindo xingões sobre a marinha não ser um serviço de táxi.

"Desculpa, Alis." Falei, com a culpa pesando o meu peito. "É complicado."

Alisson cruzou os braços e bufou em desaprovação, mas depois sorriu.

"Na sua idade eu também tinha meus segredinhos. Fico feliz que esteja fazendo amigos." Ele afagou meus cabelos. "Agora vai tomar um banho, você está cheirando a peixe."

Eu assenti, e fui para o chuveiro. A água quente aliviou a dor no corpo, ainda dormente. Alisson era o melhor irmão do mundo. Ele era baixo como eu, e nós tínhamos o mesmo cabelo castanho claro, embora o dele fosse longo, e preso por um rabo-de cavalo. Enquanto meus olhos eram azuis os dele eram pretos como o da mamãe, mas no geral éramos muito parecidos. Nas fotos antigas do Alisson ele era igualzinho ao que sou hoje.

Exceto que Alisson é hétero. Mesmo divorciado, ele é o orgulho da família. Meu pai até fez um quarto para expor as medalhas e troféus, mas Alisson parou de mandá-las quando a mamãe morreu, e passou a manter suas conquistas para si mesmo.

Eu não possuía talento algum, e mesmo que possuísse não importaria nada. Ter beijado um colega nos fundos da casa me tornou o pior ser humano da terra, ponto final.

Assim que terminei e me vestir, trancado no meu quarto, eu procurei o celular. Ainda bem que o deixei em casa. Podia ser um celular à prova d'água, mas o que eu faria se ele caísse no mar?

Não esperava encontrar mensagens, mas haviam cinco. As primeiras eram o Michel, o anexo sempre era uma foto dele com uma cenoura na boca, e o recado não esquece, você tem até domingo!.

Eu estremeci. Puta merda, a aposta dos dados. Eu precisava me fotografar chupando um cara ou não seria aceito naquele grupinho de idiotas.

Assim que pensei em candidatos, lógico que Dylan veio à mente. Minha cueca esticou para a frente, gostando da minha imaginação fértil.

Não, nem pensar. Dylan era lindo como um deus, e fodia de arrancar meus sentidos, mas ele era louco da cabeça. Aceito ter sido desvirginado por ele, mas nosso relacionamento terminaria ali.

Enquanto tentava esfriar os pensamentos, verifiquei a última mensagem, e meu pau saltou pra cima todo de novo.

Era um... nude. O primeiro nude que já recebi, e a virilha depilada e dourada de sol indicava que só podia ser uma pessoa.

Eu sentei na cama, pensando em algum desaforo para responder, mas minha mão já se movia para dentro da cueca. Aquele pau gostoso apontava para a câmera, tão grande que mal acreditava que recebi dentro de mim, horas antes. Uma pérola de pré-gozo cintilava no orifício. Ah, eu queria demais saber o gosto...

O celular vibrou de repente e eu gritei com o susto, quase derrubando ele no chão. Uma mensagem do mesmo número que enviou o nude.

Chegou bem em casa, meu predestinado?

Eu abri a boca em indignação. Eu queria xingar ele. Eu deveria mandá-lo à merda, pelo bem da minha dignidade. Mas meus dedos pareciam ter vida própria naquela noite.

Obrigado pela tarde maravilhosa, eu respondi.

Ai, meu Deus. Me diz que não estava me apaixonando pelo louco da ilha.

"Gabe?" Alisson bateu na minha porta. "Você não vem jantar?"

Eu guardei o pau de volta nas calças, apressadamente. "Já jantei."

"Desça, mesmo assim. Tem um cara vestindo apenas uma sunga te procurando, um tal de Dylan."

O Amante Do Tritão (AMOSTRA)Onde histórias criam vida. Descubra agora